Tuesday, September 18, 2007



Compaixão

(Para ver a reportagem referenciada clique na figura - Revista Mãos dadas)



Os ombros se descobriram pesados
A noite fria e o vento seco
O silêncio ecoou por todo canto
abalando a melodia do velho canto
Olhares
hesitaram em se encontrar
Vergonha, culpa, decepção
O Eu abandonando o Nós
O corpo cansado, a vida jogada
Mas o céu azul novamente brilhou
No inesperado encontro do ombro e da mão
O companheirismo brotando no deserto
Gesto amigo, apoio, suporte
A vida reencontrando o seu valor
A cada encontro amigo da mão e do ombro.

(31 de agosto de 2007)







Espelho do Banheiro


Girl Before A Mirror, 1932 by Pablo Picasso



Do banheiro, um espelho.
Do espelho, um rosto
refletido, dia após dia
no espelho do banheiro

Traços que desabrocham,
Rugas desenhadas e retocadas
no nascer de cada estação
em meio a ciranda dos dias

O olhar que não é triste
Alegre tampouco
Apenas mais maduro e pesado
Acostumado a sobreviver

Thursday, September 06, 2007


Quando entrar setembro.....




Desejo que nesse setembro o perdão brote no meu coração. Bem como que ele bata de maneira mais calorosa e humana para com os que me rodeiam e para comigo mesmo. Que o sol de primavera ilumine as nossas amarguras e que essas enfim saiam de cena para que o amor possa bailar no palco de nossos relacionamentos. Que o julgamento siga o caminho que julgar melhor, porém que fique longe de nossas casas, das conversas a beira da fogueira e de nossas danças de alegria. Que nossas feridas nos ensinem a como levar nossa vida de maneira mais leve e mais significativa. Que voltemos nosso foco para o que realmente interessa. Que saibamos distinguir o que realmente interessa. E que eu volte a apreciar o seu sorriso brincalhão, as suas piadinhas sem graça, o seu jeito de falar mansinho e com jeitinho, o seu jeito sem noção de ser, o seu jeito pés pelas mãos, o seu jeito simpático de ser. Que eu me descubra novamente em você e que o nós me ensine novamente o significado da palavra amor. Amor iluminado pelo sol de primavera.


Se tudo isso for pedir demais, e realmente para ser, só queria ver brotar o perdão em nossos corações e que a gente reaprendesse a invertar novas canções....


Sol de Primavera
Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

Saturday, August 25, 2007

Baú de confusões

As mesmas paisagens no caminho
Seguimos agora juntos, na mesma direção
Enquanto teu sorriso sincero
E o brilho do seu olhar
Mais e mais enamoram meu ser


Para te proteger, juras eu faria
Perigos também enfrentaria
Na escuridão da noite fria
Se quisesses iria ao teu lado
Até aquela nossa estação


Um engano, porém, paira entre nós
Quando falamos de baú
Palavras pesadas e desencontradas
Baú que é meu, pensas que é teu
Não entendo tamanha confusão


Se quisesses, abriria o meu baú
E lhe mostraria o tesouro ali contido
Encontrarias jóias que não se estimam
Colhidas em meio a sorrisos e lágrimas
Em dias repletos de significado


Mas a sua conversa me cansa
Quando falas de coisas que não conheces
Laçando olhares amargos e tristes
Sobre meu caminho, fé e esperança
Depositados todo dia no meu velho baú



O teu baú eu desconheço
Então não mais o confundas com o meu
Do que contas, o teu é sombrio
Cultiva mofo e teias de aranha
Desilusão, caminhos de decepção

Podemos falar de moda
Cantar velhas canções
Jogar conversa fora
Mas, por favor, não insistas mais
Em confundir nossos baús


O teu e o meu não são um
Apesar de terem a mesma cor
Viveram, porém, de maneiras diferentes
Por isso sei que a culpa não é sua
Mas já me cansei de toda essa confusão

Wednesday, August 22, 2007

Tempestade

Nesse post resolvi colocar um texto (que ouso chamar de poema) que intitulei de "Lá no fundo eu sei" (poema está no final do post depois da figura). Ele é fruto de algumas inquietações pelas quais tenho passado quando penso a respeito de como as vezes nos perdemos em nós mesmos, em tantas discussões, em tantas disputas, em tantas suspeitas. Nos perdemos do outro ao invés de nos encontrarmos no outro. É triste quando vivenciamos isso.

É incrível como as pessoas começam a ficar desumanizadas quando tentamos desvendá-las, julgá-las, analisá-las. Começamos a olhar para atitudes e nos esquecemos de que um coração bate e de que um peito sente frio por de trás de algumas atitudes erradas, outras precipitadas, outras fruto de um auto-engano. Perdemos pouco a pouco a capacitade de amar.

Quando alguém que nos é querido comete alguma atitude errada, o amor genuíno toca em nosso peito. Sentimos vontade de entender o que realmente se passou, o que levou àquela atitude desenfreiada. Nos colocamos em nossos lugares de companheiros e não de juízes. Porém, quando, ao invés disso, permanecessemos em nossos postos de olhares atentos, prontos para julgar (seja porque a pessoa não nos é querida ou outro motivo qualquer), nosso coração passa a bater mais gelado e colocamos a atitude acima do ser - da pessoa. Quando analisamos e julgamos, deixamos com que a figura humana da pessoa vá se esmaecendo em nossas mentes e corações. Acabamos por desumizar a pessoa que pratica/praticou a atitude com a qual não concordamos. E isso nos leva cada vez mais para longe do amor, num ciclo vicioso.

