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Na noite em que deixei os meus
Na noite em que deixei os meus
a lua se escondeu de mim
o vento me cortou
e árvores entoaram o famoso hino de iniciação
Foi então que eles se revelaram
Os dois seres viventes
O primeiro me tomou pelas mãos
percorreu suas mãos pelo meu cabelo
acariciou meu rosto
e com um beijo longo e suave
suspirou no meu interior:
"Eu te abençoo com um espírito simples e manso
Você contará com o favor de reis sem nunca precisar se curvar
O seu inimigo dormirá nú ao seu lado
Portas estreitas e largas para você se abrirão
Você se sentará à mesa de justos e injustos
e encontrará a singeleza no arrogante
Olhos bons e maus cuidarão dos seus caminhos
e a ajuda sempre virá te encontrar."
O segundo ser vivente então se aproximou
Com mãos firmes e olhar atento
levantou o meu queixo
levantou o meu queixo
cuspiu nos meus olhos
e sem demora decretou:
"Eu te amaldiçoo com olhos atentos e sensíveis
Você sentirá a dor da mão do carrasco
e ouvirá o nó da garganta do órfão
Você lamentará a partida do desconhecido
Você escutará o clamor do inajudável
e verá os olhos vermelhos dos invisíveis
Seus caminhos serão mais largos, longos e profundos
e a beira da estrada os seus olhos incomodará."
O galo cantou, o sol brilhou, e o vento parou
Então eu me levantei
com minha benção e maldição.
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