Friday, November 30, 2012

Porque eu gosto das discussões com frango a passarinho



De duas, uma: ou eu tenho tido muita sorte com os filmes franceses que tenho assistido; ou o cinema francês é mesmo de grande qualidade e bom gosto. Provavelmente um pouco dos dois. Mas suspeito que mais do segundo do que do primeiro.

O que mais me interessa no cinema francês é o elemento surpresa e inesperado no desenrolar da história. Em comparação com os filmes hollywoodianos, os franceses nos dão menos garantias do que vai acontecer no final, e assim temos a oportunidade de viver a trama de maneira mais emocionante e intrigante. Uma revira-volta é sempre possível; um final menos feliz também. Além disso, os personagens dos enredos franceses são geralmente menos óbvios, e suas complexidades são muitas vezes reveladas de maneira criativa: algo que pode ir do dramático ao cômico, passando algumas vezes pelo poético.

Um filme que acabo de assistir e que eu certamente recomendo é “Le Prénom”. O filme é recheado de discussões interessantíssimas entre cinco amigos: dois casais e um homem solteiro. Como o filme se passa quase por completo dentro da sala de estar de um dos casais, e com um foco especial nos diálogos, a impressão que se tem é que você está assistindo a uma peça de teatro. Na verdade, eu não me surpreenderia em descobrir que o filme seja uma adaptação do teatro.

A partir da primeira discussão do filme, que gira em torno da escolha do nome do bebê que um dos casais está esperando, muitas outras discussões se desenrolam. Tais discussões vão mostrando as complexidades de cada um dos personagens, e os pontos de conflitos no (inicialmente) harmonioso grupo de amigos. A tensão das discussões vai despindo os personagens, confrontando as suas mazelas e frustrações pessoais. Vai trazendo verdades à tona. E suscitando, por muitas vezes, um clima de caos. Clima esse que vai tornando os personagens mais honestos, diretos, crus e verdadeiros.

Tudo isso me fez lembrar de uma outra inflamada discussão entre amigos; uma discussão que eu tive com dois grandes e velhos amigos no verão passado. O clima era de cordialidade e de férias; a cena paradisíaca: sentados à beira de uma praia quase deserta em Ilha Grande. Tudo isso regado a cerveja, caipirinha, e frango a passarinho. Até que, num momento, um ponto de conflito e desentendimento se manifestou. E a discussão que se seguiu foi no mínimo exaltada. Na descrição de um dos dois amigos presentes, eu estava alteradíssimo, comendo frango a passarinho e soltando espuma pela boca de tanta raiva. Descrição que provavelmente está bem próxima do que realmente aconteceu.

Durante a discussão, tudo parecia um pesadelo. Hoje eu dou até risada, e me lembro com certo saudosismo e carinho daqueles momentos exaltados. Ouso até dizer que eu gostaria de ter mais discussões como aquela. Tais discussões podem ser mais reveladoras e reconciliadoras do que dezenas de jantares harmoniosos. Por isso mesmo é que eu gosto das “discussões com frango a passarinho”.

30 de novembro de 2012

Eduardo Costa



Fonte Figura: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeestmx5BEqkyyqTJPq9X7xjagGgn2HNymP94ZY-IeJyySESRqWaZay3Di6zsBsM2iTFT6m8vmpkDfyQMGobx44ZcDQzcxslYKRnYdfNCC3-sHNQnBtjKZUraMzJBKbbP0VehU/s1600/frango+a+passarinho.jpg


Monday, November 26, 2012

Eu eu fui me amargurando

Eu estou convencido que os anos fazem bem para muitas pessoas. Apesar dos temidos cabelos brancos e dos pés de galinha, a maioria das pessoas que eu conheço tem se tornado mais interessante e atraente no seu rumo aos 30 e início de jornada ao 40, do que no auge dos seus 20 anos. Afinal, além das marcas de expressão, o tempo também pode nos presentear com  um pouco mais de equilíbrio, sobriedade, auto-conhecimento, segurança, coragem.

Entretanto, contudo, todavia.... o tempo trás outras coisas na bagagem; muitas delas menos criticadas que o envelhecimento, e menos divulgadas que o amadurecimento. O tempo também traz uma certa amargura, por exemplo. Ou seja lá como você gosta de chamá-la. Seletividade, alguns diriam. Bom gosto, outros diriam. Eu continuo com a palavra "amargura".

Mas eu uso aqui amargura num sentido bem específico: a amargura de quando a gente vai perdendo a capacidade de apreciar certas coisas devido às experiências acumuladas nas rodovias da vida, às frustrações, aos desgostos, às mentiras que nos contaram, aos abusos que sofremos, ao tempo que nos roubaram, às nossas antigas verdades que deixamos para trás.

Mas para deixar as coisas menos abstratas, deixe-me dar um exemplo. No auge dos meus 19 anos eu ia na biblioteca da Unesp emprestar os videos do grupo gospel Diante do Trono para assistir em casa. Eu gostava tanto. Assistia e ficava todo emocionado; era quase "arrebatado". Mas os anos foram se passando, e a minha identificação com a visão ministerial do Diante do Trono foi ficando menor. Um certo preconceito foi crescendo em meu peito e um distanciamento foi sendo criado. Eu fui me amargurando em relação a grupos "a la Diante do Trono"; já não havia mais identificação. Grupo Hill Song? Ouvi falar já na minha época de amarguramento, e nunca tive muito interesse de saber mais sobre grupo. O máximo que fiz foi ter contato com algumas músicas deles pelo fato delas serem utilizadas com tanta frequência nas igrejas evangélicas ultimamente. 

