Friday, November 04, 2011



Além do arco-íris




Ok! Deve ser hora de acordar. Desde que o meu despertador quebrou, eu tenho acordado na base do “feeling”. Quando meu corpo acha que já é hora de acordar, meus olhos se abrem e então o meu dia começa. Tudo com um bom ajuste de a que horas eu vou dormir e meu dia acaba começando cedo o suficiente. Então é hora de ir para a universidade e comer os meus cereais favoritos – sabor chocolate – com leite. Hum, meus cereais de chocolate. Alguns dias vou dormir pensando no quão bom será saboreá-los no outro dia de amanhã.


Surpreendentemente, mesmo com o inverno já as portas, o dia está lindo e agradável. Não está quente, não está frio. As folhas secas do outono contrastando com o céu azul e os raios de sol tornam o cenário lindo. Um bom tempo também para as pessoas que estão trabalhando consertando o asfalto da avenida que eu cruzo todos os dias para ir a universidade.


No mundo virtual – leia-se facebook – tudo normal. Todo mundo gritando por um pouco de atenção. E eu também. Nada que nos assuste. Já estamos acostumando a jogar esse jogo. Só tomar cuidado para não levar um bolada na testa, e está tudo certo. Ninguém gravemente machucado.


Das notícias do mundo real transmitidas pelo mundo virtual é que me vem um pouco de sobriedade. Um pai atropelou o filho de 4 anos enquanto estacionava o caminhão. O Lula está com cancer e já estão pensando nas consequências disso para as eleições do ano que vem. Muito se fala sobre a crise européia. Uma menina de 3 anos consegue sobreviver por dois dias comendo restos da geladeira enquanto tenta acordar a mãe que morrera de forma repentina. Uma mulher escapa de um homem que provavelmente matou o seu namorado.


Está bem. Talvez deva começar de novo e pensar nos meus cereais de chocolate. Esquecer de toda a injustiça e sofrimento que tentamos nos convencer que não nos dizem respeito. Mas mesmo que eu tente bastante, vez ou outra me vem novamente um momento de sobriedade. E então percebo que tem algo muito errado com tudo isso a nossa volta. Ou melhor, um mistério nisso tudo a nossa volta. E mesmo assim vamos vivendo como míopes tateando no escuro.


Deve ser por causa disso que algumas pessoas cantam a respeito daquele lugar “além do arco-íris”. Não somente porque elas querem escapar daqui. Mas porque, por algum motivo, elas sabem que existe algo além que não conseguimos enxergar.


Somewhere over the rainbow
Blue birds fly
And the dreams that you dream of
Dreams really do come true


Algum lugar além do arco-íris

Pássaros azuis voam

e os sonhos que você sonha

realmente se tornam realidade


(Somewhere Over The Rainbow

Israel Kamakawiwo'ole)




Saturday, September 10, 2011

No dia em que eu morrer



No dia em que eu morrer

Quero que vocês se lembrem de mim

Não de quem vocês gostariam que eu fosse

Tampouco daquele que gostariam que habitasse as suas lembranças

Lembrem-se de mim, e de mim, somente


No dia em que eu morrer

Não lhes peço que digam coisas bonitas

Tampouco lhes proíbido de fazê-lo, se quiserem

Mas falem de tal maneira que se ali eu estivesse

também me reconheceria, e com vocês concordaria


No dia em que eu morrer

Lembrem-se de minha compaixão para com os fracos

e do meu coração que sempre permaneceu quente

Lembrem-se do meu medo dos fortes

e das minhas mãos frias, suadas e trêmulas


No dia em que eu morrer

Lembrem-se das minhas inquietações com o mundo

Lembrem-se das minhas dúvidas e indecisões

Lembrem-se do meu conservadorismo na minha falta de liberalismo

Lembrem-se do meu liberalismo na minha falta de conservadorismo


No dia em queu eu morrer

Não se esqueçam da minhas esquistisses

Do meu sonambolismo, da minha guludice

do meu cuidado para não engordar

e de todas as milhas que eu corri


No dia eu que eu morrer

Falem sobre o que mim mais lhes irritava

e do que tiveram que fazer para lidar com isso

Contem dos seus sacrifícios em favor de nossa amizade

ou do eu tenha feito ou significado


No dia em que eu morrer

Não me neguem a minha humanidade

mas lhe digam adeus e a deixem descansar em paz

E assim o meu melhor, tão arraigado no meu pior

haverá de habitar as suas mentes e corações



Du, Leuven – 10 de setembro de 2011

Ao voltar do funeral de uma amiga


Saturday, August 20, 2011


Do meu interesse pela Segunda Guerra Mundial


Quando criança, entre muitas coisas que me aterrorizavam, um dos meus pesadelos era pensar que quando eu completasse 18 anos eu seria convocado para servir ao exército. Não que eu tivesse muitas razões para temer ser convocado, vindo de uma pequena cidade como Jacutinga – onde todos são dispensados. E não que tivesse ouvido muitas histórias para acreditar que minha vida se tornaria um inferno se eu de fato fosse convocado. Mas eu simplesmente preferia acreditar que seria melhor que o mundo acabasse do que ter que ir ao exército, sem falar na remota – mas temível – possibilidade de ter que ir para a guerra e ter que matar para sobreviver.

Depois de quase duas décadas algumas coisas ainda não mudaram. Olhando para trás não acredito que ter servido ao exército teria sido uma boa experiência na minha vida, embora ouça com profundo respeito e admiração algumas histórias de pessoas que serviram nas forças armadas. E continuo acreditando que eu não seria um bom soldado. Na verdade eu tenho certeza que se um dia eu fosse para a guerra, eu com certeza morreria em um dos primeiros combates. E não digo isso por exagero e por medo. Na verdade como a idéia de ir para guerra, ou mesmo estar em guerra, vive num quarto muito remoto da minha mente, esse pesadelo da minha infância foi deixado no passado. Digo isso mesmo porque eu sei das minhas aptidões e da falta delas também.

Mas algo que definitivamente mudou foi o meu interesse pelas guerras. Em especial, pelas duas guerras mundiais. Mais especificamente ainda, pela Segunda Guerra Mundial. Depois de ter passado 25 anos da minha vida totalmente alheio a esses dramáticos e tristes acontecimentos históricos, um profundo interesse foi despertado dentro de mim para tentar entender o que realmente aconteceu em nossa história nesse passado não tão distante. Um interesse que veio devagar, sem avisar. Mas que provavelmente vem do fato de eu ser um pouco mais confrontado com isso vivendo aqui na Bélgica do que no Brasil.

Uma das primeiras vezes que senti imerso na história da Segunda Guerra foi quando eu visitei a casa que Anne Frank e sua família usaram como esconderijo para tentar escapar da perseguição nazista. Eu estava em Amsterdam com uma amiga e resolvi visitar o local, já que a visita constava como uma das atrações turísticas no meu guia. Eu entrei no local com uma quase completa ignorância de quem Anne Frank tinha sido, e saí do local realmente impressionado com a história. Depois disso “devorei” o livro contendo o diário escrito por Anne Frank durante o período no esconderijo.

Depois disso, o meu interesse por entender a Segunda Guerra Mundial só cresceu. Eu visitei o campo de concentração que foi usado na cidade de Dachau, que fica nos arredores de Munique. Lá pude entender um pouco mais sobre à que terrível situação judeus e outros prisioneiros foram submetidos. Não tem como não se impressionar. Eu também visitei um museu sobre a Primeira Guerra Mundial aqui na Bélgica, o que me ajudou a entender melhor a conjuntura política e econômica que levaram o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Mas foi mesmo depois de ler o livro “A História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial” - que ganhei de uma amiga na minha última visita ao Brasil, que eu consegui entender melhor como a guerra se desenrolou. É um livro que certamente recomendo. Eu gostei tanto do livro que eu li tudo em uma semana ou menos. Minha tia ficava fazendo piadas se todo conhecimento do livro estava entrando na minha cabeça, porque eu não mais desgrudava do livro. E eu sempre respondia que sim, tentando reproduzir com as minhas mãos o conhecimento saindo do livro e entrando entrando na minha mente.

Meus últimos dois achados a respeito da Segunda Guerra são duas minisséries de TV produzidas pela HBO: “Band of Brothers” e “The Pacific”. A primeira delas, e a melhor na minha opinião, foi produzida em 2001 e acabei de ver na internet que ela foi exibida pela Band em 2010 com o nome “Irmãos de Guerra - Band of Brothers". Essa minissérie relata algumas das mais importantes batalhas do exército americano em solo europeu. The Pacific foi lançado no ano passado no Estados Unidos, e segue a mesma linha de Band of Brothers, mas relatando as batalhas da marinha americana contra os japoneses no Pacífico. Cada minissérie tem 10 episódios e vale a pena assistir para entender um pouco melhor quão cruel e triste uma guerra pode ser. É claro que a história é contada da perspectiva dos americanos, então acho que também vale a pena assistir ao filme "Letters from Iwo Jima" (Cartas de Iwo Jima). Com esse filme pode ser ter uma visão mais humanizada dos japoneses e enxergar o outro lado da linha de combate.

Como o meu interesse pela Segunda Guerra não termina com esses livros e filmes, estou sempre a procura de novos livros, filmes e séries interessantes sobre o assunto. Então dicas são sempre bem vindas.

Estou postando o trailer das minisséries da HBO e do filme Cartas de Iwo Jima.










Leuven, 20 de agosto de 2011.
Du

Friday, August 19, 2011

Quando te vi


Da primeira vez que eu te vi

ouvi você falar de Webber e Marx

nossa dessintonia era tamanha

que muito pouco entendi

e você tão articulada nem me notou ali


Da segunda vez que eu te vi

tínhamos os olhos em lugares distintos

mas por coincidência ou destino

eu esbarrei na sua surpresa

e por segundos pensei entender sua natureza


Da terceira vez que eu te vi

você simplesmente apareceu por ali

e eu cumprindo o meu dever

sem titubear ou hesitar

nem percebi seus olhos a me estranhar


Da quarta vez que eu te vi

nossas vidas já eram parecidas

até conselhos eu te pedi

sem ao menos desconfiar

o que futuro estava a nos reservar


Pela centésima vez que eu te vi

do começo ao fim você me entendia

choramos, rimos, nos declaramos

fui por vezes exagerado

de tão feliz ao seu lado


Da primeira vez que não te vi

um pedaço de mim se partiu

sem saber o que fazer

com olhos embaçados tentei te achar,

mas só podia mesmo era soluçar


Da segunda à quarta vez que não te vi

Tentei não sentir a sua ausência

senti você indo embora

nossa sintonia enfraquecendo

meu medo de te perder crescendo


Pela centésima vez que não te vi

a saudade não mais doía

suas lembranças se tornaram doce

na sua ausência você me fez forte

e nada mais culpei por nossa sorte


Hoje que ainda não te vejo

converso com você no silêncio

escrevo cartas de tinta imaginária

a certeza do ontem me compraz

e com o hoje e o amanhã me deito em paz.


Du

(Leuven, 19 de agosto de 2011)

Sunday, August 07, 2011

Cavalgando no mundo das idéias despretensiosas


Quando pequeno, eu costuma passar boa parte das minhas tardes criando histórias de lutas e batalhas com meus brinquedos. Dinossauros, super-heróis e vilões habitavam o meu mundo de fantasia. Eu costumava me entreter por longas horas com meu brinquedos, somente deitado na cama dos meus pais, ou brincando no tanque da lavanderia – em dias de histórias envolvendo aventuras aquáticas.


É incrível essa tendência para a fantasia que apresentamos em nossos primeiros anos de existência nesse mundo tão real. E é também uma pena que com o passar dos anos vamos perdendo, pouco a pouco, essa habilidade tão lúdica e divertida.


Mas, vez ou outra, meus pensamentos ainda conseguem encontrar maneiras de me entreter com planos e “fantasias” que nascem sem muita pretensão de serem concretizados. Apenas idéias que são gostosas de serem saboreadas em momentos em que me sinto um pouco entediado, ou quando tenho que ficar por um período sem falar com ninguém. Ou simplesmente quando eu vejo ou ouço algo que serve de “combustível e alimento” para meus pensamentos.


Na minha última viagem pelo "meu mundo de idéias sem pretensões de nascer" eu estava imaginando o quanto seria interessante se eu tivesse um cavalo como meu fiel escudeiro. Um cavalo como o cavalo do Zorro, ou o Cavalo de Fogo da Princesa Sara – para aqueles que ainda lembram do desenho animado da década de 80. Um cavalo com o qual eu pudesse viajar de um lugar para o outro, como as pessoas sempre faziam antigamente. Um cavalo com o qual eu tivesse uma forte sintonia. Um cavalo real, sem asas nem chifre na testa. Tão pouco falante como o Cavalo de Fogo. Apenas um cavalo.


Mas é claro! Existem muitos tipos de cavalos. E como seria o meu? Hum, essa é uma questão difícil de responder. Eu sei que eu gostaria de um cavalo imponente, forte. Grande como os cavalos que vemos em filmes ou em exposições - que geralmente são quase duas vezes maiores que os cavalos comuns que vemos por aí. Mas o que eu ainda não consegui decidir é se eu gostaria um desses cavalos esbeltos, que parecem ser ágeis e andam elegantemente. Ou se eu gostaria um cavalo forte, desses que você vê puxando carruagens, cheios de músculos, longas clinas e pêlos nas patas.


Mas daí começo a pensar e devanear. Se eu quero um cavalo tão imponente e "poderoso" – seja ele esbelto ou com pêlo nas patas – eu preciso conhecê-lo muito bem, senão não terei chances alguma de poder cavalgá-lo. É então que eu decido que eu vou criar o meu cavalo desde o tempo em que ele ainda é um potrinho. Daí terei tempo de sobra para construir uma relação de confiança e sintonia com o meu fiel escudeiro cavalo, até o dia em que poderei montá-lo e iniciar minhas viagens com ele.


Porém, algumas questões ainda tem que ser pensadas. E se alguém rouba o meu cavalo durante uma de minhas viagens, depois de eu ter comprado um cavalo tão bonito e ter investido tanto tempo na criação dele? É claro, em tempos como os nossos sempre temos que considerar questões de segurança. E eu não sei se existe um seguro para cavalos. Mas, de todo modo, eu não gostaria de ver meu fiel escudeiro sendo levado embora por um ladrão de cavalos. Sem contar que, mesmo se sobrevivêssemos aos ladrões de cavalos, também preciso contar com o fato de que cavalgar pelas rodovias no Brasil com meu cavalo não seria uma das atividades mais seguras. Daí eu penso que talvez eu esteja muitas décadas ou séculos atrasado para querer viajar a cavalo por "terras desconhecidas".


E depois de ponderar a respeito de todas essas questões, eu digo adeus para o meu fiel escudeiro cavalo, agradecido por tê-lo tido em minha fantasia enquanto eu planejava a nossa vida de parceria. Então volto ao mundo real, onde sigo sem muitas pretensões de comprar um cavalo.


Leuven, 07 de agosto de 2011

Du







Sunday, July 24, 2011

O dia em que eu enganei Afrodite



Como já diria um poeta

Mundo velho e decadente mundo
Ainda não aprendeu a admirar a beleza”

E não, não aprendeu mesmo,

não, não aprendeu ainda


O outro poeta retrucaria

“As feias que me desculpem,

mas a beleza é fundamental”

Mas que beleza?

