Tuesday, July 01, 2014

Segundo parto


Segundo parto



Havia alguma coisa diferente naquele dia
Eu podia sentir o ar húmido e pesado 
alargando minhas narinas
e oprimindo os meus pulmões

Eu queria que o sol me abraçasse
e com seus raios aquecessem e adornassem a minha pele
Mas, por escárnio ou vergonha,
 ele se escondeu de mim
Deixando as nuvens transparecerem a sua ausência

O barulho das ondas se lançando contra a areia
se juntava à chuva escorrendo pelo telhado
produzindo uma música amarga,
que me aprisionava no meu medo
E na minha garganta enrolava o não dito 

As janelas se espremiam
As portas de estreitavam
O chão se alargava
O teto se aprofundava

Corri para fora como uma presa que salta da boca da besta
agarrei meu guarda-chuva,
que encostado na porta,
parecia anunciar a minha fuga enchuvarada

Ao alcançar a praia, dei descanso as minhas pernas
E o mar e o infinito silenciavam o meu grito
O guarda-chuva os meus ombros da chuva fria protegia
E minhas lágrimas, pesadas e postergadas, regavam os meus pés cansados

Havia o mundo me abandonado?

Foi quando eu senti um toque suave no meu ombro
uma respiração conhecida se achegando
sua presença me aconchegando

Com seus olhos, igualmente maternais e fraternais,
ela ouviu tudo naquele instante,
sem eu dizer nenhuma palavra
sem mesmo tentar articular meus lábios

Lado a lado caminhamos de volta para nossa casa
com suas portas largas e suas janelas ventilantes

Foi então que eu ouvi a rima rara
de um segundo parto
que todos os elementos desenharam pra mim!




No comments: