Monday, June 27, 2011


A dessintonia nossa de cada dia


Hoje de manhã li uma citação de um autor cristão que me inspirou muito durante um período de minha vida e cujas reflexões se tornaram um precioso combustível para minhas próprias reflexões, questionamentos e crescimento pessoal. Cheguei a me comover várias vezes com as suas palavras, e possivelmente derramei muitas lágrimas sobre as páginas de alguns dos seus livros. Mas hoje, aquelas mesmas palavras soaram como “mais do mesmo”, sem muitas novidades. Não que a citação não soasse relevante ou significativa. Mas ela soou simplesmente como a resposta para uma pergunta que eu não estou (no momento / não mais) procurando responder. Por outro lado, tenho certeza de que a citação faz todo sentido, pelo menos no momento, para a pessoa que me trouxe em contato com a tal citação.


O fato é que em nossas trajetórias pessoais nos deparamos com diferentes questões, que podem ou não se repetir na vida daqueles ao nosso redor, na mesma ordem ou simplesmente em outra completamente distinta. E em meio as nossas perguntas atuais, levando em considerações as respostas que consideramos ter obtidos para perguntas do passado, nem sempre é tão simples conseguir lidar, entender e escutar as questões e respostas que o outro possa ter.


Quando vemos pessoas lidando com questões que já lidamos no passado caímos na tentação de olhar para a pessoa e pensar: “Pobre você! Ainda lidando com essas questões tão pequenas, enquanto eu já estou num novo estado de maturidade!”. Ou então, quando alguém lida com questões que nunca passaram pela nossa cabeça, muitas vezes nem se quer nos damos ao trabalho de tentar entender a pergunta da pessoa, e muito menos o contexto em que a pergunta surgiu. É como se houvesse uma grande dissintonia entre nossas agendas. Na verdade, fazendo referência ao nome deste blog, permanecemos dessintonizados das frequências um dos outros.


Seguindo essa linha de raciocínio, posso entender melhor por quê percebo um abismo tão grande entre cristãos e não cristãos aqui na Bélgica, por exemplo. Uma situação que, segunda minha leitura, é marcada pela falta de diálogo para lidar com questões como sexo, aborto, relação entre ciência e fé, etc. Ou, para dar um exemplo no Brasil, posso imaginar por quê a discussão a respeito do projeto de lei que criminaliza a homofobia siga tão truncada em nosso país. O fato é que temos uma dificuldade imensa em lidar com a agenda do outro, quando estamos tão focados em nossas próprias agendas. Temos dificuldades em tentar entender o outro. E o mais problemático: temos problemas em conversar e discordar – nessa ordem. Preferimos discordar e não conversar. Ou, o que eu considero tão ruim quanto, permanecemos num estado de apatia.


Não é sempre conversando que nos entendemos. Mas é num diálogo sincero e honesto que aprendemos a respeitar um ao outro – cada qual com as suas próprias agendas e perguntas.




Du
Leuven, 27 de junho de 2011

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