A verdadeira ou aquela que a gente quer comer?


Talvez a verdade seja mesmo que

“quem ama o feio, bonito lhe parece”

como a sabedoria popular de algum popular bradaria.

Mas divagará mesmo o amante sobre isso

enquanto suspira na espera pelo seu ser amado?


Até quando a deusa da beleza irá nos aprisionar?

Até quando trabalharemos para ela e

aceitaremos os seus palpites apetitosos?

Até quando seus palpites com entrada, prato, vinho e sobremesa

e com aceno do garçom na saída?


Ontem eu saí para espiar o mundo

por descuido esqueci de avisar para onde ia

Nem mesmo me dei o trabalho de me avisar

E no meu descuido sonolento tropecei e mergulhei

no suspiro dos apaixonados


Passeando também ali a verdadeira beleza,

imperfeita e tão bonita, tão verdadeira

Tão azul, tão forte, tão espontânea

tão honesta, doce e inocente

tão diferente, tão interessante


Tão bonita na sua falta da extrema beleza,

e ainda bonita na sua presença de beleza

Mas também tão distraída em sua dança pelo mundo


Veio e se foi, não se apresentou, não se despediu

Sem ao menos acenar para mim,

passou, nem me notou, me encantou

Me libertou


Com certa tristeza nos olhos e um estranho sorriso nos lábios

voltei desapercibidamente do meu passeio pelo mundo

E dormi, suspirei, sonhei, debochei

no dia em que enganei Afrodite.


Du (Leuven, 24 de julho de 2011)


Friday, July 01, 2011

A chegada de uma nova estação estudantil


Se tem uma coisa que me impressiona na vida estudantil belga é como cada etapa do ano letivo é bem demarcada. Há tempo para tudo na vida dos estudantes belgas; e cada etapa ou atividade tem o seu período certo e devido. Tudo isso garantido com precisão, é claro, pela agenda sempre a tiracolo de um bom belga.


Mas o que me chama a atenção em tudo isso não é a existência das “estações estudantis” em si, mas a intensidade em que elas são vividas. Por exemplo, os estudantes acabaram de passar por duas etapas bem estressantes: o “bloco” e os exames.


O bloco (traduzindo literalmente do holandês para o português) dura duas semanas e é etapa que precede os exames. Nesse período não há mais aulas e o objetivo é que os estudantes possam acabar de se preparar para os exames. Durante o bloco, uma cidade estudantil como Leuven presencia um progressivo desaparecimento dos estudantes das ruas, bares, praças e parques. É tempo de estudar pesado. Nesse momento não é mais “pecado” ser caxias, bitolado e anti-social.


Mas o nível de stress atinge mesmo o seu pico durante os exames. Durante três semanas todos os estudantes passam a maior parte do tempo ou estudando, ou fazendo exames, ou falando a respeito dos estudos e dos exames. Calendários coletivos são organizados entre amigos, de modo que todos saibam quais exames cada um tem e em quais dias eles caiem. E as conversas sempre giram em torno de como foram os exames já realizados e quantos exames ainda restam até o final.


Mas depois do temporal sempre vem a bonança. E durante a semana passada, um por um, os estudantes de Leuven começaram a aderir o anúncio coletivo do final dos exames e início das férias de verão, a medida que seus calendários de provas se encerravam. E o anúncio, como sempre, vem no seu melhor estilo: evidente, claro e intenso.


Embalados pelo clima mais quente e pelos dias longos, roupas ao estilo “estamos de férias e queremos aproveitar esse tempo” ganham mais uma vez a oportunidade de passear pelas ruas. Amigos e namorados passam horas nos gramados, aproveitando o bom tempo para por o papo e o “bronzeado” em dia, antes de partir de férias. As estações de trem ficam cheias de “jovens mochileiros”, que começam as suas viagens de férias, ou que se encaminham para os famosos festivais de música, munidos de suas barracas e rostos cheios de animação e disposição. É tempo de férias.


Só de ver toda essa animação meu peito já começa a saltar, e penso que gostaria de partir de férias com bons amigos. Mas, enquanto aguardo pelas minhas férias, que ainda vão demorar um pouquinho, sigo animado com a animação dos estudantes aqui e sua maneira tão intensa de comunicar que também há tempo para se aproveitar a vida.


Du

Bruxelas, 01 de julho de 2011


(Foto: Fonske - estátua construída em 1975 para comemorar o aniversario de 550 anos da universidade KULeuven. A estátua representa um estudante que, através da leitura do seu livro, adquire sabedoria, representada pela água que jorra para dentro de sua cabeça.)

Monday, June 27, 2011


A dessintonia nossa de cada dia


Hoje de manhã li uma citação de um autor cristão que me inspirou muito durante um período de minha vida e cujas reflexões se tornaram um precioso combustível para minhas próprias reflexões, questionamentos e crescimento pessoal. Cheguei a me comover várias vezes com as suas palavras, e possivelmente derramei muitas lágrimas sobre as páginas de alguns dos seus livros. Mas hoje, aquelas mesmas palavras soaram como “mais do mesmo”, sem muitas novidades. Não que a citação não soasse relevante ou significativa. Mas ela soou simplesmente como a resposta para uma pergunta que eu não estou (no momento / não mais) procurando responder. Por outro lado, tenho certeza de que a citação faz todo sentido, pelo menos no momento, para a pessoa que me trouxe em contato com a tal citação.