É claro que eu não tenho obrigação de gostar do Diante do Trono, assim como eu não tenho obrigação de gostar de futebol ou saber sambar (se bem que eu gostaria de saber sambar). A amargura começa quando a gente se fecha para um certo grupo (ou uma certa parcela da sociedade, uma certa atividade, um certo pensamento, etc.) a um certo ponto que perdemos a capacidade de extrair qualquer coisa que seja de bom daquilo em relação a que somos amargos.  É como se porteiras fossem criadas no nosso cérebro e coração; porteiras que em certo sentido nos mantem separados de qualquer influência, seja ela positiva ou negativa, do nosso alvo de amargura. Perdemos o interesse, criamos preconceitos, nos tornamos indiferentes, demasiadamente críticos. 

O facebook é um ótimo campo de estudo para a análise da amargura alheia. Sobra amargura enrustida. Amargura religiosa, amargura política, amargura militante, amargura burguesa, amargura branca, amargura negra, amargura hétero, amargura gay, amargura machista, amargura feminista, amargura conservadora, amargura liberal, amargura cultural, amargura racial... amargura, amargura... e um pouco mais de amargura.

A amargura não nos faz necessariamente pessoas amargas. Ela (só) nos fecha um pouco do mundo de possibilidades que temos; ou melhor: que teríamos. Elas nos cega um pouco, e nos ensurdece um pouco também. Nos limita, mas na maioria das vezes não nos mata.

Mas enfim. 
E você, também está se amargurando?  

26 de novembro de 2012

Eduardo Costa

Fonte figura: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDCrSuP7CRQA5wYjSC8suoFz_YIUTvP1X7FRPIL2c08mmWj13FalRmnedW5I1ottlp1qvgTWGyYrKf4Dj3SBAS05fP214ENwyxTXISFCNW5_hT5vn37Q3DA-ONTJq6j3SXOvkRvw/s1600/amargura.jpg


Saturday, November 24, 2012

The question "If I were myself"

Sometimes I make some exercises of abstraction. For example, when I meet someone interesting and I know the person is going to check my facebook profile, I ask myself: "if I were someone else (or that person, in particular) checking out my facebook profile, what would I think?". Or, when I am writing a text, I try to look at it and think "if someone would read it, what would his/her feelings or reactions be?"; I am probably doing it now, when writing this text.

Some of these exercises can be rather foolish, as the first example I gave. While others might be useful; trying to put yourself in the shoes of the reader and anticipate the reactions can help you to shape your text, for example. But most of them come down to the same question at one point or another: "what is the impression I am making here?";  or alternatively: "would I make a good impression or not?". 

Making good impressions feels good for our ego, and most of us like it. And, this is becoming something increasingly central and problematic in our increasingly virtual world. 

But making good impressions is not something that we can only do on other people. We can try to make good impressions on ourselves as well; and we probably do it a lot more than we imagine. We do it when we refuse to visit the darkest places of our souls; we do it when we protect ourselves from our most frightening pains. We do it when we refuse to accept our humanity and our lack of character. We do it when we think "I feel that there are things inside me that is better not to find out", as a friend of mine told me once. We do it when we refuse to answer the question "if I were myself" - a question that goes in the other direction than the question "if I were someone else" from the beginning of the text.

"If I were myself" is an invitation to a world of freedom; an invitation to the unknown; an invitation to reconciliation with our best, and with our worst; an invitation to get to know our joy and our pain; an invitation to experience the world,  with its joy and pain. It is NOT the "cheap freedom" of acting according to our instincts with no consideration about ourselves or others.  It is a lot deeper and more meaningful than that kind of "freedom".

But I will let someone else speak further about this question in my place. Someone that can talk about human feelings with enormous talent and sensibility:  Clarice Lispector (1920-1977), an internationally acclaimed  Brazilian writer, and one of my favorite ones. The title of the text is "Se eu fosse eu" ("If I were myself"), and I would recommend you to read it in Portuguese. But for those who do not speak Portuguese, I have made an attempt to translate it (after looking, with no success, for an official translation on the internet). My translated text is of course far from reflecting the quality of the original text; but you can, at least, get some of the message.

Se eu fosse eu / If I were myself




Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR. 

When I do not know where I put an important document / piece of paper and the search turns out to be useless, I ask myself: if I were myself and if I had to put an important document somewhere, what place would I choose? Sometimes it works. But many times I become so impressed with the sentence “if I were myself”, that the search for the document becomes secondary, and I start thinking... or better said: I start feeling.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. 

And I do not feel well. Try it yourself: if you were yourself, how would you be and what would you do? It feels embarrassing yet at the beginning: the lie in which we accommodated ourselves has just been removed from the place where it had accommodated itself. However, I have already read biographies of people that have suddenly become themselves and have changed their lives completely.

Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. 

I think if I were really myself, my friends would not greet me in the streets, because even my appearance would have changed? How? I don't know.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro. 

Half of the things I would do if I were myself, I cannot tell. I think, for example, that for a certain reason I would end up locked in a jail. If I were myself I would give everything I own away and I would trust the future to the future.

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. 

“If I were myself” seems to represent our biggest danger in life, it seems the new entrance to the unknown.

No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais

However, I have the feeling that, after the first so-called delirious of the party that it would be, we would finally be able to experience the world. And I know, we would finally experience the pain of the world in its plenitude. And our own pain, the one we learn how not to feel. But, now and then, we would also be taken by an ecstasies of pure and genuine joy that I can barely imagine. I think that I am already guessing why I found myself smiling and also felt a kind of "pudeur"/modesty that you feel when you are before what is extremely large.


Text of Clarice Lispector (free translation by Eduardo Costa)



Figure from: http://mood.com.br/revista/wp-content/uploads/2012/01/clarice.jpg

Thursday, November 22, 2012

People like you and me




Last night I saw vampires
Many I saw
Hiding in the darkness
feeding, drinking, sucking

Young, old, black and white
Strong, weak, calm and excited
Shy, confident, silent and noisy

Like solitary wolves
they made their way
alone and hungry
hunting, killing, leaving

This morning, however, I saw no vampires
Had they died? Had they fled?
No, no.. they were still there

Perhaps just swimming
at the other side of the pool
or just driving me on my way to school
Perhaps shaving themselves for a another day of work
or just waiting until it is midday
Perhaps reading Shakespeare or Dostoevsky
or just getting dressed to meet the Queen

Perhaps awake, perhaps sleeping
But all making their way though the sunny day

Are they normal people pretending being vampires in the night?
Or perhaps vampires pretending being people during the day?
No, no...... no, no
Just people being people, just people
People like you, people like me


22 November 2012

Eduardo 

Figure from: http://www.psdtop.com/blog/wp-content/images/010_Day-and-Night/day-and-night.jpg

Friday, November 16, 2012

Do NOT mix things up; or DO!


Friday morning, not as early as I would have wanted, and still a visit to bring to the city hall. And then I can "start" my day. But before that, maybe some time for something else. Something I have not done for a long time: give birth to thoughts going on in my mind.



One fact: people change; you change; I have changed. One attitude:  NEVER support your beliefs / decisions on what on what people believe / would decide for you. 

Isn't the word "NEVER" a bit too strong here? Of course. I just wanna make a point. And I am convinced that I do have a point. And you, of course, are completely free to disagree. Otherwise, I would not have a point. Simple like that.

But let's go straight to the point. Do you know those people that speak so convincingly and boldly about their ideas? Some of them are not completely sure of what they are talking about, and they are basically trying to make them so loud that, in the end, they will sleep in peace because they convinced themselves. Others just speak like that because they could not do differently. They are convinced of what they are talking about. And, when you reach such a level of conviction is really hard not to spread your word.

In either situation, the chance is high that these people will change their minds and speeches at some point of their life. Something that is completely normal. Because these brave/convincing people also change.

There is no problem in being certain about something. There is no problem in telling people what you are convinced of. There is no problem in changing your mind. All of this is part of our human experience; humans that live in a world in complete/continuous change.

But what is really important here is: DO NOT BUY WHAT PEOPLE SAY, JUST BECAUSE THEY ARE SAYING IT. And that is something that took me a long time to realize.

Your decisions are, in the end, your decisions. So make sure they are yours and that you thought them over and over again. And, of course, you are probably the one who is going to answer for them in the future.  The same holds for what you believe in. Actually, it holds for most of things in life.

Why am I saying all of this? Am I trying to convince you of something? Maybe.
But answering (only) the first answer: I have seen so many friends of mine changing their speeches. And I have changed my speeches as well. So, in the end, very little remains from the long talks when we tried to convince each other of our own ideas. Of course, the value of the talks stands on its own as a point in history. But that is it. 

Everyone is in search. Let people be, and you be. And DO NOT mix the things up. Or DO. In the end, it is up to you. 




Friday, 16 November 2012

Eduardo / Du


* Figure from: http://www.twainquotes.com/speechGraphic.gif

Saturday, September 29, 2012

Sessão mimimi góspel



Não sei se é a idade avançando ou o resultado de fórmulas testadas que não deram muito certo, mas o fato é que eu tenho a leve desconfiança que estou ficando chato e impaciente. Estou cada vez mais adeptos dos meus mimimi's, que na verdade são quase sempre uma reação aos mimimi's alheios, que provavelmente se originou em outro mimimi, e assim segue a vida. Ou melhor, assim segue o Facebook. Porque eu acho que a origem dos nossos “discursos pós-pós-modernos” (leia-se, posts no facebook) vem da perplexidade diante das aparentes incoerências do discurso alheio. E claro, ao fazermos o nosso discurso mimimi só estamos alimentando o círculo.

Mas o show tem que continuar. Então, sem mais delongas e rodeios, faço aqui o meu mimimi góspel. 

Eu não sei o que é pior: crente bitolado ou crente politizado. Se tivesse que escolher um lado para correr (de ou para), acho que eu ia morrer de indecisão, ou aceitar o meu destino e esperar o abate.

Acho que minha indignação interna vem mesmo do fato que o que mais vejo dos dois lados são discursos rasos. Um sentimento de ser melhor do que os outros; e algo que tenho horror é gente que acha que atingiu um estágio de maturidade / raciocínio / pensamento / prática acima dos outros. Corrijo: eu tenho horror aos momentos de superioridade das pessoas; porque na verdade todos nós temos o nosso momento de “eu tenho uma visão melhor sobre isso ou aquilo”, em nossa santa incoerência. E talvez esse post seja um exemplo disso.

Mas seguindo. Como atacar os crentes bitolados é bater em cachorro morto (considerando as pessoas que chegarão a ler esse mimimi), dedico essa minha indignação matinal aos amados crentes politizados. Mas como eu sou um sujeito pacífico e “politicamente correto” (com todos os arrepios que o termo às vezes me desperta), eu começo o meu breve “ataque mimimi” com um “chamado à conversão”: se levem menos a sério, amados.

Oferecido o caminho da reconciliação, eis o meu grito. Gente politizada por si só já é chato; crente religiosamente politizado então, que os santos me perdoem. Embora eu concorde com alguns dos discursos desses amados, toda essa ladaínha revolucionário facebookiana já deu né. Com exceção daqueles que tem se voltado para algumas questões ambientais e outros poucos com alguns bons momentos de discurso crítico coerente em relação a politica do nosso pais, de todo o resto se aproveita mesmo é muito pouco.

Mas como minha indignação já está acabando, depois de escrever esses poucos parágrafos, minha inspiração para alimentar esse mimimi também vai se extinguindo. Então, vou encerrando o meu post por aqui, sem ao menos conseguir definir o que “crente politizado” significa. Mas me considero desculpado: se crente já está difícil de definir por si só, imagine um crente politizado de discurso raso.

Recado dado, coração tranquilo.

Sunday, February 19, 2012


Our sunny days


Every night in my dreams I see you

I see you Cinthia trying to get back in the boat

I see you César holding your red pillow

I see you Leander asking about The Blue Lagoon

And maybe, sometimes I can see you all crystal clear


And then there's a fire starting in my heart

hotter than thousand shirtless shape boys

Out of the game, out of the tent,

Out of the island, out of the country

who would have known how this would taste


I heard... that you are back to your lives

No taxi boats, no 3km track, no blood in my mouth

But near, far, wherever you are

Remember Hillary Clinton and the time of our lives

and don't forget, I beg, the face in the dust


We'll stay forever this way

Said songs we sang and they're memories made

Never mind... any noise in the roof

Or if you are in a taxi with no money

You are safe in my heart


Now, bound by the surprise of our sunny days

Throw your soul through every open door

because I wish nothing but the best for you, too!

Friday, January 06, 2012

Você no novo


Você passa mal quando bebe cerveja
tem bom gosto e aprecia boa música
em meio a amigos interessantes
me dá vontade de ser mais adulto

Você que eu não sei o que quer
eu que você não sabe o que quero
Você que some e aparece
e que tem minha grande admiração

Você com disciplina e organização
se diz inocente e inexperiente
você que sabe o que quer
confunde meu instinto e razão

Você de olhos cativantes
que trazem doçura e malícia
você com tantas complicações
e nem sei por que tanto me cativas

Você em meio a mistérios
que não sei de onde vem, pra onde vai
você de olhar convidativo
fonte de minha pequena indecisão

Você de quem sei quase nada
que me surpreende e confunde
você que é cheio de atenções
tem também a minha simpatia

(Du - 07 de Janeiro de 2012)

Friday, November 04, 2011



Além do arco-íris




Ok! Deve ser hora de acordar. Desde que o meu despertador quebrou, eu tenho acordado na base do “feeling”. Quando meu corpo acha que já é hora de acordar, meus olhos se abrem e então o meu dia começa. Tudo com um bom ajuste de a que horas eu vou dormir e meu dia acaba começando cedo o suficiente. Então é hora de ir para a universidade e comer os meus cereais favoritos – sabor chocolate – com leite. Hum, meus cereais de chocolate. Alguns dias vou dormir pensando no quão bom será saboreá-los no outro dia de amanhã.


Surpreendentemente, mesmo com o inverno já as portas, o dia está lindo e agradável. Não está quente, não está frio. As folhas secas do outono contrastando com o céu azul e os raios de sol tornam o cenário lindo. Um bom tempo também para as pessoas que estão trabalhando consertando o asfalto da avenida que eu cruzo todos os dias para ir a universidade.


No mundo virtual – leia-se facebook – tudo normal. Todo mundo gritando por um pouco de atenção. E eu também. Nada que nos assuste. Já estamos acostumando a jogar esse jogo. Só tomar cuidado para não levar um bolada na testa, e está tudo certo. Ninguém gravemente machucado.


Das notícias do mundo real transmitidas pelo mundo virtual é que me vem um pouco de sobriedade. Um pai atropelou o filho de 4 anos enquanto estacionava o caminhão. O Lula está com cancer e já estão pensando nas consequências disso para as eleições do ano que vem. Muito se fala sobre a crise européia. Uma menina de 3 anos consegue sobreviver por dois dias comendo restos da geladeira enquanto tenta acordar a mãe que morrera de forma repentina. Uma mulher escapa de um homem que provavelmente matou o seu namorado.


Está bem. Talvez deva começar de novo e pensar nos meus cereais de chocolate. Esquecer de toda a injustiça e sofrimento que tentamos nos convencer que não nos dizem respeito. Mas mesmo que eu tente bastante, vez ou outra me vem novamente um momento de sobriedade. E então percebo que tem algo muito errado com tudo isso a nossa volta. Ou melhor, um mistério nisso tudo a nossa volta. E mesmo assim vamos vivendo como míopes tateando no escuro.


Deve ser por causa disso que algumas pessoas cantam a respeito daquele lugar “além do arco-íris”. Não somente porque elas querem escapar daqui. Mas porque, por algum motivo, elas sabem que existe algo além que não conseguimos enxergar.


Somewhere over the rainbow
Blue birds fly
And the dreams that you dream of
Dreams really do come true


Algum lugar além do arco-íris

Pássaros azuis voam

e os sonhos que você sonha

realmente se tornam realidade


(Somewhere Over The Rainbow

Israel Kamakawiwo'ole)




Saturday, September 10, 2011

No dia em que eu morrer



No dia em que eu morrer

Quero que vocês se lembrem de mim

Não de quem vocês gostariam que eu fosse

Tampouco daquele que gostariam que habitasse as suas lembranças

Lembrem-se de mim, e de mim, somente


No dia em que eu morrer

Não lhes peço que digam coisas bonitas

Tampouco lhes proíbido de fazê-lo, se quiserem

Mas falem de tal maneira que se ali eu estivesse

também me reconheceria, e com vocês concordaria


No dia em que eu morrer

Lembrem-se de minha compaixão para com os fracos

e do meu coração que sempre permaneceu quente

Lembrem-se do meu medo dos fortes

e das minhas mãos frias, suadas e trêmulas


No dia em que eu morrer

Lembrem-se das minhas inquietações com o mundo

Lembrem-se das minhas dúvidas e indecisões

Lembrem-se do meu conservadorismo na minha falta de liberalismo

Lembrem-se do meu liberalismo na minha falta de conservadorismo


No dia em queu eu morrer

Não se esqueçam da minhas esquistisses

Do meu sonambolismo, da minha guludice

do meu cuidado para não engordar

e de todas as milhas que eu corri


No dia eu que eu morrer

Falem sobre o que mim mais lhes irritava

e do que tiveram que fazer para lidar com isso

Contem dos seus sacrifícios em favor de nossa amizade

ou do eu tenha feito ou significado


No dia em que eu morrer

Não me neguem a minha humanidade

mas lhe digam adeus e a deixem descansar em paz

E assim o meu melhor, tão arraigado no meu pior

haverá de habitar as suas mentes e corações



Du, Leuven – 10 de setembro de 2011

Ao voltar do funeral de uma amiga


Saturday, August 20, 2011


Do meu interesse pela Segunda Guerra Mundial


Quando criança, entre muitas coisas que me aterrorizavam, um dos meus pesadelos era pensar que quando eu completasse 18 anos eu seria convocado para servir ao exército. Não que eu tivesse muitas razões para temer ser convocado, vindo de uma pequena cidade como Jacutinga – onde todos são dispensados. E não que tivesse ouvido muitas histórias para acreditar que minha vida se tornaria um inferno se eu de fato fosse convocado. Mas eu simplesmente preferia acreditar que seria melhor que o mundo acabasse do que ter que ir ao exército, sem falar na remota – mas temível – possibilidade de ter que ir para a guerra e ter que matar para sobreviver.

Depois de quase duas décadas algumas coisas ainda não mudaram. Olhando para trás não acredito que ter servido ao exército teria sido uma boa experiência na minha vida, embora ouça com profundo respeito e admiração algumas histórias de pessoas que serviram nas forças armadas. E continuo acreditando que eu não seria um bom soldado. Na verdade eu tenho certeza que se um dia eu fosse para a guerra, eu com certeza morreria em um dos primeiros combates. E não digo isso por exagero e por medo. Na verdade como a idéia de ir para guerra, ou mesmo estar em guerra, vive num quarto muito remoto da minha mente, esse pesadelo da minha infância foi deixado no passado. Digo isso mesmo porque eu sei das minhas aptidões e da falta delas também.

Mas algo que definitivamente mudou foi o meu interesse pelas guerras. Em especial, pelas duas guerras mundiais. Mais especificamente ainda, pela Segunda Guerra Mundial. Depois de ter passado 25 anos da minha vida totalmente alheio a esses dramáticos e tristes acontecimentos históricos, um profundo interesse foi despertado dentro de mim para tentar entender o que realmente aconteceu em nossa história nesse passado não tão distante. Um interesse que veio devagar, sem avisar. Mas que provavelmente vem do fato de eu ser um pouco mais confrontado com isso vivendo aqui na Bélgica do que no Brasil.

Uma das primeiras vezes que senti imerso na história da Segunda Guerra foi quando eu visitei a casa que Anne Frank e sua família usaram como esconderijo para tentar escapar da perseguição nazista. Eu estava em Amsterdam com uma amiga e resolvi visitar o local, já que a visita constava como uma das atrações turísticas no meu guia. Eu entrei no local com uma quase completa ignorância de quem Anne Frank tinha sido, e saí do local realmente impressionado com a história. Depois disso “devorei” o livro contendo o diário escrito por Anne Frank durante o período no esconderijo.

Depois disso, o meu interesse por entender a Segunda Guerra Mundial só cresceu. Eu visitei o campo de concentração que foi usado na cidade de Dachau, que fica nos arredores de Munique. Lá pude entender um pouco mais sobre à que terrível situação judeus e outros prisioneiros foram submetidos. Não tem como não se impressionar. Eu também visitei um museu sobre a Primeira Guerra Mundial aqui na Bélgica, o que me ajudou a entender melhor a conjuntura política e econômica que levaram o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Mas foi mesmo depois de ler o livro “A História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial” - que ganhei de uma amiga na minha última visita ao Brasil, que eu consegui entender melhor como a guerra se desenrolou. É um livro que certamente recomendo. Eu gostei tanto do livro que eu li tudo em uma semana ou menos. Minha tia ficava fazendo piadas se todo conhecimento do livro estava entrando na minha cabeça, porque eu não mais desgrudava do livro. E eu sempre respondia que sim, tentando reproduzir com as minhas mãos o conhecimento saindo do livro e entrando entrando na minha mente.

