Comer rezar e amar (Eat Pray Love)
Há três semanas eu estava no meu quarto, por volta das 21:00 da noite, e me veio a estranha pergunta: “o que eu vou fazer agora?”. Geralmente eu tenho em minha mente uma lista de coisas para fazer e sempre me falta tempo para fazer tudo o que eu quero. Portanto, quando eu tenho um tempo vago, eu já sei de imediato o que eu gostaria de fazer naquele tempo: ligar para minha família, mandar um e-mail que eu já deveria ter escrito há muito tempo, sair para um corrida ao redor do campus, ler um livro, assistir a um seriado, estudar francês, visitar um amigo, etc. Mas naquela noite, aparentemente, não havia nada na minha lista. E como naquela noite eu não estava disposto a praticar a arte de “não fazer nada, e se entreter com isso” ou a arte de “estar em solitude e refletir sobre a vida”, eu tinha que achar alguma coisa para eu fazer.
Sem titubear muito, recorri à minha saída corriqueira em momentos como esse: assistir a um dos zilhões de filmes armazenados no meu HD externo. É sempre uma aventura/indecisão escolher alguma coisa entre tantas opções, principalmente quando todos os filmes foram copiados de amigos e nem se tem a noção de quantos ou quais filmes estão ali armazenados. Encontrar o filme para assistir naquele momento é mais ou menos como entrar no quarto bagunçado de alguém para procurar alguma coisa. Mas, nada que um pouco de paciência e investigação não resolvam. Naquela noite, no entanto, a busca se revelou rápida. O título “Eat Pray Love” saltou ao meus olhos quase que de imediato. Como eu tinha a vaga lembrança de já ter ouvido falar desse filme, resolvi dá-lo uma chance.
Não vou comentar muito sobre o filme, pois odeio quando pessoas me contam detalhes de filmes que eu ainda não assisti. Mas, em linhas gerais, o filme conta a história de Elizabeth Gilbert (ou Liz, como ela é referida durante todo o filme), que depois de sofrer algumas desilusões na sua vida e passar por momentos muito difíceis, resolve tirar um ano de sua vida para viajar à três países (quatro meses em cada país), numa tentativa de encontrar a si mesma. Com um objetivo em mente para cada um dos países destino, Liz vai em busca de novas experiências e aprendizados, de modo a achar/retomar equilíbrio em sua vida. E o mais interessante de tudo isso é que o filme é baseado no livro autobiográfico de Gilbert, de mesmo título.
Durante as 2 horas e 13 minutos de filme, eu me senti totalmente mergulhado na história de Liz. É incrível quando você se encontra numa música, filme ou livro. É sempre uma experiência reveladora e inspiradora. E foi isso que aconteceu durante o filme; por muitas vezes eu podia sentir em minha pele as experiências vividas por Liz. Os ápices do meu contentamento com o filme vinham sempre quando havia alguma citação do livro, o que me fazia me identificar de forma muito especial com a personagem (real) da história. E eis a minha citação preferida, daquelas contidas no filme:
"I’ve come to believe that there exists in the universe something I call 'The Physics of The Quest'– a force of nature governed by laws as real as the laws gravity or momentum. And the rule of Quest Physics maybe goes like this: “If you are brave enough to leave behind everything familiar and comforting (which can be anything from your house to your bitter old resentments) and set out on a truth-seeking journey (either externally or internally), and if you are truly willing to regard everything that happens to you on that journey as a clue, and if you accept everyone you meet along the way as a teacher, and if you are prepared – most of all – to face (and forgive) some very difficult realities about yourself….then truth will not be withheld from you.” (Liz Gilbert)
Minha tradução para a citação:
“Eu cheguei a conclusão que existe no universo algo que eu chamo “A Física da Busca” - uma força da natureza governada por leis tão reais quanto a lei da gravidade e a lei da quantidade de movimento linear. E a regra da Lei da Busca é mais ou menos assim: “Se você for valente o suficiente para deixar para trás tudo o que lhe é familiar e confortável (o que pode ser algo desde de sua casa até os seus ressentimentos amargos) e iniciar uma jornada de busca verdadeira (externamente ou internamente), e se você estiver realmente disposto a considerar tudo que acontecer com você durante essa jornada como uma pista, e se você aceitar a todos que você encontrar no caminho como professores, e se você estiver preparado – acima de tudo – a enfrentar (e perdoar) algumas difíceis realidades a respeito de você mesmo... então a verdade não será negada a você” (Tradução livre da citação do livro de Elizabeth Gilbert)
A razão de eu ter me identificado de maneira tão grande com o filme (especialmente com essa citação) e com o livro (o qual comprei e estou “devorando” no momento), é que a busca de Gilbert em muitos aspectos se assemelha à minha busca pessoal. O real motivo pelo qual eu deixei o Brasil, amigos e família, há três anos atrás, e vim fazer doutorado aqui na Bélgica, foi esse meu desejo interno, mais forte do que eu mesmo, de me entender, de entender o mundo ao meu redor, e entender o meu “eu” nesse “mundo ao meu redor”. Busca essa que parece bonita e poética quando descrita de maneira tão elegante por Gilbert (como na citação acima) – o que de fato é, mas que passa por momentos de desconforto, inquietações e muitas perguntas. Mas, sem muitas delongas nos aspectos positivos e negativos dessa busca, o que tenho a dizer é que ter iniciado essa jornada foi uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida.
Na verdade todos nós estamos em jornadas pessoais; cada qual com as suas características e peculiaridades. E espero que vocês possam acompanhar parte da minha por meio deste blog.
Leuven, 12 de junho de 2011
Du