Thursday, December 19, 2013

Vontade do que não se tem


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VONTADE DO QUE NÃO SE TEM




Ontem eu perambulei nos passos dos deuses
Vi as pegadas de Diana
Os cabelos de Vênus
Os olhos do Cupido

Quão gostoso eu dormi
no sono das minhas aventuras
nos suspiros da minha valentia

Com a alvorada eu acordei 
Passos divinos ao meu redor
O peito arranhado com uma lâmina cortante

Barriga gelada
Vontade do que não se tem
Alma enfeitiçada
Capricho de Cupido

O caminho de casa
Mais quente, vermelho,
Mais quieto, solitário

A falta, a saudade
o suspiro
o tremor
o gemido 


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* Imagen/ fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/gl/8/88/Allori_Venus_Cupido.jpg

Friday, October 11, 2013

O mar, o vento, e eu



O mar, o vento, e eu




Da Luiza eu nunca gostei
José nunca gostou de mim
Com a Joana um pouco fiquei
Homero me deu bom dia e se foi

Hoje eu abri meus olhos
Me estendi aos quatro cantos da cama
Corri, dei bom dia pro mar
Os meus cabelos o vento acariciou

O vento levou
Luiza
José
Joana
Homero

Eu respirei o mundo
O mar abriu-se na minha frente

E a morena faceira passou
com seu lindo namorado

(Ilustração/fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4-uCID1RQgAdxbbdRo0h9Wjo0CiI9vFTuxHHViPNaEnHVDD74vtdTY6Kjw5sF1HQ9_7MX61fJQYGN0plJQVJ6qF7N3wLRVFQ1w7VYdGnMNdHAFqQnPJl6bC5T2mL_NA4Jht9T/s400/tumblr_li0k1peKNs1qble4wo1_500.jpg)


Thursday, July 11, 2013

It was not five days

It was not five days


This blog has experienced quite a few changes since I created it. There were periods which I would post quite often. There were years that I barely posted anything. There were times of being more personal, and telling something about me. There were times of expressing my vision and opinions on a certain subject. And, in its current "season",  this blog has become quite "poetic" and probably hard to grasp what I really mean with my texts. But, in all the different periods, this blog has been a good channel to organize my ideas and to write them down. This has also been a channel to express some feelings. Sometimes to remember them. Sometimes to forget them.

As a friend once told me, my texts reflect me, what interests me, what captures my eyes. And if this blog has faced many changes, it is also because I have changed a lot throughout the years I have been writing it. 

Changes.... It is impossible to think about changes and not think about the past five years and all the adventures, experiences, challenges, difficulties and surprises that came together with them. Being far from my home country, family, old friends, culture and language for such a long time has given me the opportunity to learn a lot. And this process would not have been the same if it was not for the people I met during this period. People who helped to fill my years in Belgium with joy and meaning. And it is out of gratitude for those people that I am writing this text.

There is a piece of a poem that I like a lot. It says:

Vroeger was er alleen maar nu. Nu is er ook toen.
Er is meer om van te houden.
Er zijn meer manieren om dat te doen.

~Herman de Coninck


I am afraid I won't be able to translate it properly. But I will try anyway.


In former times there was only now. Now there is also "at that time"
There is more to love
There are more ways to do that

(Free translation)


It sounds nicer and more poetic in Dutch, but it really expresses what I feel right now. 

It will be hard to leave Belgium behind and all what this country means to me. After all, five years are not five days. I will really miss it here. I will miss going everywhere by bike. I will miss the chips (frietjes). I will miss the language.  I will miss the nice running routes in Heverlee. I will miss the international environment. I will miss the feeling that you get when you have a sunny day after many raining and dark days. I will miss the people I have met here. Most of all, I will miss those who have become close friends and good companions. 

But for everything there is a time. And now it is time to close a cycle and begin a new one. I am looking forward to all the new challenges and adventures that the new cycle will bring.  And it makes me happy to realize that I will start this new cycle with the certainty that there is now more to love and that there are now different ways of doing that.  

Bedankt allemaal!
Thank you all!