O fato é que em nossas trajetórias pessoais nos deparamos com diferentes questões, que podem ou não se repetir na vida daqueles ao nosso redor, na mesma ordem ou simplesmente em outra completamente distinta. E em meio as nossas perguntas atuais, levando em considerações as respostas que consideramos ter obtidos para perguntas do passado, nem sempre é tão simples conseguir lidar, entender e escutar as questões e respostas que o outro possa ter.


Quando vemos pessoas lidando com questões que já lidamos no passado caímos na tentação de olhar para a pessoa e pensar: “Pobre você! Ainda lidando com essas questões tão pequenas, enquanto eu já estou num novo estado de maturidade!”. Ou então, quando alguém lida com questões que nunca passaram pela nossa cabeça, muitas vezes nem se quer nos damos ao trabalho de tentar entender a pergunta da pessoa, e muito menos o contexto em que a pergunta surgiu. É como se houvesse uma grande dissintonia entre nossas agendas. Na verdade, fazendo referência ao nome deste blog, permanecemos dessintonizados das frequências um dos outros.


Seguindo essa linha de raciocínio, posso entender melhor por quê percebo um abismo tão grande entre cristãos e não cristãos aqui na Bélgica, por exemplo. Uma situação que, segunda minha leitura, é marcada pela falta de diálogo para lidar com questões como sexo, aborto, relação entre ciência e fé, etc. Ou, para dar um exemplo no Brasil, posso imaginar por quê a discussão a respeito do projeto de lei que criminaliza a homofobia siga tão truncada em nosso país. O fato é que temos uma dificuldade imensa em lidar com a agenda do outro, quando estamos tão focados em nossas próprias agendas. Temos dificuldades em tentar entender o outro. E o mais problemático: temos problemas em conversar e discordar – nessa ordem. Preferimos discordar e não conversar. Ou, o que eu considero tão ruim quanto, permanecemos num estado de apatia.


Não é sempre conversando que nos entendemos. Mas é num diálogo sincero e honesto que aprendemos a respeitar um ao outro – cada qual com as suas próprias agendas e perguntas.




Du
Leuven, 27 de junho de 2011

Wednesday, June 22, 2011

Foto de hoje - 22 de junho de 2011


Link

Quando eu li a reportagem me deu um aperto no peito. É que na verdade eu sinto que eu pertenço a essa gente. Não no sentido heroico de querer defendê-los e transformar suas vidas. Não no sentido de querer cuidar deles. Mas no único sentido de ser um deles; pertencer a eles.

Na verdade eles tem o que eu mais admiro, e o que eu mais sinto falta: simplicidade e humildade. Sinto tristeza pela sua pobreza, mas inveja da sua simplicidade.

"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
(...)

E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

(Gente humilde - Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes)




Monday, June 20, 2011

A quão pouco você entendeu a respeito de você mesmo.....



A evolução interna de todo ser humano, enquanto pessoa e ser relacional, é simplesmente algo fantástico. Em vários momentos da nossa vida nos vemos em situações que nos levam a um confronto pessoal, de idéias, valores e sentimentos. Em alguns casos, tais situações nos levam até mesmo a um confronto com as pessoas ao nosso redor, com o nosso ambiente, e, no caso dos mais ousados e valentes, a um confronto com o sistema vigente. Esse confronto, independente das proporções que ele tome, não deve ser entendido como algo necessariamente negativo. Pelo contrário, ele pode ser extremamente positivo quando ele traz oportunidades para o crescimento pessoal e amadurecimento de idéias.


Durante esse processo de amadurecimento/crescimento pessoal muito “movimentos” ocorrem no nosso interior. Um deles é que, geralmente, temos a impressão de que entendemos melhor o nosso passado, entendemos melhor quem fomos, entendemos melhor quem queremos ser, e entendemos melhor quem não queremos ser. E, em muitos casos, essa impressão é um sentimento legítimo, pois amadurecer passa por um processo de auto-descoberta e auto-conhecimento. Processo esse que nos convida a nos tornarmos mais livres para cuidarmos de nós mesmos e daqueles ao nosso redor; nos traz mais paz para sermos nós mesmos e aceitarmos um pouco mais o outro; e também nos traz um sentimento de orgulho, também legítimo, por conseguir enxergar a vida de uma maneira mais clara e sóbria.


Mas de repente um fator novo e desconhecido pode ser inserido em nossa vida. Algo que te aponta para uma direção desconhecida e nova. Algo que te mostra que a caminhada não acabou. Algo que te mostra o quão pouco você entendeu a respeito de você mesmo.


E por estar exatamente nesse momento difícil de tentar aceitar que eu tenha entendido tão pouco de mim mesmo é que estou escrevendo esse texto. Não porque eu me gabe disso; na verdade isso me dá raiva e inquietação. Tenho a impressão de que Deus está de brincadeira comigo, e já tive algumas discussões com Ele essa semana. Depois de caminhar tanto eu não quero ninguém me falando que eu tenha que tentar entender alguma coisa melhor. Principalmente quando se trata de um assunto que já me custou muita energia, e que eu considere (ou considerava) ter chegado a um nível em que eu já entenda o que precisava ser entendido a respeito daquele assunto.