Talvez seja por isso mesmo que Jesus faz vários alertas nos registros dos evangelhos a respeito do perigo de se julgar o próximo. Pois esse é o caminho que nos leva para longe do amor, do primeiro amor - o amor por Cristo, de Cristo e que nasce em nós por meio de Cristo. E é para lá que devemos correr quando nos percebemos agitados e inquietos por causa de situações nas quais os personagens estão perdendo os rostos, as lágrimas e os sorrisos. Devemos correr para lá - para o primeiro amor - e deixar que ele renasça em nossas vidas e nos desvende os olhos para tanta humanidade ao nosso redor, que por se humana é também falha e passível de erros terríveis. Mas nem por isso deixa de ser alvo do amor, afeto e misericórdia de Deus, aquele que consegue enxergar um humano por de trás de uma prostituta, um cobrador de impostos e um fariseu hipócrita.

Quando nos perdemos desse amor genuíno e que enxerga além, por de trás das atitudes e preconceitos, nosso andar se torna árido de emoções e inundado de decepções. Temos ainda nossas boas causas e nossas bandeiras a levantar, mas os passos se tornam mais difíceis a cada centímetro, pois perdemos o foco. Vamos pouco a pouco nos perdendo do amor, nos perdendo em nós mesmos e nos perdendo do outro. Vamos caminhando já cegos e percebemos então estar perdidos. E é esse o sentimento que despertou o texto que escrevi abaixo - Lá no Fundo eu sei.

Deixemos que a tempestade enganosa de nosso coração vá se dissipando e que a verdadeira luz ocupe nossas mentes e corações.

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. (Evangelho de João, capítulo 1, versículos 1 a 5)








Lá no fundo eu sei


Ás vezes os sentimentos vem e vão
Vendaval, trovoadas e furacão
Neblina que o olhar obscurece
Ao dar a volta por baixo na
Queda que nem se reconhece


A esperança, eu sei, não morreu
Mas estremece como quem perdeu
O último bonde para a terra escondida
Cuja rota se dissolveu nas lembranças
E nas marcas da pele envelhecida


As trilhas sonoras, por coincidência,
Vibraram menos naquela freqüência
Que perdeu o ritmo e a emoção
Estremecendo nossos compassos
Confundindo as notas da canção


Optamos, mesmo assim, por não desistir
Fazer valer e tentar seguir
O conhecido e famoso dito popular
Desesperar jamais
Entregar o jogo, nem pensar!


Mas agora os pés vacilam
A alegria e o ânimo sumiram
Os lábios dão sorrisos entristecidos
E os abraços tímidos nem de longe lembram
A plenitude dos beijos embevecidos


Talvez tenhamos mesmo sido confundidos
Por modelos que hoje se mostram falidos
Rotas e caminhos que nos têm levado
Para longe Daquele que é conhecido
Simplesmente por ter amado


Hoje não sei ao certo qual caminho trilhar
Talvez parar, seguir ou mesmo voltar
Mas lá no fundo eu sei
Que o porto seguro é o primeiro amor
Sim, é para lá que eu seguirei



Ivan e Paulo

Depois de algum tempo sem 'postar' nada no blog, resolvi colocar um devaneio da minha cabeça que se deu numa tarde de sábado - 14 de julho de 2007 - enquanto preparava alguns experimentos para o Workshop de Aprendizado de Máquina que eu participei em julho. Inicialmente mandei esse texto em forma de e-mail para a diretoria regional (SP/MS) da ABU - Aliança Bíblica Universitária - logo após termos partilhado de algumas dificuldades pelas quais passávamos, enquanto grupo e enquanto pessoas.

Como estávamos estudando a primeira carta de Paulo a Timóteo (I Timóteo) para o Curso de Férias da ABU - realizado em julho de 2007, fiz uma ponte (que está mais para uma viagem) entre partes da carta que falaram ao meu coração e a letra da música Novo tempo - Ivan Lins, que ouvi naquele sábado a tarde.

Segue o e-mail e o texto contido nele.


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OI pessoal....

Apesar das dificuldades,

Mantenhamos nossa esperança no Deus vivo.
"pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis". (I Timoteo 4:10)

e Joelhos no chao.
"ADMOESTO-TE, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens" (I Timoteo 2:1)

Pois os olhos do Senhor veem além.

Abaixo fiz um diálogo de I Timoteo com uma musica do Ivan Lins, que me fez pensar muito em tudo o que temos vivido e na esperança que tem que ser depositada no Deus vivo.

