O dia em que eu enganei Afrodite
Como já diria um poeta
“Mundo velho e decadente mundo
Ainda não aprendeu a admirar a beleza”
E não, não aprendeu mesmo,
não, não aprendeu ainda
O outro poeta retrucaria
“As feias que me desculpem,
mas a beleza é fundamental”
Mas que beleza?
A verdadeira ou aquela que a gente quer comer?
Talvez a verdade seja mesmo que
“quem ama o feio, bonito lhe parece”
como a sabedoria popular de algum popular bradaria.
Mas divagará mesmo o amante sobre isso
enquanto suspira na espera pelo seu ser amado?
Até quando a deusa da beleza irá nos aprisionar?
Até quando trabalharemos para ela e
aceitaremos os seus palpites apetitosos?
Até quando seus palpites com entrada, prato, vinho e sobremesa
e com aceno do garçom na saída?
Ontem eu saí para espiar o mundo
por descuido esqueci de avisar para onde ia
Nem mesmo me dei o trabalho de me avisar
E no meu descuido sonolento tropecei e mergulhei
no suspiro dos apaixonados
Passeando também ali a verdadeira beleza,
imperfeita e tão bonita, tão verdadeira
Tão azul, tão forte, tão espontânea
tão honesta, doce e inocente
tão diferente, tão interessante
Tão bonita na sua falta da extrema beleza,
e ainda bonita na sua presença de beleza
Mas também tão distraída em sua dança pelo mundo
Veio e se foi, não se apresentou, não se despediu
Sem ao menos acenar para mim,
passou, nem me notou, me encantou
Me libertou
Com certa tristeza nos olhos e um estranho sorriso nos lábios
voltei desapercibidamente do meu passeio pelo mundo
E dormi, suspirei, sonhei, debochei
no dia em que enganei Afrodite.
Du (Leuven, 24 de julho de 2011)
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