Meus últimos dois achados a respeito da Segunda Guerra são duas minisséries de TV produzidas pela HBO: “Band of Brothers” e “The Pacific”. A primeira delas, e a melhor na minha opinião, foi produzida em 2001 e acabei de ver na internet que ela foi exibida pela Band em 2010 com o nome “Irmãos de Guerra - Band of Brothers". Essa minissérie relata algumas das mais importantes batalhas do exército americano em solo europeu. The Pacific foi lançado no ano passado no Estados Unidos, e segue a mesma linha de Band of Brothers, mas relatando as batalhas da marinha americana contra os japoneses no Pacífico. Cada minissérie tem 10 episódios e vale a pena assistir para entender um pouco melhor quão cruel e triste uma guerra pode ser. É claro que a história é contada da perspectiva dos americanos, então acho que também vale a pena assistir ao filme "Letters from Iwo Jima" (Cartas de Iwo Jima). Com esse filme pode ser ter uma visão mais humanizada dos japoneses e enxergar o outro lado da linha de combate.

Como o meu interesse pela Segunda Guerra não termina com esses livros e filmes, estou sempre a procura de novos livros, filmes e séries interessantes sobre o assunto. Então dicas são sempre bem vindas.

Estou postando o trailer das minisséries da HBO e do filme Cartas de Iwo Jima.










Leuven, 20 de agosto de 2011.
Du

Friday, August 19, 2011

Quando te vi


Da primeira vez que eu te vi

ouvi você falar de Webber e Marx

nossa dessintonia era tamanha

que muito pouco entendi

e você tão articulada nem me notou ali


Da segunda vez que eu te vi

tínhamos os olhos em lugares distintos

mas por coincidência ou destino

eu esbarrei na sua surpresa

e por segundos pensei entender sua natureza


Da terceira vez que eu te vi

você simplesmente apareceu por ali

e eu cumprindo o meu dever

sem titubear ou hesitar

nem percebi seus olhos a me estranhar


Da quarta vez que eu te vi

nossas vidas já eram parecidas

até conselhos eu te pedi

sem ao menos desconfiar

o que futuro estava a nos reservar


Pela centésima vez que eu te vi

do começo ao fim você me entendia

choramos, rimos, nos declaramos

fui por vezes exagerado

de tão feliz ao seu lado


Da primeira vez que não te vi

um pedaço de mim se partiu

sem saber o que fazer

com olhos embaçados tentei te achar,

mas só podia mesmo era soluçar


Da segunda à quarta vez que não te vi

Tentei não sentir a sua ausência

senti você indo embora

nossa sintonia enfraquecendo

meu medo de te perder crescendo


Pela centésima vez que não te vi

a saudade não mais doía

suas lembranças se tornaram doce

na sua ausência você me fez forte

e nada mais culpei por nossa sorte


Hoje que ainda não te vejo

converso com você no silêncio

escrevo cartas de tinta imaginária

a certeza do ontem me compraz

e com o hoje e o amanhã me deito em paz.


Du

(Leuven, 19 de agosto de 2011)

Sunday, August 07, 2011

Cavalgando no mundo das idéias despretensiosas


Quando pequeno, eu costuma passar boa parte das minhas tardes criando histórias de lutas e batalhas com meus brinquedos. Dinossauros, super-heróis e vilões habitavam o meu mundo de fantasia. Eu costumava me entreter por longas horas com meu brinquedos, somente deitado na cama dos meus pais, ou brincando no tanque da lavanderia – em dias de histórias envolvendo aventuras aquáticas.


É incrível essa tendência para a fantasia que apresentamos em nossos primeiros anos de existência nesse mundo tão real. E é também uma pena que com o passar dos anos vamos perdendo, pouco a pouco, essa habilidade tão lúdica e divertida.


Mas, vez ou outra, meus pensamentos ainda conseguem encontrar maneiras de me entreter com planos e “fantasias” que nascem sem muita pretensão de serem concretizados. Apenas idéias que são gostosas de serem saboreadas em momentos em que me sinto um pouco entediado, ou quando tenho que ficar por um período sem falar com ninguém. Ou simplesmente quando eu vejo ou ouço algo que serve de “combustível e alimento” para meus pensamentos.


Na minha última viagem pelo "meu mundo de idéias sem pretensões de nascer" eu estava imaginando o quanto seria interessante se eu tivesse um cavalo como meu fiel escudeiro. Um cavalo como o cavalo do Zorro, ou o Cavalo de Fogo da Princesa Sara – para aqueles que ainda lembram do desenho animado da década de 80. Um cavalo com o qual eu pudesse viajar de um lugar para o outro, como as pessoas sempre faziam antigamente. Um cavalo com o qual eu tivesse uma forte sintonia. Um cavalo real, sem asas nem chifre na testa. Tão pouco falante como o Cavalo de Fogo. Apenas um cavalo.


