Wednesday, December 19, 2012

O décimo cigarro


Elisa acabou de fumar o seu décimo cigarro às quinze para às onze da manhã. Nos últimos dia ela tem ficado assim, na penumbra; iluminada apenas por valentes raios de sol que adentram o quarto pelas frestas da janela. O telefone toca de vez em quando, mas sempre cai na caixa postal. Perto da porta permanecem as correspondências não abertas, a conta de luz e a de telefone. E, ali bem perto da porta: um pequeno envelope azul turquesa. Ele ali se acomodou antes de ontem às quatro da tarde. Elisa já se perguntou algumas vezes a respeito do seu conteúdo. Talvez seja um cartão de natal da Tia Catarina, ou um bilhete do Francisco dizendo que desistiu de se casar. Mas também pode ser o troco do dinheiro do condomínio do mês passado. Enfim, o envelope terá que esperar, porque Elisa ainda quer esperar. Muitos não iriam acreditar. Elisa, aquela que nunca esperou por nada ou por ninguém, há alguns dias resolveu esperar. Ou pelo menos, ela parece esperar. Ela fica ali, deitada na cama, olhando o ventilador no teto do quarto dispersar a fumaça de seu último trago. Se Elisa quisesse falar talvez ela confessaria que ela mesma não compreende a razão do seu esperar. Entre um cigarro e outro ela come chocolate, escreve poemas, e assiste filmes eróticos. De vez em quando ela chora e tem vontade de gritar. Mas depois ela se recompõe e respira profundamente, e num suspiro ela parece a si mesma dizer: você tem é que esperar.


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