Saturday, August 20, 2011


Do meu interesse pela Segunda Guerra Mundial


Quando criança, entre muitas coisas que me aterrorizavam, um dos meus pesadelos era pensar que quando eu completasse 18 anos eu seria convocado para servir ao exército. Não que eu tivesse muitas razões para temer ser convocado, vindo de uma pequena cidade como Jacutinga – onde todos são dispensados. E não que tivesse ouvido muitas histórias para acreditar que minha vida se tornaria um inferno se eu de fato fosse convocado. Mas eu simplesmente preferia acreditar que seria melhor que o mundo acabasse do que ter que ir ao exército, sem falar na remota – mas temível – possibilidade de ter que ir para a guerra e ter que matar para sobreviver.

Depois de quase duas décadas algumas coisas ainda não mudaram. Olhando para trás não acredito que ter servido ao exército teria sido uma boa experiência na minha vida, embora ouça com profundo respeito e admiração algumas histórias de pessoas que serviram nas forças armadas. E continuo acreditando que eu não seria um bom soldado. Na verdade eu tenho certeza que se um dia eu fosse para a guerra, eu com certeza morreria em um dos primeiros combates. E não digo isso por exagero e por medo. Na verdade como a idéia de ir para guerra, ou mesmo estar em guerra, vive num quarto muito remoto da minha mente, esse pesadelo da minha infância foi deixado no passado. Digo isso mesmo porque eu sei das minhas aptidões e da falta delas também.

Mas algo que definitivamente mudou foi o meu interesse pelas guerras. Em especial, pelas duas guerras mundiais. Mais especificamente ainda, pela Segunda Guerra Mundial. Depois de ter passado 25 anos da minha vida totalmente alheio a esses dramáticos e tristes acontecimentos históricos, um profundo interesse foi despertado dentro de mim para tentar entender o que realmente aconteceu em nossa história nesse passado não tão distante. Um interesse que veio devagar, sem avisar. Mas que provavelmente vem do fato de eu ser um pouco mais confrontado com isso vivendo aqui na Bélgica do que no Brasil.

Uma das primeiras vezes que senti imerso na história da Segunda Guerra foi quando eu visitei a casa que Anne Frank e sua família usaram como esconderijo para tentar escapar da perseguição nazista. Eu estava em Amsterdam com uma amiga e resolvi visitar o local, já que a visita constava como uma das atrações turísticas no meu guia. Eu entrei no local com uma quase completa ignorância de quem Anne Frank tinha sido, e saí do local realmente impressionado com a história. Depois disso “devorei” o livro contendo o diário escrito por Anne Frank durante o período no esconderijo.

Depois disso, o meu interesse por entender a Segunda Guerra Mundial só cresceu. Eu visitei o campo de concentração que foi usado na cidade de Dachau, que fica nos arredores de Munique. Lá pude entender um pouco mais sobre à que terrível situação judeus e outros prisioneiros foram submetidos. Não tem como não se impressionar. Eu também visitei um museu sobre a Primeira Guerra Mundial aqui na Bélgica, o que me ajudou a entender melhor a conjuntura política e econômica que levaram o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Mas foi mesmo depois de ler o livro “A História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial” - que ganhei de uma amiga na minha última visita ao Brasil, que eu consegui entender melhor como a guerra se desenrolou. É um livro que certamente recomendo. Eu gostei tanto do livro que eu li tudo em uma semana ou menos. Minha tia ficava fazendo piadas se todo conhecimento do livro estava entrando na minha cabeça, porque eu não mais desgrudava do livro. E eu sempre respondia que sim, tentando reproduzir com as minhas mãos o conhecimento saindo do livro e entrando entrando na minha mente.

Meus últimos dois achados a respeito da Segunda Guerra são duas minisséries de TV produzidas pela HBO: “Band of Brothers” e “The Pacific”. A primeira delas, e a melhor na minha opinião, foi produzida em 2001 e acabei de ver na internet que ela foi exibida pela Band em 2010 com o nome “Irmãos de Guerra - Band of Brothers". Essa minissérie relata algumas das mais importantes batalhas do exército americano em solo europeu. The Pacific foi lançado no ano passado no Estados Unidos, e segue a mesma linha de Band of Brothers, mas relatando as batalhas da marinha americana contra os japoneses no Pacífico. Cada minissérie tem 10 episódios e vale a pena assistir para entender um pouco melhor quão cruel e triste uma guerra pode ser. É claro que a história é contada da perspectiva dos americanos, então acho que também vale a pena assistir ao filme "Letters from Iwo Jima" (Cartas de Iwo Jima). Com esse filme pode ser ter uma visão mais humanizada dos japoneses e enxergar o outro lado da linha de combate.

Como o meu interesse pela Segunda Guerra não termina com esses livros e filmes, estou sempre a procura de novos livros, filmes e séries interessantes sobre o assunto. Então dicas são sempre bem vindas.

Estou postando o trailer das minisséries da HBO e do filme Cartas de Iwo Jima.










Leuven, 20 de agosto de 2011.
Du

Friday, August 19, 2011

Quando te vi


Da primeira vez que eu te vi

ouvi você falar de Webber e Marx

nossa dessintonia era tamanha

que muito pouco entendi

e você tão articulada nem me notou ali


Da segunda vez que eu te vi

tínhamos os olhos em lugares distintos

mas por coincidência ou destino

eu esbarrei na sua surpresa

e por segundos pensei entender sua natureza


Da terceira vez que eu te vi

você simplesmente apareceu por ali

e eu cumprindo o meu dever

sem titubear ou hesitar

nem percebi seus olhos a me estranhar


Da quarta vez que eu te vi

nossas vidas já eram parecidas

até conselhos eu te pedi

sem ao menos desconfiar

o que futuro estava a nos reservar


Pela centésima vez que eu te vi

do começo ao fim você me entendia

choramos, rimos, nos declaramos

fui por vezes exagerado

de tão feliz ao seu lado


Da primeira vez que não te vi

um pedaço de mim se partiu

sem saber o que fazer

com olhos embaçados tentei te achar,

mas só podia mesmo era soluçar


Da segunda à quarta vez que não te vi

Tentei não sentir a sua ausência

senti você indo embora

nossa sintonia enfraquecendo

meu medo de te perder crescendo


Pela centésima vez que não te vi

a saudade não mais doía

suas lembranças se tornaram doce

na sua ausência você me fez forte

e nada mais culpei por nossa sorte


Hoje que ainda não te vejo

converso com você no silêncio

escrevo cartas de tinta imaginária

a certeza do ontem me compraz

e com o hoje e o amanhã me deito em paz.


Du

(Leuven, 19 de agosto de 2011)

Sunday, August 07, 2011

Cavalgando no mundo das idéias despretensiosas


Quando pequeno, eu costuma passar boa parte das minhas tardes criando histórias de lutas e batalhas com meus brinquedos. Dinossauros, super-heróis e vilões habitavam o meu mundo de fantasia. Eu costumava me entreter por longas horas com meu brinquedos, somente deitado na cama dos meus pais, ou brincando no tanque da lavanderia – em dias de histórias envolvendo aventuras aquáticas.


É incrível essa tendência para a fantasia que apresentamos em nossos primeiros anos de existência nesse mundo tão real. E é também uma pena que com o passar dos anos vamos perdendo, pouco a pouco, essa habilidade tão lúdica e divertida.


Mas, vez ou outra, meus pensamentos ainda conseguem encontrar maneiras de me entreter com planos e “fantasias” que nascem sem muita pretensão de serem concretizados. Apenas idéias que são gostosas de serem saboreadas em momentos em que me sinto um pouco entediado, ou quando tenho que ficar por um período sem falar com ninguém. Ou simplesmente quando eu vejo ou ouço algo que serve de “combustível e alimento” para meus pensamentos.


Na minha última viagem pelo "meu mundo de idéias sem pretensões de nascer" eu estava imaginando o quanto seria interessante se eu tivesse um cavalo como meu fiel escudeiro. Um cavalo como o cavalo do Zorro, ou o Cavalo de Fogo da Princesa Sara – para aqueles que ainda lembram do desenho animado da década de 80. Um cavalo com o qual eu pudesse viajar de um lugar para o outro, como as pessoas sempre faziam antigamente. Um cavalo com o qual eu tivesse uma forte sintonia. Um cavalo real, sem asas nem chifre na testa. Tão pouco falante como o Cavalo de Fogo. Apenas um cavalo.


Mas é claro! Existem muitos tipos de cavalos. E como seria o meu? Hum, essa é uma questão difícil de responder. Eu sei que eu gostaria de um cavalo imponente, forte. Grande como os cavalos que vemos em filmes ou em exposições - que geralmente são quase duas vezes maiores que os cavalos comuns que vemos por aí. Mas o que eu ainda não consegui decidir é se eu gostaria um desses cavalos esbeltos, que parecem ser ágeis e andam elegantemente. Ou se eu gostaria um cavalo forte, desses que você vê puxando carruagens, cheios de músculos, longas clinas e pêlos nas patas.


Mas daí começo a pensar e devanear. Se eu quero um cavalo tão imponente e "poderoso" – seja ele esbelto ou com pêlo nas patas – eu preciso conhecê-lo muito bem, senão não terei chances alguma de poder cavalgá-lo. É então que eu decido que eu vou criar o meu cavalo desde o tempo em que ele ainda é um potrinho. Daí terei tempo de sobra para construir uma relação de confiança e sintonia com o meu fiel escudeiro cavalo, até o dia em que poderei montá-lo e iniciar minhas viagens com ele.


Porém, algumas questões ainda tem que ser pensadas. E se alguém rouba o meu cavalo durante uma de minhas viagens, depois de eu ter comprado um cavalo tão bonito e ter investido tanto tempo na criação dele? É claro, em tempos como os nossos sempre temos que considerar questões de segurança. E eu não sei se existe um seguro para cavalos. Mas, de todo modo, eu não gostaria de ver meu fiel escudeiro sendo levado embora por um ladrão de cavalos. Sem contar que, mesmo se sobrevivêssemos aos ladrões de cavalos, também preciso contar com o fato de que cavalgar pelas rodovias no Brasil com meu cavalo não seria uma das atividades mais seguras. Daí eu penso que talvez eu esteja muitas décadas ou séculos atrasado para querer viajar a cavalo por "terras desconhecidas".


E depois de ponderar a respeito de todas essas questões, eu digo adeus para o meu fiel escudeiro cavalo, agradecido por tê-lo tido em minha fantasia enquanto eu planejava a nossa vida de parceria. Então volto ao mundo real, onde sigo sem muitas pretensões de comprar um cavalo.


Leuven, 07 de agosto de 2011

Du