Leuven, 11 July 2013
Eduardo

Saturday, June 29, 2013

Eu acho que essa COCA é FANTA

"Eu acho que essa COCA é FANTA"


A cada declaração, video ou entrevista do Deputado Marcos Feliciano, minha antipatia e indignação com relação às suas posições políticas e ideológicas crescem em ritmo acelerado. E não me comove nem um pouco que ele nele seja canalizado todo o descontentamento público em relação à maneira desastrosa que a bancada evangélica e outros setores conservadores abordam temas como o combate à homofobia. Como diria uma amiga minha, "É pouco até".

Mas tem uma coisa que está me incomodando profundamente. Muitas pessoas têm questionado a sexualidade do deputado como uma maneira de denegrir a sua imagem, ou de colocá-lo em uma situação vexatória. Nessa semana, por exemplo, o ator Alexandre Frota trouxe os apresentadores de um programa de TV aos risos ao debochar que ele teria tido um relacionamento com o Feliciano. Na verdade, Frota só reproduziu uma atitude que já é vista há muito tempo em redes sociais. 

Mesmo que feita com boas intenções, declarações como essas trazem um raciocínio perigoso e precisamos estar atentos para isso.

Primeiro, tais declarações mantêm o alvo das críticas, mas desvirtua os argumentos. Existem inúmeros fatos públicos que deslegitimam o Feliciano como um representante das minorias. Os discursos preconceituosos e opressores do deputado, a sua articulação política e o seu compromisso com o poder são mais do que suficiente para fundamentar nossas críticas e protestos contra ele. Então não vejo porque a necessidade de tentar se fazer insinuações sobre a sua vida privada. Ainda mais quando tais insinuações são sobre coisas que não dizem respeito à população.

Segundo, tais declarações trazem a homossexualidade para o campo do deboche e do xingamento. Ao pensar que alguém deva se sentir ofendido por chamá-lo de homossexual, está-se também reproduzindo a idéia opressora e cruel que a homossexualidade seja um motivo vexatório, uma condição inferior à heterossexulidade, algo negativo na vida de um indivíduo. É um discurso que reforça o preconceito e dissemina uma homofobia camuflada, mesmo nos meios gays. E se você não concorda comigo, me responda quantas vezes você viu um crítico do deputado Jean Wyllys o "xingando" de heterossexual.

Terceiro, tais declarações revelam um prazer sádico em rotular as pessoas com respeito à sexualidade. Expressões como "Essa coca é fanta" e "Essa pessoa não me engana" revelam essa nossa atitude de impor que cada encontre a sua definição em nosso dicionário e viva de acordo com o que se é esperado dela. Enquanto que, na verdade, a sexualidade é só um elemento na vida de um indivíduo e a parte não deve sobrepor o todo. Além disso, a maneira como cada um escolhe vivenciar a sua sexualidade só diz respeito à pessoa em si e às pessoas que eventualmente estejam envolvidas na situação. Não devem existir protocolos de comportamento. O que deve existir é o respeito à liberdade do outro.

Por fim, como muito bem observou alguém que eu conheço, se você está achando que ao chamar o Feliciano de "homossexual enrustido" você está fazendo um bom papel à sociedade, você está fazendo isso errado. O "xingamento" traz a mensagem que "estar no armário" é motivo vexatório, e só contribui para aumentar a opressão na vida das pessoas que se angustiam com a sua sexualidade. Cada pessoa tem o seu tempo, as suas lutas e os seus questionamentos. E nem todo mundo cabe dentro de uma caixa de sapato.  

Coca? Fanta? Sprite? Não dou a mínima, não estou interessado em saber. O Feliciano não me representa, e isso não tem nada a ver com a sexualidade dele.

Saturday, June 15, 2013

Will you take your chances?



*****



Rolling dice, wild cards
dreams, reality 
Will you take your chances?


My dear, I have heard that
"sometimes the fantasy is better left alive"*
The bubble is about to burst
Will you roll the dice?


The fantasy took the last train
with the guy I have never known
How do you do, nice to meet you
We now have our feet on the stone


Young man, 
sometimes the fantasy is better left alive
Will you still roll the dice?


Yesterday, I took a longer shower
to take your hands out of me
And I thought all I wanted 
was your hands all around me


Young man,
is life better than a dream?
from here we just see a gleam


I still taste your bitter kiss
once sweet and hallucinating
we bursted the bubble
but wasn't that elucidating? 


Rolling dice, wild cards
Will I take my chances?


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* Sentence from Eva Rodriguez in the documentary "Searching for sugar man" (2012) 
http://www.imdb.com/title/tt2125608/

Picuture: http://1ms.net/blurred-dices-11224.html


Monday, June 10, 2013

Yesterday by sunset

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Yesterday by sunset
I wished you were by my side
that the sky were ours, once more, 
that our worlds were not far apart after all

Yesterday by sunset 
I remembered the sly twinkle in your eyes
And the reverent and contemplating feeling
that one only knows before a naked soul

Yesterday by sunset
The air smelled like grandmas' pie
Wild berries playfully smiled at me
and sang the last strophe of your favorite poem

Yesterday by sunset
I saw white clouds in your eyes
shining, protecting, hiding, dressing 
Your soul, me, the clouds in between

Yesterday by sunset
I asked the wind if he had heard from you
He dramatically shrugged his shoulders
and gently pointed the sunset

***


(Illustration from: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvyIBpVl1tmU_V-LcNTqMGJGsBy9PKfneX7SlFZANXnPBqeTw7iETB85ZmIij2kovcmOhYbJ1iYZvFIOibM9A8eDppxgleadYtCKHM_z7NFl1VX16OBG9-4S0lzX8dEMqeAioo5Q/s400/Sunset+Berries+II.jpg)


Saturday, June 01, 2013

Cumplicidade no retorno das estrelas

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E a multidão se reuniu para o retorno das estrelas
Todos os olhos estavam atentos e fitos
Procurando pelo primeiro sinal no céu vazio
Todos se agitavam pelo sinal da primeira aparição

De repente eu o percebi ao meu lado
Camisa xadrez, bem alinhado, anel nos dedos
Corte de cabelo moderno, traços finos
E uma postura delicada e afeminada

Foi então que eu a percebi
Pele morena, olhos vivos, menina-mulher
Pingente brilhando no colo do peito
Traços fortes, um ar de mistério

Quando a primeira estrela brilhou no céu
As suas mãos se entrelaçaram,
Os corpos se agitaram
E com os olhos eles conversaram

Meus olhos também queriam estrelas
Mas se enigmavam com ele e com ela

Com um olho eu olhava a primeira estrela
com o outro eu os admirava

E o que eu via?

Não era sexo, não era sedução
não era desejo, não era Eros

Era a beleza, a alma, a conversa
a amizade, a intimidade
e a mais pura cumplicidade
no retorno das estrelas

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Foto/fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI3jMedc6UnlALIZ4TOe0tTZjw5aJwbZC-XZzhaRTbXg1SMBxBoc9LSgBuh0Jdy7K7c0q0q0LOUzRNQbo644Nn2LUd-2B0HGG9Bq3MLgaggcJMYTi0eA1coCueI10wtAIhh24/s320/Casal-de-mãos-dadas.jpg

Thursday, May 23, 2013

Numa quarta-feira a tarde

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O mundo sorri
ou lhe dá as costas
numa quarta-feira a tarde

Sem avisar, sem se antecipar,
sem se anunciar,
sem pudor, tremor our temor

Numa quarta-feira a tarde

Não na direção dos seus olhos
Não na atenção dos seus ouvidos
Não no perímetro dos seus cuidados
Não nas proteções do seu coração

O mundo lhe acaricia
e se distancia
numa quarta-feira a tarde

Boas e más notícias
preferem uma quarta-feira a tarde

Sim, você o ve
Sim, você o ouve
Sim, você o percebe
Sim, você o sente

O mundo numa quarta-feira a tarde

Numa quarta-feira a tarde
Você me viu indo embora

Numa quarta-feira a tarde


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Tuesday, May 21, 2013

-----Lines----


__________________________________________________
Lines
Real, imaginary
__________________________________________________
Lines
Natural, created
__________________________________________________
Lines
Imposed, learned
__________________________________________________
Lines
Chosen, polished
_________________________________________________
Lines
Confusing, risky
__________________________________________________
Lines
Border, limits
__________________________________________________
Lines
Distance, safety
__________________________________________________
Lines
Subtle, tenuous
__________________________________________________
Lines
Between sides
__________________________________________________
Lines
__________________________________________________
Sometimes
Lines need to be crossed
to trigger your decision
Sometimes
__________________________________________________
Lines
Sometimes
Lines
__________________________________________________
Lines
Crossed back
__________________________________________________
Lines
Left behind
__________________________________________________
Lines
Not without costs
__________________________________________________
Between sides
Lines
__________________________________________________




Monday, May 20, 2013

I would not look behind....

Then, I opened my eyes. It was dark and slightly cold. I found my way to the bathroom. There was a pair of glasses in the sink and there was a contact lens case just next to it. I starred at my face in the mirror for five seconds and then decided to make my way out. I crossed the living room, and got my coat which was just laying next to a nice guitar. Then, I closed the door behind me and ran towards the exit. In the streets there were still some drunk people, and I could hear the loud music coming from the clubs. The world had apparently not stopped for me. And I wouldn't stop for it either. Ten minutes later I was far away and would not look behind. "Breath in, breath out", I repeated to myself, while trying to keep my mind clean. And I would not look behind.   



Saturday, April 27, 2013

Someone that I used to know


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Someone that I used to know



When I get home from hanging out with friends
when my bed turns around and my light stays on
I remember someone that I used to know

When I am running and see a shaved head
walking hand in hand with a blond one
I remember someone that I used to know

When I say something as stupid as it can be
and a smiling friend says "how silly you are"
I remember someone that I used to know

When my clock says it's almost 2 am
I wish you sweet dreams, my dear
I remember the you that I used to know


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(Figure/source: http://www.designboom.com/weblog/images/images_2/anita/ampm03.jpg)

Monday, April 15, 2013

Some work to do


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I have come from so far
It took me really long to get here

Yes, I know
But there is still a long way to go
There is still some work to do

I have some catching up to do

Yes, but no hurry will do the trick

I still have a long way to go

Yes, I know
There is always a way to go!


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(Source: http://www.inspirationline.com/images/starsReach.jpg)





Saturday, April 06, 2013

Resquícios vira-latas


Há duas semanas eu adentrei o restaurante universitário enquanto ainda haviam poucas pessoas no local. Como eu estava sozinho, eu intencionalmente me sentei próximo a um grupo de cerca de dez estudantes que tinham chegado no restaurante junto comigo. Havia algo naquele grupo que tinha me chamado a atenção, por isso resolvi observá-lo um pouco mais de perto.

Num grupo misto de meninos e meninas, havia um estudante que parecia centralizar a atenção e conduzir de forma espontânea a dinâmica da conversa no grupo. O menino que aparentava uns 19 anos de idade, parecia bem seguro de si mesmo, e um leve ar afeminado me levou a deduzir que ele provavelmente fosse gay. No meio dessa minha indiscreta especulação, a minha observação do grupo foi perdendo progressivamente a minha atenção e comecei a devanear nos meus pensamentos.

Independente de minha suposição sobre a sexualidade daquele estudante, o que realmente tomou o foco da minha atenção e reflexão foi o fato de eu ainda achar digno de atenção o fato de homens/meninos gays assumirem posição central e de liderança espontânea em um grupo predominantemente heterossexual. Eu tive um sentimento parecido quando eu conheci um rapaz abertamente gay que tinha sido o presidente de uma das maiores organizações estudantis em Leuven.

Esse sentimento, que eu defino como estranhamento da realidade, não me agrada, pois ele revela que eu ainda estou num processo de desconstrução da imagem de uma pessoa homossexual e sua interação no seu meio. Imagem essa que assimilei durante a minha infância, adolescência e início de juventude, e que durante muito tempo carregou uma conotação negativa. Como essa imagem negativa sempre esteve muito mais vinculada a homens gays do que a lésbicas, o foco da minha reflexão tende, em certas partes, mais para o gênero masculino.

