Wednesday, August 22, 2007

Tempestade

Nesse post resolvi colocar um texto (que ouso chamar de poema) que intitulei de "Lá no fundo eu sei" (poema está no final do post depois da figura). Ele é fruto de algumas inquietações pelas quais tenho passado quando penso a respeito de como as vezes nos perdemos em nós mesmos, em tantas discussões, em tantas disputas, em tantas suspeitas. Nos perdemos do outro ao invés de nos encontrarmos no outro. É triste quando vivenciamos isso.

É incrível como as pessoas começam a ficar desumanizadas quando tentamos desvendá-las, julgá-las, analisá-las. Começamos a olhar para atitudes e nos esquecemos de que um coração bate e de que um peito sente frio por de trás de algumas atitudes erradas, outras precipitadas, outras fruto de um auto-engano. Perdemos pouco a pouco a capacitade de amar.

Quando alguém que nos é querido comete alguma atitude errada, o amor genuíno toca em nosso peito. Sentimos vontade de entender o que realmente se passou, o que levou àquela atitude desenfreiada. Nos colocamos em nossos lugares de companheiros e não de juízes. Porém, quando, ao invés disso, permanecessemos em nossos postos de olhares atentos, prontos para julgar (seja porque a pessoa não nos é querida ou outro motivo qualquer), nosso coração passa a bater mais gelado e colocamos a atitude acima do ser - da pessoa. Quando analisamos e julgamos, deixamos com que a figura humana da pessoa vá se esmaecendo em nossas mentes e corações. Acabamos por desumizar a pessoa que pratica/praticou a atitude com a qual não concordamos. E isso nos leva cada vez mais para longe do amor, num ciclo vicioso.

Talvez seja por isso mesmo que Jesus faz vários alertas nos registros dos evangelhos a respeito do perigo de se julgar o próximo. Pois esse é o caminho que nos leva para longe do amor, do primeiro amor - o amor por Cristo, de Cristo e que nasce em nós por meio de Cristo. E é para lá que devemos correr quando nos percebemos agitados e inquietos por causa de situações nas quais os personagens estão perdendo os rostos, as lágrimas e os sorrisos. Devemos correr para lá - para o primeiro amor - e deixar que ele renasça em nossas vidas e nos desvende os olhos para tanta humanidade ao nosso redor, que por se humana é também falha e passível de erros terríveis. Mas nem por isso deixa de ser alvo do amor, afeto e misericórdia de Deus, aquele que consegue enxergar um humano por de trás de uma prostituta, um cobrador de impostos e um fariseu hipócrita.

Quando nos perdemos desse amor genuíno e que enxerga além, por de trás das atitudes e preconceitos, nosso andar se torna árido de emoções e inundado de decepções. Temos ainda nossas boas causas e nossas bandeiras a levantar, mas os passos se tornam mais difíceis a cada centímetro, pois perdemos o foco. Vamos pouco a pouco nos perdendo do amor, nos perdendo em nós mesmos e nos perdendo do outro. Vamos caminhando já cegos e percebemos então estar perdidos. E é esse o sentimento que despertou o texto que escrevi abaixo - Lá no Fundo eu sei.

Deixemos que a tempestade enganosa de nosso coração vá se dissipando e que a verdadeira luz ocupe nossas mentes e corações.

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. (Evangelho de João, capítulo 1, versículos 1 a 5)








Lá no fundo eu sei


Ás vezes os sentimentos vem e vão
Vendaval, trovoadas e furacão
Neblina que o olhar obscurece
Ao dar a volta por baixo na
Queda que nem se reconhece


A esperança, eu sei, não morreu
Mas estremece como quem perdeu
O último bonde para a terra escondida
Cuja rota se dissolveu nas lembranças
E nas marcas da pele envelhecida


As trilhas sonoras, por coincidência,
Vibraram menos naquela freqüência
Que perdeu o ritmo e a emoção
Estremecendo nossos compassos
Confundindo as notas da canção


Optamos, mesmo assim, por não desistir
Fazer valer e tentar seguir
O conhecido e famoso dito popular
Desesperar jamais
Entregar o jogo, nem pensar!


Mas agora os pés vacilam
A alegria e o ânimo sumiram
Os lábios dão sorrisos entristecidos
E os abraços tímidos nem de longe lembram
A plenitude dos beijos embevecidos


Talvez tenhamos mesmo sido confundidos
Por modelos que hoje se mostram falidos
Rotas e caminhos que nos têm levado
Para longe Daquele que é conhecido
Simplesmente por ter amado


Hoje não sei ao certo qual caminho trilhar
Talvez parar, seguir ou mesmo voltar
Mas lá no fundo eu sei
Que o porto seguro é o primeiro amor
Sim, é para lá que eu seguirei


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