Sunday, July 24, 2011

O dia em que eu enganei Afrodite



Como já diria um poeta

Mundo velho e decadente mundo
Ainda não aprendeu a admirar a beleza”

E não, não aprendeu mesmo,

não, não aprendeu ainda


O outro poeta retrucaria

“As feias que me desculpem,

mas a beleza é fundamental”

Mas que beleza?

A verdadeira ou aquela que a gente quer comer?


Talvez a verdade seja mesmo que

“quem ama o feio, bonito lhe parece”

como a sabedoria popular de algum popular bradaria.

Mas divagará mesmo o amante sobre isso

enquanto suspira na espera pelo seu ser amado?


Até quando a deusa da beleza irá nos aprisionar?

Até quando trabalharemos para ela e

aceitaremos os seus palpites apetitosos?

Até quando seus palpites com entrada, prato, vinho e sobremesa

e com aceno do garçom na saída?


Ontem eu saí para espiar o mundo

por descuido esqueci de avisar para onde ia

Nem mesmo me dei o trabalho de me avisar

E no meu descuido sonolento tropecei e mergulhei

no suspiro dos apaixonados


Passeando também ali a verdadeira beleza,

imperfeita e tão bonita, tão verdadeira

Tão azul, tão forte, tão espontânea

tão honesta, doce e inocente

tão diferente, tão interessante


Tão bonita na sua falta da extrema beleza,

e ainda bonita na sua presença de beleza

Mas também tão distraída em sua dança pelo mundo


Veio e se foi, não se apresentou, não se despediu

Sem ao menos acenar para mim,

passou, nem me notou, me encantou

Me libertou


Com certa tristeza nos olhos e um estranho sorriso nos lábios

voltei desapercibidamente do meu passeio pelo mundo

E dormi, suspirei, sonhei, debochei

no dia em que enganei Afrodite.


Du (Leuven, 24 de julho de 2011)


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