Durante muito tempo eu associei as palavras gay e homossexual à noção de inferioridade, de marginalização, de não adequação, de insulto, de motivo vexatório. E foi somente depois de muito tempo e vivência que eu comecei a desconstruir cada uma dessas noções negativas. Esse processo começou já no Brasil, quando eu conheci alguns homossexuais me mostraram que a minha percepção da realidade estava carregada de preconceitos e pontos para ser repensados. Mas foi depois de minha mudança para a Bélgica que esse processo de desconstrução (ou reconstrução) se acelerou. Depois de ver como a questão da homossexualidade é tratada de maneira mais leve e natural pela maioria dos grupos que eu conheci aqui, eu comecei a construir uma nova imagem de uma pessoa homossexual: uma imagem que não mais usa a orientação sexual como fator discriminatório, separador ou vexatório. Nessa nova imagem, a questão da orientação sexual é só mais um elemento que marca a diversidade de um indivíduo em um grupo e por isso não é motivo para que tal indivíduo não seja aceito de forma integral pelo grupo.

Entretanto, o meu estranhamento narrado no começo do meu texto denuncia algumas deficiências dessa minha nova imagem de uma pessoa homossexual. Com a minha nova visão de mundo, eu encaro com muita naturalidade que homossexuais sejam aceitos nos grupos em que fazem parte, mas ainda olho com surpresa quando os mesmos se tornam líderes de tais grupos.

Não quero dizer que não considere a posição de liderança legítima. Na verdade, a constatação me alegra, e mostra que estamos vendo constantes avanços da interação e contribuição de gays no seus ambientes de trabalho e de envolvimento social. Mas confesso que eu estaria muito mais feliz se a pergunta “ele é gay e conseguiu se tornar representante de todos os estudantes?” nunca tivesse que se passar na minha cabeça. E temo que essa pergunta ainda esconda resquícios de um complexo de vira-lata.






NOTA ADICIONAL E EXPLICATIVA

No final do texto eu menciono a expressão "complexo de vira-lata". O que eu quero dizer é algo que eu também vejo claramente na relação Brasil x Europa, por exemplo. Ainda temos, enquanto povo brasileiro, um certo complexo de colonizados. Damos tratamento preferencial para estrangeiros (europeus/americanos) quando eles estão no Brasil, enquanto que fora do Brasil não somos tratados assim. Por que? Porque lá no fundo alguém nos ensinou que somos inferiores. Mas lógico que dizer que alguém é inferior não é algo que se diga, então acabamos incorporando isso de uma maneira muito sutil e desapercebida, de tal forma que juramos de pés juntos que somos todos iguais. Ainda assim damos tratamento preferencial a estrangeiros no Brasil. Por que somos hospitaleiros? Em partes, sim. Mas, em grande parte, porque ainda temos resquícios do complexo de vira-lata (do complexo de colonizados). Se fosse apenas pela hospitalidade, daríamos o mesmo tratamento preferencial a estrangeiros latino-americanos e africanos. 

Voltando à questão homossexual. Depois de ter sido doutrinado que homossexuais estavam relegados à condição de marginalização, eu me dei feliz e satisfeito por alcançar um outro patamar na questão: o de ver de o quão mais justo, igualitário e livre de preconceitos é um grupo que aceita/reconhece a identidade homossexual de parte de seus integrantes. Mas minhas pretensões pararam aí. Não segui o raciocínio que, sendo igual, o membro homossexual poderia aspirar, como qualquer outro, por uma posição de líder, de figura central e representativa do grupo. Isso denuncia de que eu acharia normal homossexuais assumirem um enrustido complexo de vira-lata em grupos.

Meu raciocínio é que todos nós, homossexuais ou não, precisamos deconstruir e reconstruir (pre)conceitos. Isso é necessário para uma relação mais legítima e igualitária entre todos. Sem assumir nada. Sem complexos (seja ele de inferioridade, de superioridade, ou de vira-lata). Simplesmente deixar as pessoas serem quem elas são.

E nesse sentido isso se estende a todos: mulheres, negros, lésbicas, religiosos, ateus, etc. Se estende a todos os grupos que por determinada condição são/foram discriminadas/marginalizadas pela ditadura da maioria (ou do pensamento corrente).  




Saturday, March 23, 2013

A better man



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These lands are taken by frivolous men
who do not see further than their glasses of wine
Men full of veiled intentions 
who fight brothers for their share of the meal


They gave me water, just enough not to die 
They gave me bread, just enough not to starve
They gave me warmth, just enough not to freeze
in the lands of the just enough

  
Being born here, I should have known the rules
Having grown up here, I should have accepted my fate
Having being nowhere but here, I should have dreamt no more
but my heart dreamed of the lands beyond the woods


But then, there came the day
when your old eyes met me on the streets
 when your soft heart decided to rescue me
when your kindness met my weariness


You took me home, and gave me more than enough to drink
You cooked for me, and gave me more than enough to eat
You clothed me, and gave me a warm bed to sleep
in the bedroom of your long-missing prodigal son


You took care of me as no one had ever done before
For seven mornings, we talked about our histories, hearts and pains
For seven afternoons, you planned to build my own bedroom
For seven evenings, you dreamed of a life with your son, you and me 


 But on the eighth day, I dreamed of the lands beyond the woods anew
On the eighth day, I realized my heart had never planned to stay
On the eighth day, my heart felt in pieces to leave you alone again
On the eighth day, I hated myself for causing you another pain


Being with you, I should have wanted to stay
Having felt your paternal love, I should have wanted no other fate
Having had the days of my life, I should have dreamt of no different days
but my heart still dreamed of the lands beyond the woods


 As I leave, I have nothing to give you but my thankful words
I have nothing to leave but a sweet and sour taste in your heart
I have nothing more to ask but that you forgive me
With nothing I have arrived, with nothing but a warmed heart I go


And when I arrive in the lands beyond the woods
I will tell my new people the story of an old gentleman
whose heart and attitude will always inspire me
to be a better man.


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Saturday, March 16, 2013

Você se lembra da revolução





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VOCÊ SE LEMBRA DA REVOLUÇÃO?





Querido amigo
Você se lembra da nossa canção?
Você se lembra do brilho dos olhos?
Você se lembra da convicção de coração?
Você se lembra da revolução?


Querido amigo
Eu sei, já não contamos mais a canção
Eu sei, os olhos brilham em outra direção
Eu sei, há uma batida diferente no coração
Mas, você se lembra da revolução?


Querido amigo
Nos novos tempos, faríamos diferente
Nos novos amigos, novas influências
Nos novos sonhos, órbitas em mutação
Como você de lembra da revolução? 


Querido amigo
Ontem, eu vi bandeiras hasteadas no portão
Ontem, eu ouvi uma nova canção
Ontem, vi corpos caindo pelo chão
 E me lembrei de você e da revolução


 Meu velho amigo
Você não acredita mais na revolução
Eu sei, ela não cativa mais meu coração
Nos novos dias, cada qual com sua canção
Ontém porém, me lembrei da revolução


Nunca te vi mais bonito do que então.




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Figura: http://gartic.uol.com.br/imgs/mural/at/athos/1282516323.gif





Tuesday, March 12, 2013

Dulcinéia


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DULCINÉIA


Dulcinéia não pede desculpas, licença, nem diz obrigado
De andar seguro, malicioso e desapressado
é senhora dos seus pés, coxas, ventre, seios, e nãos
 
Filha de Vênus, abençoada por Diana
se deita com quem lhe apetece
só se levanta porém
com quem a vida se enaltece
 
Homens já lhe ofereceram fortunas
Mulheres por ela desertariam lares
 
Desapegada dos tratados sociais
Amante do prazer, do gozo e dos suspiros
 
Dulcinéia
Doce, amarga,
piedosa, voraz
 
Dulcinéia,
rogai por nós desamores!

(Desenho de Raquel Arouca)



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Sunday, March 10, 2013

Meu corpo queimando


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Eu sinto o meu corpo queimando
cada vez que a sua pele se aproxima da minha
Quem imaginaria nossos corpos assim se entrelaçando
a entrega proibida, o frio na espinha

Na madrugada o meu peito te procura
e seu estranho humor decide nossa sorte
outra vez suspiros e carícias na noite escura?
ou corpos afastados por mentes ariscas?

Você na minha vida não passa de um intruso
Não faz parte, não se encaixa
Me deixa cada dia mais confuso
  Meus valores em cheque, a culpa silenciada

Você desperta o que eu desconhecia
Mas cada manhã lhe tiro da minha vida
Na sua ausência, os delírios de mais uma carícia
E a noite traz a mais nova última recaída.    

E você ainda insiste nos meus beijos
para que tanto romantismo?
Me dê suas pernas, braços, e peitos
E acalme-se, eu gosto de você


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(Figura/fonte: http://wand.images.worldnow.com/images/20928565_SS.jpg)


Wednesday, March 06, 2013

Dos ratos

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Dos ratos nunca gostei
E com horror sempre os fitei
Assim me ensinaram a lição
do medo dos ratos do porão

Depois cresci, amadureci
coisas novas aprendi
Contudo sempre agradeci aos astros
pela minha vida livre de ratos

Mas um dia no jardim
um rato tropeçou em mim
Ele educado se desculpou 
e com um beijo saudoso me cativou

Hoje, sozinho na mesa
dos ratos admiro a beleza
Quando vejo dois ratos dançando
sinto algo por dentro queimando 

Do fogo a interrogação
com um certa inquietação

Quantos mais horrores doutrinados
também não escondem a beleza tamanha dos ratos?

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Saturday, March 02, 2013

Me Antônio


***

Não sei se vem de aquário
ou do ano oitenta e quatro
Mas pessoas me interessam
me intrigam, me atraem
me instigam, me confundem 
me inspiram,  me iludem 
me Marias
me Antônio
me distraem, me despertam  
me interessam

***


(Fonte:http://ffbjr.blogspot.be/2012/04/sombra-analise-do-conto-de-hc-andersen.html)








Friday, March 01, 2013

Carne-matéria


*****

CARNE-MATÉRIA

Os primeiros segundos de uma manhã fria
O ar gelado adentrando as narinas
O corpo se percebendo quente

A manhã fria
O corpo quente
E a carne-matéria dizendo bom dia! 

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(Fonte: http://entrealoucuraeaarte-janabrum.blogspot.be/2010_04_01_archive.html)


Sunday, February 24, 2013

Sabem-me a pouco


***

Meias 
pessoas
Meias 
intenções
Meias 
promessas
de uma meia conversa

Meias 
verdades
Meias 
entregas
Meios 
convites
de uma meia-noite

Me 
distraem
mas 
sabem-me a pouco.


***


(https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlppgsB34-gGNKiKzpMTfxDmdjXeAJdZhuf0a42cAna2U2omOXSGlu_7qxsTM-pqjx12P5P02__pRsPEzfzStIExYaED3DbhyqVh2cs4EWkC36jv0s3NVDZoB8b3vR5iNC9YM6/s1600/quebra-cabeca-de-rosto-c7055.jpg)

Saturday, February 23, 2013

O rubro cardápio do Olimpo


*****

O RUBRO CARDÁPIO DO OLIMPO




Das perguntas, 
uma meia certeza
A beleza, 
ela não se come na mesa

Da meia certeza,
fico a me perguntar
A venustidade,
faria ela um belo jantar?

Do jantar e da mesa,
ele, ela, e os olhares
A sobremesa,
teria ela o gosto dos manjares?

Dos olhos fitos e sadios,
corpo esguio, distinto
O dorso desnudo,
teria ele sabor de vinho tinto?

Dos desnudos delírios,
rubro cardápio
A benção do Olimpo
à beleza, ao ópio e ao arrepio.


*****


(Figura/fonte: http://noticias.band.uol.com.br/mundo/noticia/?id=100000369710)

Sunday, February 17, 2013

Underworld




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(Henri de Toulouse-Lautrec. Au Moulin Rouge. 1892/1895)


The creatures of the underworld
 in red and sequins

The people of the underworld
lovers of pleasure, dance and art

The lovers of the underworld
people, creatures

The citizens of the underworld
on stage, in search

The inhabitants of the underworld

creatures 
people
lovers 
citizens

loving
dancing
performing
searching

the world.



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Quote: "you may see me only as a drunken, vice-ridden gnome whose friends are just pimps and girls from the brothels. But I know about art and love, if only because I long for it with every fiber of my being.Toulouse-Lautrec - MOULIN ROUGE (film)

Saturday, February 16, 2013

Velho novo mundo

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VELHO NOVO MUNDO


O mundo
todo mundo
o mundo todo
todo o mundo

Tem um quê de poesia
tem cheiro de café
tem café com poesia
e pain au chocolat

O mundo daqui
tão avesso ao de então
O mundo de cá, não de lá
dali sei também que não

 Velho novo mundo, 
Tão terno, raso, profundo
tão cândido, tão leviano
em seu trato com o humano

Caro mundo, sim claro
você pode se achegar
e por hoje prometo não te julgar
em minha teimosa insistência em te fitar.



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(Fonte: http://udcfesticom.files.wordpress.com/2010/05/desenho-cafe.jpg)


Tuesday, February 12, 2013

Desapego




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DESAPEGO





Desapegos
Dez apegos
Dez pesos
Dez medos

Cada partida
Cada despedida
Cada pessoa percebida
Cada lição não aprendida

da vida sem apegos
da vida de desapegos

de uma lida mais pacata
de uma sina mais barata.
  


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(Figure/fonte: http://criseterno.blogspot.be/2011/06/despedida.html)

Saturday, February 09, 2013

On the other side of the window



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ON THE OTHER SIDE OF THE WINDOW






On the cold side of the window  
it is dark, it is quiet
My strides on the ground
one note after another
move on, move on
Eyes fixed, thoughts flying
The sky and stars all around
The road, the cold, 
the dark, the feet


On the warm side of the window
it is yellowish, it is cozy
His fingers on the piano keys
one note after another
play on, play on
Eyes fixed, thoughts flying
Shelves and books all around
The lounge, the warmth, 
the lamp, the hands


The melodic feet
the running fingers
and the window,
cold and warm,
 in between.


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(Picture from: http://oneminutemusiclesson.com/wp-content/uploads/2012/07/piano-hands.jpeg)


Thursday, February 07, 2013

Palavras ao tempo


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PALAVRAS AO TEMPO


O tempo é uma estrada longa
com curvas, surpresas, 
vento na contra-mão
e coisas caídas pelo chão.

O tempo tem gente, coisas,
Tem amores, suspiros e carícias. 
O tempo tem relógio, ponteiros e compassos
invenções, desusos e percalços.

O tempo não conhece pudores
Não tem preferidos nem protegidos 
Se ao menos as palavras ele poupasse...
Mas o tempo acaricia tudo que nasce.  

O tempo desmacula os adjetivos
Traz nova música às rimas e aos verbos
Lapida, desnuda, perverte, acoberta
a beleza da palavra outrora descoberta.


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(Fonte: http://tainnavieira.blogspot.be/2011_01_12_archive.html)









Friday, February 01, 2013

VINTE E NOVE


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Vinte e nove é o final do mês
e a anunciação do que virá.

Vinte e nove é o começo frio e molhado
e a próxima estação que o tempo soprará.

Vinte e nove é a saída do quarto, 
e talvez a chegada na sala de estar.

Vinte e nove é o medo letrado
e a nova peregrinação além-mar.

Vinte e nove é o último parágrafo,
e a provocação do novo primeiro.

Vinte e nove é só um número qualquer
que exala poesia, e abraça reencontros

Vinte e nove é a despedida, a chegada 
a perda, o ganho e a reconciliação.

Vinte e nove é o novo, é o velho
é vinte e é nove. 

   
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(Fonte/figure: http://versoearima.blogspot.be/2006/12/download.html)