Como eu vou baixar a minha guarda? Isso eu ainda estou tentando entender. Mas enquanto isso eu vou lendo, vendo e escutando coisas que vão alimentando as minhas reflexões, como o seguinte trecho do livro “Eat Pray Love” de Elizabeth Gilbert.


“You make some big grandiose decision about what you need to do, or who you need to be, and then circumstances arise that immediately reveal to you how little yo understood about yourself”. (Elizabeth Gilbert)


“Você faz uma grandiosa decisão a respeito do que você precisa fazer, ou de quem você precisa ser, e então circunstâncias surgem que imediatamente revelam o quão pouco você entendeu a respeito de você mesmo”. (Tradução livre)


E eu termino esse post com uma frase que eu ouvi de uma amiga minha: “essa vida é um mistério”. Algumas vezes é confortante pensar nessa frase, porque me dá uma sensação de conformismo com a minha ignorância a respeito dos mistérios desse universo. Mas algumas vezes, como agora, essa é a última coisa que eu gostaria de admitir.


Du

Leuven, 20 de junho de 2011

Sunday, June 12, 2011


Comer rezar e amar (Eat Pray Love)



Há três semanas eu estava no meu quarto, por volta das 21:00 da noite, e me veio a estranha pergunta: “o que eu vou fazer agora?”. Geralmente eu tenho em minha mente uma lista de coisas para fazer e sempre me falta tempo para fazer tudo o que eu quero. Portanto, quando eu tenho um tempo vago, eu já sei de imediato o que eu gostaria de fazer naquele tempo: ligar para minha família, mandar um e-mail que eu já deveria ter escrito há muito tempo, sair para um corrida ao redor do campus, ler um livro, assistir a um seriado, estudar francês, visitar um amigo, etc. Mas naquela noite, aparentemente, não havia nada na minha lista. E como naquela noite eu não estava disposto a praticar a arte de “não fazer nada, e se entreter com isso” ou a arte de “estar em solitude e refletir sobre a vida”, eu tinha que achar alguma coisa para eu fazer.


Sem titubear muito, recorri à minha saída corriqueira em momentos como esse: assistir a um dos zilhões de filmes armazenados no meu HD externo. É sempre uma aventura/indecisão escolher alguma coisa entre tantas opções, principalmente quando todos os filmes foram copiados de amigos e nem se tem a noção de quantos ou quais filmes estão ali armazenados. Encontrar o filme para assistir naquele momento é mais ou menos como entrar no quarto bagunçado de alguém para procurar alguma coisa. Mas, nada que um pouco de paciência e investigação não resolvam. Naquela noite, no entanto, a busca se revelou rápida. O título “Eat Pray Love” saltou ao meus olhos quase que de imediato. Como eu tinha a vaga lembrança de já ter ouvido falar desse filme, resolvi dá-lo uma chance.


Não vou comentar muito sobre o filme, pois odeio quando pessoas me contam detalhes de filmes que eu ainda não assisti. Mas, em linhas gerais, o filme conta a história de Elizabeth Gilbert (ou Liz, como ela é referida durante todo o filme), que depois de sofrer algumas desilusões na sua vida e passar por momentos muito difíceis, resolve tirar um ano de sua vida para viajar à três países (quatro meses em cada país), numa tentativa de encontrar a si mesma. Com um objetivo em mente para cada um dos países destino, Liz vai em busca de novas experiências e aprendizados, de modo a achar/retomar equilíbrio em sua vida. E o mais interessante de tudo isso é que o filme é baseado no livro autobiográfico de Gilbert, de mesmo título.


Durante as 2 horas e 13 minutos de filme, eu me senti totalmente mergulhado na história de Liz. É incrível quando você se encontra numa música, filme ou livro. É sempre uma experiência reveladora e inspiradora. E foi isso que aconteceu durante o filme; por muitas vezes eu podia sentir em minha pele as experiências vividas por Liz. Os ápices do meu contentamento com o filme vinham sempre quando havia alguma citação do livro, o que me fazia me identificar de forma muito especial com a personagem (real) da história. E eis a minha citação preferida, daquelas contidas no filme:


"I’ve come to believe that there exists in the universe something I call 'The Physics of The Quest'– a force of nature governed by laws as real as the laws gravity or momentum. And the rule of Quest Physics maybe goes like this: “If you are brave enough to leave behind everything familiar and comforting (which can be anything from your house to your bitter old resentments) and set out on a truth-seeking journey (either externally or internally), and if you are truly willing to regard everything that happens to you on that journey as a clue, and if you accept everyone you meet along the way as a teacher, and if you are prepared – most of all – to face (and forgive) some very difficult realities about yourself….then truth will not be withheld from you.” (Liz Gilbert)


Minha tradução para a citação:

