Clareana e as nossas agendas
Ontem eu tive que esperar por quase duas horas pelo meu ônibus na rodoviária de Campinas. Longe de ser a costumeira e tediosa espera, o ontem teve uma surpresa agradável. Com um violão, um sorriso espontâneo, uma voz gostosa, e um repertório de música popular brasileira, um cantor fazia da minha espera (e das pessoas ali presentes) uma sobremesa que se quer saborear devagar.
Eu, mesmo achando tudo na rodoviária de Campinas um absurdo de caro, comprei um chop de meio litro, me sentei na mesa que acabara de vagar e que ficava na frente do cantor, e me rendi ao sabor do momento. Deu vontade de ficar ali, compartilhando o momento com as pessoas bem dispostas que sabiam apreciar o que estava acontecendo ali.
Foi então que o cantor - que depois procurei saber o nome e se chama Carlos Cama - nos presenteou com a música Clareana, da cantora Joyce e que ficou entre as cinco músicas finalistas do Festival da Nova Música Popular Brasileira no início da década de 80. Ele ainda comentava sobre a cantora Joyce quando ouviu um pedido da música Homem Aranha do Jorge Vercillo. O cantor, mantendo sua simpatia, olhou para a pessoa e perguntou "Mas você ouviu o que eu acabei de falar sobre a cantora Joyce?". Diante de um provável gesto de confirmação da pessoa - que eu não cheguei a ver, o cantor continuou "É porque eu achei que você não tinha ouvido", antes de emendar uma linda interpretação da música pedida.
Eu fiquei pensando em duas coisas. Primeiro, em como alguém consegue ser tão direto e tão simpático ao mesmo tempo. Segundo, em como a nossa preocupação de manter as nossas agendas pode nos privar de surpresa de novos sabores, de mel de melão, de sim e de não.
3 comments:
Já dizia Guimarães Rosa: "Felicidade se acha é em horinhas de descuido". :)
Já dizia Guimarães Rosa: "Felicidade se acha é em horinhas de descuido". :)
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