Mas é claro! Existem muitos tipos de cavalos. E como seria o meu? Hum, essa é uma questão difícil de responder. Eu sei que eu gostaria de um cavalo imponente, forte. Grande como os cavalos que vemos em filmes ou em exposições - que geralmente são quase duas vezes maiores que os cavalos comuns que vemos por aí. Mas o que eu ainda não consegui decidir é se eu gostaria um desses cavalos esbeltos, que parecem ser ágeis e andam elegantemente. Ou se eu gostaria um cavalo forte, desses que você vê puxando carruagens, cheios de músculos, longas clinas e pêlos nas patas.


Mas daí começo a pensar e devanear. Se eu quero um cavalo tão imponente e "poderoso" – seja ele esbelto ou com pêlo nas patas – eu preciso conhecê-lo muito bem, senão não terei chances alguma de poder cavalgá-lo. É então que eu decido que eu vou criar o meu cavalo desde o tempo em que ele ainda é um potrinho. Daí terei tempo de sobra para construir uma relação de confiança e sintonia com o meu fiel escudeiro cavalo, até o dia em que poderei montá-lo e iniciar minhas viagens com ele.


Porém, algumas questões ainda tem que ser pensadas. E se alguém rouba o meu cavalo durante uma de minhas viagens, depois de eu ter comprado um cavalo tão bonito e ter investido tanto tempo na criação dele? É claro, em tempos como os nossos sempre temos que considerar questões de segurança. E eu não sei se existe um seguro para cavalos. Mas, de todo modo, eu não gostaria de ver meu fiel escudeiro sendo levado embora por um ladrão de cavalos. Sem contar que, mesmo se sobrevivêssemos aos ladrões de cavalos, também preciso contar com o fato de que cavalgar pelas rodovias no Brasil com meu cavalo não seria uma das atividades mais seguras. Daí eu penso que talvez eu esteja muitas décadas ou séculos atrasado para querer viajar a cavalo por "terras desconhecidas".


E depois de ponderar a respeito de todas essas questões, eu digo adeus para o meu fiel escudeiro cavalo, agradecido por tê-lo tido em minha fantasia enquanto eu planejava a nossa vida de parceria. Então volto ao mundo real, onde sigo sem muitas pretensões de comprar um cavalo.


Leuven, 07 de agosto de 2011

Du







Sunday, July 24, 2011

O dia em que eu enganei Afrodite



Como já diria um poeta

Mundo velho e decadente mundo
Ainda não aprendeu a admirar a beleza”

E não, não aprendeu mesmo,

não, não aprendeu ainda


O outro poeta retrucaria

“As feias que me desculpem,

mas a beleza é fundamental”

Mas que beleza?

A verdadeira ou aquela que a gente quer comer?


Talvez a verdade seja mesmo que

“quem ama o feio, bonito lhe parece”

como a sabedoria popular de algum popular bradaria.

Mas divagará mesmo o amante sobre isso

enquanto suspira na espera pelo seu ser amado?


Até quando a deusa da beleza irá nos aprisionar?

Até quando trabalharemos para ela e

aceitaremos os seus palpites apetitosos?

Até quando seus palpites com entrada, prato, vinho e sobremesa

e com aceno do garçom na saída?


Ontem eu saí para espiar o mundo

por descuido esqueci de avisar para onde ia

Nem mesmo me dei o trabalho de me avisar

E no meu descuido sonolento tropecei e mergulhei

no suspiro dos apaixonados


Passeando também ali a verdadeira beleza,

imperfeita e tão bonita, tão verdadeira

Tão azul, tão forte, tão espontânea

tão honesta, doce e inocente

tão diferente, tão interessante


Tão bonita na sua falta da extrema beleza,

e ainda bonita na sua presença de beleza

Mas também tão distraída em sua dança pelo mundo


Veio e se foi, não se apresentou, não se despediu

Sem ao menos acenar para mim,

passou, nem me notou, me encantou

Me libertou


Com certa tristeza nos olhos e um estranho sorriso nos lábios

voltei desapercibidamente do meu passeio pelo mundo

E dormi, suspirei, sonhei, debochei

no dia em que enganei Afrodite.


Du (Leuven, 24 de julho de 2011)


Friday, July 01, 2011

A chegada de uma nova estação estudantil


Se tem uma coisa que me impressiona na vida estudantil belga é como cada etapa do ano letivo é bem demarcada. Há tempo para tudo na vida dos estudantes belgas; e cada etapa ou atividade tem o seu período certo e devido. Tudo isso garantido com precisão, é claro, pela agenda sempre a tiracolo de um bom belga.


Mas o que me chama a atenção em tudo isso não é a existência das “estações estudantis” em si, mas a intensidade em que elas são vividas. Por exemplo, os estudantes acabaram de passar por duas etapas bem estressantes: o “bloco” e os exames.


O bloco (traduzindo literalmente do holandês para o português) dura duas semanas e é etapa que precede os exames. Nesse período não há mais aulas e o objetivo é que os estudantes possam acabar de se preparar para os exames. Durante o bloco, uma cidade estudantil como Leuven presencia um progressivo desaparecimento dos estudantes das ruas, bares, praças e parques. É tempo de estudar pesado. Nesse momento não é mais “pecado” ser caxias, bitolado e anti-social.


Mas o nível de stress atinge mesmo o seu pico durante os exames. Durante três semanas todos os estudantes passam a maior parte do tempo ou estudando, ou fazendo exames, ou falando a respeito dos estudos e dos exames. Calendários coletivos são organizados entre amigos, de modo que todos saibam quais exames cada um tem e em quais dias eles caiem. E as conversas sempre giram em torno de como foram os exames já realizados e quantos exames ainda restam até o final.


Mas depois do temporal sempre vem a bonança. E durante a semana passada, um por um, os estudantes de Leuven começaram a aderir o anúncio coletivo do final dos exames e início das férias de verão, a medida que seus calendários de provas se encerravam. E o anúncio, como sempre, vem no seu melhor estilo: evidente, claro e intenso.


Embalados pelo clima mais quente e pelos dias longos, roupas ao estilo “estamos de férias e queremos aproveitar esse tempo” ganham mais uma vez a oportunidade de passear pelas ruas. Amigos e namorados passam horas nos gramados, aproveitando o bom tempo para por o papo e o “bronzeado” em dia, antes de partir de férias. As estações de trem ficam cheias de “jovens mochileiros”, que começam as suas viagens de férias, ou que se encaminham para os famosos festivais de música, munidos de suas barracas e rostos cheios de animação e disposição. É tempo de férias.


Só de ver toda essa animação meu peito já começa a saltar, e penso que gostaria de partir de férias com bons amigos. Mas, enquanto aguardo pelas minhas férias, que ainda vão demorar um pouquinho, sigo animado com a animação dos estudantes aqui e sua maneira tão intensa de comunicar que também há tempo para se aproveitar a vida.


Du

Bruxelas, 01 de julho de 2011


(Foto: Fonske - estátua construída em 1975 para comemorar o aniversario de 550 anos da universidade KULeuven. A estátua representa um estudante que, através da leitura do seu livro, adquire sabedoria, representada pela água que jorra para dentro de sua cabeça.)

Monday, June 27, 2011


A dessintonia nossa de cada dia


Hoje de manhã li uma citação de um autor cristão que me inspirou muito durante um período de minha vida e cujas reflexões se tornaram um precioso combustível para minhas próprias reflexões, questionamentos e crescimento pessoal. Cheguei a me comover várias vezes com as suas palavras, e possivelmente derramei muitas lágrimas sobre as páginas de alguns dos seus livros. Mas hoje, aquelas mesmas palavras soaram como “mais do mesmo”, sem muitas novidades. Não que a citação não soasse relevante ou significativa. Mas ela soou simplesmente como a resposta para uma pergunta que eu não estou (no momento / não mais) procurando responder. Por outro lado, tenho certeza de que a citação faz todo sentido, pelo menos no momento, para a pessoa que me trouxe em contato com a tal citação.


O fato é que em nossas trajetórias pessoais nos deparamos com diferentes questões, que podem ou não se repetir na vida daqueles ao nosso redor, na mesma ordem ou simplesmente em outra completamente distinta. E em meio as nossas perguntas atuais, levando em considerações as respostas que consideramos ter obtidos para perguntas do passado, nem sempre é tão simples conseguir lidar, entender e escutar as questões e respostas que o outro possa ter.


Quando vemos pessoas lidando com questões que já lidamos no passado caímos na tentação de olhar para a pessoa e pensar: “Pobre você! Ainda lidando com essas questões tão pequenas, enquanto eu já estou num novo estado de maturidade!”. Ou então, quando alguém lida com questões que nunca passaram pela nossa cabeça, muitas vezes nem se quer nos damos ao trabalho de tentar entender a pergunta da pessoa, e muito menos o contexto em que a pergunta surgiu. É como se houvesse uma grande dissintonia entre nossas agendas. Na verdade, fazendo referência ao nome deste blog, permanecemos dessintonizados das frequências um dos outros.


Seguindo essa linha de raciocínio, posso entender melhor por quê percebo um abismo tão grande entre cristãos e não cristãos aqui na Bélgica, por exemplo. Uma situação que, segunda minha leitura, é marcada pela falta de diálogo para lidar com questões como sexo, aborto, relação entre ciência e fé, etc. Ou, para dar um exemplo no Brasil, posso imaginar por quê a discussão a respeito do projeto de lei que criminaliza a homofobia siga tão truncada em nosso país. O fato é que temos uma dificuldade imensa em lidar com a agenda do outro, quando estamos tão focados em nossas próprias agendas. Temos dificuldades em tentar entender o outro. E o mais problemático: temos problemas em conversar e discordar – nessa ordem. Preferimos discordar e não conversar. Ou, o que eu considero tão ruim quanto, permanecemos num estado de apatia.


Não é sempre conversando que nos entendemos. Mas é num diálogo sincero e honesto que aprendemos a respeitar um ao outro – cada qual com as suas próprias agendas e perguntas.




Du
Leuven, 27 de junho de 2011

Wednesday, June 22, 2011

Foto de hoje - 22 de junho de 2011


Link

Quando eu li a reportagem me deu um aperto no peito. É que na verdade eu sinto que eu pertenço a essa gente. Não no sentido heroico de querer defendê-los e transformar suas vidas. Não no sentido de querer cuidar deles. Mas no único sentido de ser um deles; pertencer a eles.

Na verdade eles tem o que eu mais admiro, e o que eu mais sinto falta: simplicidade e humildade. Sinto tristeza pela sua pobreza, mas inveja da sua simplicidade.

"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
(...)

E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

(Gente humilde - Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes)