Wednesday, July 02, 2014

TERCEIRO

TERCEIRO

Prelúdio:

Como foi o show da Gal na virada cultural? E o show da Baby? E a música Eu sou neguinha? E o Caetano? Gil? E o Ney Matogrosso então? E a branca e a morena na praia? E o frisson? A festa de ontem? E aquele menino ali?


TOTALMENTE TERCEIRO SEXO!




O terceiro sexo
é uma interrogação
uma pergunta sem resposta
um gemido sem explicação

É selvagem na própria vontade de entender-se
Mistério rebelde no preestabelecido
É um gato pobre e lindo
que vive a ilusão do ter nascido livre

O terceiro sexo se delicia em suas camisas estampadas
na brisa mais suave e alucinante
Ao som de Gal, Baby, Caetano e Bethânia
dançam, roçam, misturam-se e profanam

 O terceiro sexo de tão terceiro
é primeiro e segundo
herdando toda a beleza e o cinismo
da combinação de dois e um

Vive a contradição de ser diferente e igual
livre e cativo
a beleza dos novos caminhos
a tristeza da reprodução do já construído

Eu olho, me curvo,
rio, choro, desprezo,
me apego, me rendo

C'est la vie?





Tuesday, July 01, 2014

Segundo parto


Segundo parto



Havia alguma coisa diferente naquele dia
Eu podia sentir o ar húmido e pesado 
alargando minhas narinas
e oprimindo os meus pulmões

Eu queria que o sol me abraçasse
e com seus raios aquecessem e adornassem a minha pele
Mas, por escárnio ou vergonha,
 ele se escondeu de mim
Deixando as nuvens transparecerem a sua ausência

O barulho das ondas se lançando contra a areia
se juntava à chuva escorrendo pelo telhado
produzindo uma música amarga,
que me aprisionava no meu medo
E na minha garganta enrolava o não dito 

As janelas se espremiam
As portas de estreitavam
O chão se alargava
O teto se aprofundava

Corri para fora como uma presa que salta da boca da besta
agarrei meu guarda-chuva,
que encostado na porta,
parecia anunciar a minha fuga enchuvarada

Ao alcançar a praia, dei descanso as minhas pernas
E o mar e o infinito silenciavam o meu grito
O guarda-chuva os meus ombros da chuva fria protegia
E minhas lágrimas, pesadas e postergadas, regavam os meus pés cansados

Havia o mundo me abandonado?

Foi quando eu senti um toque suave no meu ombro
uma respiração conhecida se achegando
sua presença me aconchegando

Com seus olhos, igualmente maternais e fraternais,
ela ouviu tudo naquele instante,
sem eu dizer nenhuma palavra
sem mesmo tentar articular meus lábios

Lado a lado caminhamos de volta para nossa casa
com suas portas largas e suas janelas ventilantes

Foi então que eu ouvi a rima rara
de um segundo parto
que todos os elementos desenharam pra mim!