Viagens de sabado a tarde em meio a alguns experimentos computacionais que tenho que deixar pronto antes de viagem de fato.

abraços e amo vcs
Du


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Ivan Lins - Novo Tempo


No novo tempo, apesar dos castigos

Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos

Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer



[aos anciãos, mas admoesta-os como a pais;

aos moços como a irmãos;

As mulheres idosas, como a mães,

às moças, como a irmãs, em toda a pureza.
I Timoteo 5:1-2]
 
[Se algum crente ou alguma crente tem viúvas,
socorra-as.
I Timóteo 5.16]


No novo tempo, apesar dos perigos

Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na

luta



[Pois para isto é que trabalhamos e lutamos. I Timoteo 4:10]



Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver



Pra que nossa esperança seja mais que a vingança



[pois esperamos no Deus vivo,

que é o Salvador de todos os homens,

principalmente dos fiéis.
I Timoteo 4:10]



Seja sempre um caminho que se deixa de herança



[a piedade para tudo é proveitosa,

tendo a promessa da vida presente

e da que há de vir.
I Timoteo 4:8]





No novo tempo, apesar dos castigos

De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga

Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer



[Mas, se alguém não tem cuidado dos seus,

e principalmente dos da sua família,

negou a fé, e é pior do que o infiel.
- I Timoteo 5:8]



No novo tempo,
apesar dos perigos

De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver



[isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, 
Que quer que todos os homens se salvem, 
e venham ao conhecimento da verdade. 
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, 
Jesus Cristo homem. I Timoteo 2:3-5]


No novo tempo, apesar dos castigos

Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas

Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer



[Que façam bem, enriqueçam em boas obras, 
repartam de boa mente, e sejam comunicáveis;

Que entesourem para si mesmos um bom fundamento
para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.
I Timoteo 6:18-19]




No novo tempo, apesar dos perigos

A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça
 
[Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, 
e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. I Timóteo 1:5]



Friday, June 01, 2007

Metade de mim agora é assim......



Há algum tempo abaixo ouvi a música Hand In My Pocket de Alanis Morissette (letra abaixo) e achei muito interessante. Ela fala um pouco de como às vezes me sinto, um amontoado de paradoxos. Pensamentos que volta e meia são recorrentes para mim. Mas o que é engraçado (se é que essa é a palavra certa para expressar o que eu quero dizer), é que ultimamente olhar par a questão dos paradoxos tem estado dissociado do peso e da carga que costuma estar ligada. Mas não seria esse então mais um paradoxo? Deveriamos fugir deles?

I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy, yeah
I'm high but I'm grounded
I'm sane but I'm overwhelmed
I'm lost but I'm hopeful baby

An' what it all comes down to
Is that everything's gonna be fine fine fine
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving a high five

I feel drunk but I'm sober
I'm young and I'm underpaid
I'm tired but I'm working, yeah
I care but I'm restless
I'm here but I'm really gone
I'm wrong and I'm sorry baby

An' What it all comes down to
Is that everything's gonna be quite alright
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other is flicking a cigarette

And what is all comes down to
Is that I haven't got it all figured out just yet
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving the peace sign

I'm free but I'm focused
I'm green but I'm wise
I'm hard but I'm friendly baby
I'm sad but I'm laughing
I'm brave but I'm chicken shit
I'm sick but I'm pretty baby

And what it all boils down to
Is that no one's really got it figured out just yet
I've got one hand in my pocket
And the other one is playing the piano
What it all comes down to my friends
Is that everything's just fine fine fine
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is hailing a taxi cab...
(Hand In My Pocket- Alanis Morissette)

Na verdade, acredito eu, todos nós carregamos alguns paradoxos dentro da gente. Sentimentos que às vezes são ambíguos ou mesmo se contrariam. Na verdade acho que nossa maior fuga dos paradoxos é porque buscamos nas nossas certezas absolutas o fôlego para continuar em frente. Na verdade acreditamos que se não nos questionarmos, se as respostas estiverem sempre na ponta da língua, se não houverem conflitos, teremos nossa identidade assegurada. Identidade baseada, muitas vezes, na superficialidade da existência.

É certo que devemos complicar menos. Então, não acredito que devemos caminhar em direção aos conflitos, ou que devemos inventar conflitos. Apenas acredito que podemos encarar as coisas com muito mais leveza a medida que pararmos de mentir para nós mesmos a respeito do nossos reais conflitos e ambiguidades. Talvez assim pudessemos olhar para a palavra PARADOXO e não encará-la com a carga negativa que a atribuímos hoje. E talvez assim poderiamos parar de fugir de nós mesmos. Mesmo porque, por mais que usemos máscaras e tapemos nossas rugas com maquiagem, é certo que não conseguiremos fugir de nós mesmos. Pois como diz em um verso de uma música que ouvi em certo show, "tentei fugir de mim, mas para onde eu ia eu tava".

Um escritor que me chamou a atenção ultimamente pelo seu jeito peculiar de encarar as coisas e a si mesmo é o Brenna Manning. Mesmo as opniões sobre eles são um paradoxo - alguns amam, outros torcem o nariz. Mas algo que para mim tem sido libertador, é perceber que admitir-se na integridade do que se é, não é neccessariamente um atestado de insanidade. Quando digo admitir-se, isso tem muito mais a ver com a relação que temos com nós mesmos, do que com essa ou aquela postura que tomamos diante dos outros com o intuito de nos afirmarmos ou então nos expormos.

"admito que sou um amontoado de paradoxo. Creio e duvido, tenho esperança e sinto-me desencorajado, amo e odeio, sinto-me mal quando me sinto bem, sinto-me culpado por não me sentir culpado. Sou confiante e desconfiado. Honesto e ainda sim insincero. Aristóles diz que sou um animal racional; eu diria que sou um anjo com um incrível potencial para cerveja"
(Trecho do livro "O Evangelho Maltrapilho" - Brennan Manning)

Na verdade a questão chave é que nossa identidade não está na ausência ou na presença de conflitos. Logo nossa felicidade e significado também não se encontram em nenhuma dessas duas coisas. Nossa identidade é criada e firmada naquilo que se constitui na essencia da nossa existência. E nossa essência só pode ser encontrada naquele em que subexistimos, Jesus. Só ele pode nos conferir nossa real identidade. E é nessa identidade que devemos no firmar para continuar caminhando. Caminhada essa que passa então a ser marcada pela questão do seu real significado, embasada no que realmente confere sentido à nossa existência e não no fato de termos respostas para tudo, pois isso seria no mínimo loucura. Não temos todas as respostas, na verdade ás vezes temos bem poucas, bem menos do que gostaríamos de ter. Como olhamos para isso? Devemos fingir ter as respostas e continuar caminhando com a consciencia tranquila?

Realmente acredito que a vida pode ser levada com mais leveza. E isso não significa nem superficialidade, nem alienação, nem irresponsabilidade e nem fuga. Leveza tem a ver com sinceridade - com a gente mesmo e com Deus, integralidade e sobretudo com a confiança de que o nosso foco e esperança devem estar em Cristo e não em qualquer outra coisa, seja ela uma aparente paz ou um conjunto de pretensas respostas para tudo.

Dessa forma, termino essa reflexão sem a pretensão de trazer muitas conclusões e respostas. Deixo apenas mais duas composições que acredito que podem contribuir bastante para essa discussão: a poesia METADE do Oswaldo Montenegro e um trecho da música O ANJO MAIS VELHO do Teatro Mágico.

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
(Metade - Oswaldo Montenegro)


“Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim”
(Trecho de "O Anjo mais velho" - Fernando Anitelli)

Wednesday, May 30, 2007

O Coração Peregrino

De lá para cá
Sentindo-se em casa

Ali, aqui, acolá
Só por hoje
Amanhã, quem sabe

Os mesmos ventos
Ás vezes trazem novos ares
Alguns que descem secos
Outros vem como brisa suave
ao soluço da partida de ontem

A vida vai seguindo
E por trás dos olhos
mudanças, movimentos
Encontros e desencontros
de velhos e novos olhares

De repente as cenas mudam outra vez
Por vezes trazem novos rostos
Novas situações
E as mesmas batidas ansiosas

do coração do menino
em prece por permanência

Mas o peregrino sabe
Depois de noites quentes,
ardentes e profundas
O amanhã e a manhã ás vezes trazem
Mesmo que contra a vontade
O convite inesperado para seguir

Novos caminhos, velhos passos

Marcados pela certeza do que foi
E iluminado pela esperança do que virá
Até quando lá chegar e repousar
O coração peregrino


30 - maio - 2007


( O peregrino sobre o mar de brumas. Casper David Friedrich, 1818)


Depois que coloquei esse POST ouvi essa música que segue abaixo (Sinal dos Tempos) , que acho que tem bastante a ver com o que eu escrevi. Então, resolvi editar a postagem e acrescentar a letra da musica. Uma segunda opinião sempre é bem vinda. Por que "mesmo com sono mesmo cansado" às vezes "é preciso atravessar lá fora". Mesmo que esse lá fora esteja no interior do nosso interior. São movimentos que fazemos, movimentos que fazem nossos corações peregrinos.


"É preciso fazer uma canção
Um trato, uma entrega, uma doação
É preciso a chuva escura, a noite
A solidão
É preciso tudo agora
Um dissabor uma vitória uma confissão
A voz de um instrumento e a tua mão
Que nos faça acordar
Sim
Meias palavras não bastam
É preciso acordar
É preciso mergulhar mais que mil pés
Onde Netuno traça o rumo das marés
É preciso acertar a direção dos pés
Quando os velhos caminhos se esgotam
E os tempos não voltam
Não voltam
É preciso alcançar outra estação
Mesmo com sono mesmo cansado solto como um cão
É preciso o sol e a rua a tarde
A multidão
É preciso Atravessar lá fora
Um corredor um rio da história uma revolução
O caos de uma palavra nova, um sim e um não
Que nos faça acordar
Sim
Meias palavras não bastam
É preciso acordar
É preciso mergulhar..."
(Sinal dos Tempos - Totonho Villeroy)

Monday, May 28, 2007

De Paulo para Manoel.......

....... de Manoel para Paulo




UBIQÜIDADE

Estás em tudo que penso
estás em quanto imagino
estás no horizonte imenso
estás no grão pequenino
estás na ovelha que pasce
estás no rio que corre
estás em tudo que nasce
estás em tudo que morre
em tudo estás, nem repousas
os ser tão mesmo e diverso
eras no início das coisas
serás no fim do universo
estás na alma e nos sentidos
estás no espírio estás
na letra
e os tempos cumpridos
no céu
no céu estarás

(Manoel Bandeira)



"porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas;"

(Bíblia - Carta de Paulo aos Colossences, capítulo 1, versículos 16 à 17)


Estariam Paulo e Manoel falando da mesma coisa? Sabemos que Paulo fala de Jesus, a quem chama de "o princípio". Já Manoel fala de um "você" que está em tudo e que "era no início das coisas" e por assim ser ele consegue enxergar esse "você" em tudo o que vê e o que pensa. Estaria ele também falando de Jesus? Essa é uma pergunta.

Mas melhor pergunta do que essa é "o que o fato alguém estar presente em tudo ou tudo nele existir modifica a minha visão do tudo?". Hum..... Muitos tudos para a mesma pergunta? Mas quem sabe tudo isso não faça algum sentido.

"Será que alguma coisa
Nisso tudo faz sentido
(...)
Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos esse instante"
(George Israel/Bruno Fortunato/Leoni)

Quem responderia a perguntas como essas? Como julgo que perguntas são melhores do que respostas, lanço assim mão de uma nova pergunta:

No que o poema de Manoel Bandeira e a afirmação de Paulo poderiam contribuir para isso? Afinal, a busca pelo significado é um grito que ecoa em todos os corações, mesmo quando não nos damos conta disso.


Sunday, May 06, 2007


Do lado de cá

Vitória, Vila Velha, Viana, Domingos Martins, Guarapari
Nomes de cidades entre tantas outras
Agora, porém, carregados de significado e suspiros saudosos
Lembranças de dias não apenas vividos, mas também saboreados

Daqueles preciosos momentos em terras capixabas
Imagens gravadas em nossos peitos e recordações
O assombro diante da beleza da criação
Beleza tamanha, difícil de se expressar!

A vista do alto da serra
A rubra lua nascendo entre os coqueiros
A beleza natural de trilhas e quedas d’água
A vida brotando no manguezal

Tempo de se admirar, tempo também de celebrar
Celebração da vida e da companhia de bons amigos, mui queridos
Brindes, conversas, brincadeiras e confissões
Ao som do rio da montanha e regados de bom gosto musical

Laços que se formam, laços que se estreitam
A sensação de pisar um chão diferente
E de se estar em um universo paralelo e escondido no meio do nada
Quase que perdido por de lá do portal da vida agitada

Do lado de cá firmamo-nos na esperança do que virá
E na certeza de que "mesmo se nada mais existir
Ainda resta a nossa história"
Agora mais recheada desses dias com sabor de muqueca capixaba

Graças a Deus

Friday, March 30, 2007

O milagre que eu esperei nunca me aconteceu!!!!


Essa semana estou chengando a conclusão de que às vezes o milagre que queremos dificilmente acontece, pois muitas vezes queremos algo que nos leve para longe de nós mesmos. "Cada um sabe da dor traz no coração" e é exatamente lá que queremos mexer... que queremos nos afastar. Mas talvez não pensemos que possam ser as lágrimas derramadas por essa dor que alimentem a circulação sanguínea daquilo que realmente somos, o sangue que nos deixa de pé. Se pudessemos com certeza fugiríamos de nós mesmos, porque muitas vezes somos tão vis que se torna bem difícil conviver com a gente mesmo. E realmente é. Talvez porque estejamos tão ocupados em representar algo que não somos ou querer ser algo tão longe daquilo que somos.
Possivelmente concordemos lá em nosso íntimo com o velho Hagar.



Triste sina essa de encontra-se rejeitado por nós mesmos. Por isso, como Francisco de Assis, "eu oro por uma santa humildade, a habilidade de ver e aceitar a mim mesmo como sou". E na verdade isso só é possível mesmo por que simplesmente somos aceitos por aquele que nos criou, Deus. Ele nos ama mesmo na nossa busca incessante pela fuga, que nos faz até perder de vista aquilo que realmente somos. E é nele que encontramos o referencial para a reconciliação como nosso eu. "A fé significa que o ser, ao ser ele mesmo e desejar ser ele mesmo, descansa transparentemente em Deus" (Kierkegaard, In. Mentoria Espiritual).

"Ele [Deus] é amor, e a extensão do seu amor vai até a graça. Está disposto a perdoar os que o odeiam e descobrir um meio de abraçar os sujos e pequenos maltrapilhos. Ele na verdade os ama - e nós somos eles" (Larry Crabb - Chega de Regras - pag 154)

A nós, maltrapilhos, sejam os conselhos dos poetas Anitelli e Fernando Sousa (ver abaixo). E que nessa busca pelos nós mesmos já esquecidos, não deixemos-nos esquecidos na última ESTAÇÃO. E que então encontremos a água fria do peixe vivo e a verdadeira companhia. Pois, "como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver sem a tua companhia?"


"Viva a tua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do teu valor

E amanheça brilhando mais forte
Que a estrela do norte
Que a noite entregou!"
(Trecho de Camarada Dágua - Fernando Anitelli e Danilo Souza)



"Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
O abraço de vampiro é o sorriso de um amigo e mais nada
Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
A estrela que eu escolhi não cumpriu com o que eu pedi
e hoje não a encontrei
Pois caiu no mar, e se apagou
Se souber nadar, faça-me o favor
O milagre que esperei nunca me aconteceu
Quem sabe é só você
Pra trazer o que já é meu
(x2)

Brilha onde estiver
Faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé (x2)"

(Brilha Onde Estiver - Fernando Anitelli)

Tuesday, March 27, 2007

Uma velha paixão ...

tão presente como todas as velhas paixões sempre são ...

... e um pouquinho de legião.



Giz

Legião Urbana

Composição: Renato Russo

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Está tudo bem, tudo bem...
uh...uh...


E aproveitando o clima de flores da capa dos saudosos legionários e para não dizerem que não falei das flores....

Flores, flores... que de plástico não morrem.



Para uma menina como uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Vinícius de Moraes

in "Para uma menina com uma flor (crônicas)"
in "Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor""



Wednesday, March 14, 2007


No ritmo dos loucos


"Serão os céus conspirando contra a sanidade
Decepções e frustrações vêm e vão
Mas o que fazer com um coração aflito?


Discussões inúteis, testas franzidas em vão
A cólera despertada para depois ir embora
E ainda nem sei onde entra a outra face


Queria mesmo é reinvidicar todos os meus direitos
Jogar na cara a fragilidade de todos os argumentos
Fazer-me ouvir e usar com astúcia as armas ao meu alcance
Mas ainda permanece a sombra da outra face


Ah! Meu coração quer ser cruel, sabe ser!
Talvez assim ele se sinta mais aliviado
Saborear a vingança recheada de certezas e precedentes
Malditos precedentes! Estariam eles do outro lado do tapa?


No final das contas, quero ser mesmo humano
Já que forte descobri não ser
E que esse não seja mais argumento inútil
Que se queira fazer valer



Ás vezes me resta apenas gritar
De vez enquando, de quando em sempre
Dançar a insanidade assim devagar
No ritmo dos loucos, na leveza do caminhar"



APROVEITANDO A DEIXA, UM POUCO DE LEVEZA E CALVINISMO NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM






Tuesday, March 06, 2007

Um de dois

Os suspiros apaixonados

A arrepio da pele tocada

Olhos que se encontram

Olhos que brilham


A respiração ofegante

Os pensamentos vagando

Fantasias, anseios

Encontro de almas

Dois corpos


Celebremos o amor, o calor

Celebre o seu amor, celebre o meu amor

Do amor de dois, continuemos a acreditar

Amor sempre presente

Mesmo que ausente


A beleza ao redor a se revelar

Saltitam risos espontâneos

O sol mais brilhante

Inspiração de poetas

Melodia de músicos

Olhares embevecidos

Desejo, ternura, dois, um.

Friday, February 23, 2007



É incrível como a agitação do dia a dia, os prazos apertados, as responsabilidades, os deveres e o peso que muitas vezes nós mesmos colocamos sobre nossos ombros tem o poder de obscurecer e ofuscar nossa visão da vida. Esquecemos que temos alma, esquecemos que a vida é tão rara.

Parece que nossa vida depende de nossas realizações, “a gente espera do mundo, o mundo espera de nós” [1]. E de quando em quando descobrimos que só estávamos correndo atrás do vento. Mas, depois corremos de novo, atrás daquele que nunca alcançamos, do vento. Uma busca vã, sem sentido, vazia.

É, talvez por isso mesmo que muitas vezes nos sentimos ocos, secos, vazios. Mesmo depois de acumular alguns troféus, empoeirados pela estrada da vida. Mesmo depois de conseguirmos convencer as pessoas e a nós mesmos da nossa responsabilidade, dedicação, empenho.

A cortina tapa o céu azul lá de fora. Ouço teclados, mas o som não é música. Gente trabalhando. Vejo rostos preocupados. O ombro dói. Gente preocupada com o futuro, gente preocupada com o amanhã. Gente preocupada com hoje a noite. E será que a gente só queria um abraço?

No nosso peito pulsa vida. Tanta vida. Será que ainda vamos demorar muito para perceber? Será que deixaremos a vida ser ameaçada para dar valor a ela? Será que seguiremos ainda achando que as pessoas dormindo pelas calçadas fazem parte da paisagem de nosso caminho para o trabalho? Barateamos e vulgarizamos a vida e, conseqüentemente, todo ser vivo. Nossos valores estão invertidos.

Minha alma quer apreciar a leveza dos bailarinos, a sensibilidade do poeta, a criatividade dos músicos. Quero saber da ousadia do revolucionário, da voz do profeta, dos ouvidos que conseguem escutar “uma barriga roncando, uma mamãe chorando” [2]. Afinal, não escutamos pois fazemos "muito barulho por nada". Quero aprender da inocência da criança, do vigor da juventude, da sabedoria da velhice. Continuar acreditando nos suspiros apaixonados e nos amores desinteressados.

E a gente volta à rotina. De quando em quando pensamentos raros como este escapam pelas brechas e tomam de novo conta da mente. A gente repensa a vida e sonha em talvez um dia valoriza-la como se deve. “A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva” [3]. E os ombros ainda doem.

[1] Paciência - Composição: Lenine e Dudu Falcão

[2] Gilmarley Song - Composição: George Israel / Paula Toller

[3] Roda Viva - Composição Chico Buarque





“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para


Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara


Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o m

undo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede u

m pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não...a vida não para)”

(Paciência - Composição: Lenine e Dudu Falcão)




Bomba, avião, helicóptero
para ocupar território
e deixar ao deus-dará
outras tragédias não soam
outras tragédias não soam
barulho...barulho...
muito barulho por nada
por nada no futuro
vamos falar mais baixo
vamos parar pra escutar
uma barriga roncando
uma mamãe chorando
vamos ouvir a noite cair
e o sol ajudá-la a se levantar
bumbo, violão, pandeiro
para animar o auditório
e ir pra casa em paz e feliz
outra beleza não há
outra beleza não há
silêncio! silêncio!
façam silêncio
ouçam Gilmarley cantar
vamos falar mais baixo
vamos parar pra escutar
o bum-bum do tambor
um abacateiro em flor
vamos fugir da solidão
gandaia, realce, reggae e baião
outra beleza não há...

(Gilmarley Song - Composição: George Israel / Paula Toller)







Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

(Roda Viva - Chico Buarque)

Thursday, February 01, 2007

Como uma criança....

(Olive – Filme: Little Miss Sunshine)

Se hoje me pedissem uma dica de filme, com certeza diria Pequena Miss Sunshine. Uma boa comédia, dessas difíceis de se ver. Mas não vou falar do filme, afinal não existe coisa mais chata do que gente contando filme, principalmente quando a gente não assistiu.

Mas vendo o filme, a pequena Olive me fez pensar sobre muitas coisas. Em meio a uma família no mínimo doida, ela é assim, uma criança. Do jeito de ser simples e honesto, e ao mesmo tempo não superficial. É claro que com o bombeamento de informações, boas e más, manipuladoras ou não, nem sempre se encontram crianças assim. Mas a pequena Olive me fez visitar a criança que ficou lá trás, debaixo de muitos dias, meses e anos que joguei sobre ela.

Umas das coisas que me veio à mente enquanto via o filme, foi a passagem Bíblica que Jesus pede para que os discípulos deixem as crianças se achegarem a ele. É, crianças!!!

“Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse; mas os discípulos, vendo isso, os repreendiam. Jesus, porém, chamando-as para si, disse: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de modo algum entrará nele”.
(Evangelho de Lucas, Capítulo 18, versos de 15 à 17)

Nessa busca e reconciliação com a criança que existe dentro da gente, deixo aqui dois depoimentos que eu retirei do filme “Doutores da Alegria”. É muito massa ver como as figuras da criança e do palhaço se casam bem. Deixo também uma música intitulada “oito anos”, composta por Dunga e Paula Toller. Na musica os autores “se contentam em brincar com as perguntas”. Assim como a criança e o palhaço. E daí me vem a frase do Fernando Anitelli “Por que a gente é desse jeito? criando conceito pra tudo que restou”.


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(Depoimentos dos doutores da alegria)

“A essência do arquétipo do palhaço é a criança. Porque a criança é um ser que é livre de preconceito. Ela não prisioneira nem da lógica nem da razão. Para a criança não existe o ridículo. Ela só vive no presente. Não faz planos. Você vê... Ela é sempre 'O Pai.. eh quero isso aqui agora.. é já' Ela só vive aquele presente. E a gente para se relacionar com o outro sempre precisa de um rótulo. A gente sempre precisa de um preconceito.. de fazer um juízo daquilo. E a criança e o palhaço não. Eles tem incondicionalidade na sua maneira de lidar com o outro”.

“E por que que a gente escolheu o palhaço para trabalhar com essa questões? É porque talvez o palhaço seja o personagem mais apto a não trabalhar com as respostas. Ele se contenta em brincar com as perguntas assim...”


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Por que você é flamengo
E meu pai botafogo?
O que significa
"impávido colosso"?

Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?

Por que os dedos murcham
Quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo?

Quanto é mil trilhões
Vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo?
Onde estão meus primos?

Well, well, well
Gabriel...

Por que o fogo queima?
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda?
Por que deitar agora?

Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?

Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?

Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Ré...vei...llon

Well, well, well
Gabriel...

(Composição: Dunga / Paula Toller)



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É isso aí..
Bom resgate da criança

Du

Thursday, January 25, 2007

Tem dias assim


"Tem dias assim
Que a gente quer uma música,
Uma poesia, uma rede, um bom papo
Gargalhadas deitados no sofá

Tem dias assim
Que dá saudade do que ficou
Sente-se alegria do que ainda se vive
Coração se aperta e se alegra

Tem dias assim
Que dá vontade de parar tudo
Dá preguiça de começar
Só dá vontade de devanear, pensar, sentir

Tem dias assim
Que quero a água da chuva molhando o corpo
O vento batendo no rosto
O peito batendo acelerado

Tem dias assim
Que a vida faz mais sentido
O coração fica bem aquecido
Dias que só se quer amar"

(Du – em um dia assim - 25/01/2007)


"Conhecer as manhas e as manhãs
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si carrega o dom de ser capaz
e ser feliz"
(Tocando Em Frente - Almir Sater e Renato Teixeira)



Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou
Juntos outra vez
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender
(Sol de Primavera - Beto Guedes / Ronaldo Bastos)

Wednesday, January 24, 2007

Relatos de um estudante









Em 2007 a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) completa 50 anos de existência. Uma caminhada de muitas alegrias, mas também de dificuldades. Um movimento marcado por pessoas, histórias, lágrimas, sorrisos, joelhos no chão. Marcada também por tempos de crise, falhas, desencontros. Um movimento tentando responder ao chamado de proclamar os valores do Reino de Deus no meio estudantil. Não de maneira alienada, mas participar, viver, caminhar e partilhar da alegria e também da dor que cada um carrega no seu interior. Um chamado que deve estar centrado em Cristo e no seu amor demonstrado na sua morte na cruz. É somente isso que dá significado a nossa vida e ao nosso caminhar.
O chamado não é fácil, nem tampouco a caminhada. Ás vezes é mais cômodo sair pela tangente, nos alienarmos, fingir que a responsabilidade não é com a gente, nos fecharmos em um grupo homogêneo. Mas que Deus desperte jovens comprometidos com as suas universidades e com seus colegas e amigos. Que a cada dia sejamos levados de volta ao primeiro amor, amor que vem de Deus. E por amor continuemos essa caminhada que tem impactado a vida de tantas pessoas, assim como impactou a minha.

Deixo um texto que escrevi no dia 24 de dezembro de 2003, enquanto ainda fazia graduação em Ciências da Computação na Unesp de Rio Claro. Relatos de um estudante.


Oi povo. Tudo bom? Todo mundo curtindo as férias neh.....
Mais um ano chega ao fim e as lembranças de tudo que aconteceu ficarão guardadas em nossas mentes e corações: o treinamento em RC, o CR em Piracicaba, o picnic no horto, a festa caipira na casa da Déia, o Curso de Férias, o CR em São Carlos, o Treinamento em Franca, o domingo na Kairós, as reuniões de EBI, o projeto Amar a si mesmo, os projetos Lucas, as reuniões do GB, os almoços, os filmes de vídeo assistidos, as conversas durante um sorvete e outro na zero grau, a festa de despedida da Déia, as reuniões de orações, as visitas às igrejas, a venda de livros, partidas de Imagem e Ação, a criação do nosso site......... (e por aí vai).... pena que naum dá pra participar de tudo neh......
Mas o mais importante é que de tudo isso nascem amizades, laços se fortalecem, trabalhamos juntos para a obra de Deus, caminhamos lado a lado, e o nome de Deus é engrandecido.
Esta amizade que nasce e cresce com cada um de vocês tem marcado profundamente a minha vida. Admiro cada um de um modo especial, e tenho aprendido muito com todos vocês. Aprendido o quão preciosas são as amizades profundas em um mundo acostumado a viver na superficialidade, o quão importante é saber que eu posso contar com esta família que é o Corpo de Cristo. Aprendido que não precisamos nos trancar em castelos, que posso mostrar minhas fraquezas sem ter medo de ser considerado fraco, que posso pedir ajuda e socorro. Aprendido que podemos partir e repartir as cargas do irmão, que podemos nos alegrar juntos, mas podemos também chorar juntos.
Isso é o Corpo de Cristo, um corpo onde cada um é importante, um corpo onde você tem o seu significado e a sua razão de estar ali, um corpo vivo, corpo onde a vida é mais vida, vivendo em Jesus.
Há alguns anos atrás, quando experimentava algo parecido em minha igreja no grupo de adolescentes, um grupo animado e unido, ativo na obra de Deus, em meu coração havia uma preocupação: dali a alguns anos eu iria para a faculdade e aquilo ali não mais existiria. Eu sonhava em participar de um grupo como aquele na faculdade, talvez o encontrasse em alguma igreja na cidade para onde mudaria. Um grupo onde pudéssemos buscar a Deus juntos, nos divertirmos, tomar sorvete no domingo a noite. Mas parecia mais coisa de interior, isso parecia ser impossível de se realizar. Eu sonhava com um grupo, mas ainda não sabia que esse grupo tinha um nome: ABU. Nunca tinha ouvido falar da ABU e não ouviria falar dela até chegar na faculdade, mas ali nascia um desejo no meu coração. Um sonho de Deus para minha vida.
E agora olho e vejo tantas coisas bonitas acontecendo aqui em Rio Claro. Deus trabalhando, Deus abençoando. O grupo ABU Rio Claro crescendo,crescendo em número, crescendo como grupo. E posso falar que o sonho se realizou. O que antes era um sonho, agora é uma realidade. Uma realidade de bênçãos de Deus para minha vida, para a sua vida.
Como em todo sonho, às vezes nos esquecemos das lutas, e elas vêm, pode ter certeza. A caminhada muitas vezes não é tão fácil como imaginamos, muitas vezes é cansativa. As tempestades aparecem e parecem que não vão passar. Mas elas passam, pode ter certeza também. Tudo faz parte do maravilhoso plano de Deus para nossas vidas e ao seu sinal o mar se acalma e o sol volta a brilhar. A caminhada muitas vezes é braba, mas vale a pena, e como vale.
Hoje, estamos alegres porque até aqui o Senhor nos abençoou e nos ajudou. Mas um novo ano se inicia, novos desafios surgem a nossa frente. 2003 ficará em nossas mentes e corações, mas 2004 deve estar nos nossos sonhos. Hoje Deus me convida, Deus te convida, a sonhar os sonhos dEle para este novo ano.
Olhe para o campo, a seara na verdade é grande*. O que fazer? O que eu posso fazer? O que a ABU Rio Claro pode fazer? Muitas vezes não sabemos. Mas Deus sabe. Basta uma atitude, devemos dispor nossas vidas nas mãos de Deus e Ele, o Senhor da Seara, irá a nossa frente abrindo as portas. Ele será nosso companheiro de jornada.
Que neste ano que se inicia possamos sonhar os sonhos de Deus para nossas vidas e consagrarmos nossas vidas ao Autor da Vida.

Abraços
Du
(24/12/2003)

* Mateus 9.36-38
"Jesus ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos: 'A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da Colheita que envie trabalhadores para a sua colheita'".


É isso aí...
Continuemos, firme na coragem do Senhor. Continuemos a sonhar, continuemos a caminhar. Certos de que tempos difíceis sempre virão, como vieram com grande força naquele ano de 2004, que estava para começar. Mas a promessa não é que seremos livres de problemas, tribulações e sofrimentos enquanto caminhamos pelos caminhos que Deus, nosso Pai, tem nos guiado. A promessa é que ele nunca nos desamparará, assim como um pastor não desampara suas ovelhas. Ele estará lá conosco, mesmo quando a escuridão da noite descer. Essa é a promessa em que temos que nos agarrar.
Lembrando sempre que o caminhar juntos e viver em comunhão só faz sentido quando caminhamos para algo. E que cristo seja através do qual e para onde caminhamos. Que aprendamos a olhar para nosso próximo com os olhos DEle, através do amor.
Fiquem na paz
Du