Eu cheguei a conclusão que existe no universo algo que eu chamo “A Física da Busca” - uma força da natureza governada por leis tão reais quanto a lei da gravidade e a lei da quantidade de movimento linear. E a regra da Lei da Busca é mais ou menos assim: “Se você for valente o suficiente para deixar para trás tudo o que lhe é familiar e confortável (o que pode ser algo desde de sua casa até os seus ressentimentos amargos) e iniciar uma jornada de busca verdadeira (externamente ou internamente), e se você estiver realmente disposto a considerar tudo que acontecer com você durante essa jornada como uma pista, e se você aceitar a todos que você encontrar no caminho como professores, e se você estiver preparado – acima de tudo – a enfrentar (e perdoar) algumas difíceis realidades a respeito de você mesmo... então a verdade não será negada a você” (Tradução livre da citação do livro de Elizabeth Gilbert)


A razão de eu ter me identificado de maneira tão grande com o filme (especialmente com essa citação) e com o livro (o qual comprei e estou “devorando” no momento), é que a busca de Gilbert em muitos aspectos se assemelha à minha busca pessoal. O real motivo pelo qual eu deixei o Brasil, amigos e família, há três anos atrás, e vim fazer doutorado aqui na Bélgica, foi esse meu desejo interno, mais forte do que eu mesmo, de me entender, de entender o mundo ao meu redor, e entender o meu “eu” nesse “mundo ao meu redor”. Busca essa que parece bonita e poética quando descrita de maneira tão elegante por Gilbert (como na citação acima) – o que de fato é, mas que passa por momentos de desconforto, inquietações e muitas perguntas. Mas, sem muitas delongas nos aspectos positivos e negativos dessa busca, o que tenho a dizer é que ter iniciado essa jornada foi uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida.


Na verdade todos nós estamos em jornadas pessoais; cada qual com as suas características e peculiaridades. E espero que vocês possam acompanhar parte da minha por meio deste blog.


Leuven, 12 de junho de 2011

Du

Wednesday, June 08, 2011


Recontando as origens


(Desenho utilizado no quadro "Senta que lá vem a história" do programa de TV "Rá-tim-bum", que passava na TV Cultura)


A história do nome deste blog remonta há 5 anos atrás, quando eu fazia o meu mestrado em São Carlos/SP. Naquela época ainda estava bem envolvido com o movimento estudantil cristão ABU – Aliança Bíblica Universitária (participação essa que foi responsável por anos memoráveis em minha vida e que me deu a oportunidade de conhecer e trabalhar com pessoas incríveis). Eu havia acabado de me mudar para São Carlos e trazia na minha bagagem toda a energia e entusiasmo da minha experiência com a ABU em Rio Claro/SP, onde me graduei em Ciências da Computação. Convicto de que minha participação na ABU não tinha se encerrado juntamente com a minha graduação, eu cheguei cheio de idéias no grupo de São Carlos.


É incrível como algumas idéias “pipocam” na minha cabeça quando eu estou entusiasmado. Algumas vezes, em um momento de pura inspiração ou completo devaneio, uma idéia aparece na minha mente. E acreditem, na minha mente minhas idéias sempre funcionam (o que na verdade deve ser algo óbvio a se dizer, pois talvez a maior parte das pessoas compartilhem desse sentimento). Posso ver como um filme a concretização da idéia e o seu bem sucedido desfecho. Fico então tão entusiasmado, que tenho certeza que tenho um plano genial. Mas de tão genial, ou de tão maluco, nem sempre consigo “vender” o tal plano às outras pessoas. E, para meu desapontamento, nem todos parecem tão entusiasmados com minha “idéia genial”.


E minha primeira “idéia genial” em São Carlos foi organizar um café da manhã para os estudantes (de graduação) do grupo. Mas não seria um café da manhã ordinário. Eu queria algo especial, que mostrasse carinho e apoio a esses estudantes tão novos, que davam seus primeiros passos no seu envolvimento com a ABU. Juntamente com uma amiga, também já graduada e também disposta a incentivar as atividades do grupo local de ABU, começamos os preparativos. Pedimos a algumas pessoas (também de um grupo cristão, mas composto pós-graduandos e pesquisadores) para enviar algo para o café da manhã (bolo, torta, etc) e uma mensagem de incentivo aos estudantes, na forma de uma carta, um cartão, ou simplesmente um bilhete. Como as mensagens viriam de pessoas mais velhas e que também tinham passado pela universidade como estudantes, a idéia era que eles conseguissem passar um pouco de ânimo e força para esses estudantes que estavam dispostos a encarar a difícil tarefa de falar da relevância da Bíblia no meio estudantil. Assim, segundo minha idéia, aqueles estudantes receberiam não somente um saboroso alimento para seus corpos, mas também alimento para o fortalecimento de suas almas. Genial, não?


Aparentemente não. Ou pelo menos a idéia não era tão clara assim. A maior parte das pessoas que contactamos não entendeu a idéia. A maioria disse não ter tempo para preparar algo para o café da manhã, e eles não tinham nem idéia do que eu pretendia com as tais mensagens. Felizmente, algumas poucas pessoas, mesmo sem entender muito bem o porquê de tudo aquilo, prepararam uma torta ou um bolo e nos mandaram juntamente com um bilhete/cartão. E no final, com a ajuda de alguns amigos, o café da manhã aconteceu e, segundo o meu ver, foi bem legal e produtivo.


Mas na semana seguinte passei ainda algum tempo pensando o por quê de minha idéia ter gerado tantas indagações, confusões e certa falta de atitude e colaboração, naqueles com os quais eu tinha certeza que poderia contar para por meu plano em prática. Na época não conseguia entender como eles não conseguiam seguir o meu raciocínio, e me senti nadando contra a corrente. Uma corrente de falta de visão e de estratégia, uma corrente de pouca disposição para ajudar. E foi exatamente naquela semana, em meio a esse desapontamento, é que eu ouvi pela primeira vez a música “Outras frequências”, do grupo “Engenheiros do Hawaii”. E a música caiu como uma luva na minha situação. Pela primeira vez pude perceber que o fato é que o meu coração e sentimentos estavam vibrando numa outra frequência.


Desde então a música se tornou não apenas a fonte inspiradora para o título do meu blog, mas também uma espécie de hino em tempos difíceis e de pouco apoio. Se tornou a minha maneira de me sentir confiante, mesmo sem encontrar tanta aprovação para alguns dos meus planos. Se tornou um incentivo para poder vibrar em outras frequências. Mas o que significa “vibrar em outras frequências”? Minha interpretação atual dessa poética expressão é um pouco diferente daquela despertada em mim na primeira vez que ouvi a música. Mas isso é um assunto para o próximo post.





Leuven, 08 de junho de 2011

Du

Monday, June 06, 2011

A volta das outras frequências




Escrever é uma das grandes paixões da minha vida, junto com ler, correr, nadar (atividade recém adquirida), conversar, viajar, aprender coisas novas, e, é claro, comer. É difícil descrever em palavras o que mais me fascina na escrita. Talvez a explicação mais simples seja que escrever é a maneira que eu encontrei de trazer para o mundo exterior idéias, pensamentos, perguntas e sentimentos que se recusam a ficar somente no meu mundo interior. Escrever, para mim, é o canal de comunicação mais efetivo e prazeroso que eu consigo encontrar entre a minha alma e o que é externo. É a língua que o meu interior fala quando eu me sinto inspirado, quando eu vejo um bom filme no cinema, quando eu leio um bom livro, ou escuto músicas poéticas e de ritmo gostoso, quando vou ao circo, ou quando simplesmente me pego observando algo ao meu redor que chama a atenção dos meus olhos. É a minha maneira de expressar a vida que sinto correr nas minhas veias e pulmões, quando, e somente quando, eu assim me sinto.

E foi exatamente por causa dessa paixão que eu comecei este blog há quase 5 anos atrás. Mas, desde então, esse blog passou por mais períodos de inatividade do que de devida atividade. Por muitas vezes cheguei até mesmo a esquecer que ele existia, para então ser relembrado por algum visitante desconhecido que por algum motivo ou fenômeno cósmico caíra de para-quedas por aqui e se dera ao trabalho de deixar um comentário anônimo dizendo que tinha gostado de algum dos meus posts. Em momentos de pura surpresa como esses, pensei por várias vezes “hum, talvez eu deva começar a escrever de novo”. Mas devo confessar que o maior obstáculo no caminho durante todo esse tempo foi mesmo a minha falta de inspiração e energia para escrever. Salvo alguns lampejos de inspiração – alguns deles transformados em textos aqui postados, esporadicamente, e a maior parte deles perdidos nos devaneios dos meus pensamentos – passei por um período de poucos textos borbulhando no meu peito e pedindo para nascer.

Mas talvez, pelo fato de ter passado tanto tempo sem escrever, é que a vontade de escrever tenha voltado de maneira tão forte e aguda. Muitos textos borbulhando no meu peitos; muitos pensamentos circulando pelo meu corpo; muitos sentimentos ansiando por ganhar forma em palavras, metáforas, rimas e ilustrações. E diante de tamanha erupção interna não me resta nada além de me render a minha velha paixão, e declarar a reativação deste blog. Espero que vocês se interessem pelas coisas que vou postar por aqui, e, por favor, se sintam convidados a colaborar com os seus pensamentos e reflexões a respeito dos temas aqui abordados.

O que muda com essa “reinauguração do meu blog”? Afinal, o blog continua “sob a mesma e velha direção”. E se partirmos desse ponto, a expectativa é de que o blog siga na mesma linha dos seus primeiros anos de vida e vigor. E acredito que essa seja a direção mais próxima da verdade. A idéia “notras frequências” continua presente (vou decorrer um pouco mais sobre isso num próximo post). Mas também podem esperar coisas novas – novas reflexões e questionamentos. Um pouquinho de como as arestas dos meus pensamentos e indagações têm se moldado e caminhado nesses últimos anos. Também peço que não se assustem e nem achem arrogante/exibicionista da minha parte se verem coisas escritas em inglês, ou mesmo em holandês, por aqui. Como quero repartir esse blog com novas pessoas que tenho encontrado pelo caminho, vou tentar fazê-lo também acessível para àqueles que não falam português. Alguns posts vou tentar colocar em inglês e português, outros em uma língua só. Mas a gente vai sentindo o melhor jeito à medida que as coisas forem caminhando e progredindo.

Boas e novas reflexões para todos nós.

Du

Leuven, 6 de junho de 2011.