Sunday, February 09, 2014

Nos seus braços


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Nos seus braços





Tem pessoas que, como eu,
gostam de subir em pedras

Só para olhar lá de cima
Só para sentir o vento
Só para sair da mesmice
Só para fingir de poeta
Só para sentir o carinho do sol

Tem dia que a gente sobe na pedra
e deixa a roupa enroscada no caminho

Tem vezes que a gente se afoga no suor
e se deixa arranhar com os arbustos

Tem horas que a gente chega no topo
com vontade de descer

Cansado, nu, suado, arranhado

Então eu vejo você
Reconheço os seus braços
Seu olhar inquieto
E um jeito seu
que alarga o meu peito
o meu riso

Então, eu caio para você
cansado
nu
suado
arranhado
leve

nos seus braços!


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Figura/fone: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfe0u8ZWGtPt7VFL22weVBRh5gL9gf2RQ5gl8MkfNW0jpxPR7aDhLJmIoljdHJVSwRaYZe4X6cR0U1jwT83IvK_r_SArngoU-1R0FyVtfkndxuxlTfBUl6qNKvdcmO7TMDtkTk7Q/s1600/pedra.jpg


    

Thursday, February 06, 2014

Bom dia Dona Felícia


Bom dia Dona Felícia


Bom dia Dona Felícia
Pode chamar de Dona?

Chama só de Felicia,
Senão parece que eu sou muito velha
Mas eu tenho quase oitenta anos já

Bom dia Felícia
A senhora quer um pedaço de bolo?
Eu fiz aniversário
Trinta anos

Nossa, trinta aninhos
A vida começa aos quarenta
Vou rezar uma ave-maria, um pai nosso 
e rezar para o seu anjo da guarda

Reza sim Felícia

Sabe que eu tenho setenta e nove anos?

Mas a senhora está moça ainda,
cheia de energia
Até a calçada do meu prédio eu vi a senhora varrendo
e a rua também

Bom dia Felícia
A senhora prendeu o cabelo hoje?
Está bonitona

Hoje eu resolvi colocar as minhas presilhas
para prender o cabelo
daí não fica caindo no rosto

Bom dia Felícia
Eu comi a manga que a senhora me deu
Estava uma delícia

Ai que bom, meu amor
Tenha um bom dia
e vai com Deus, meu anjo


Saturday, February 01, 2014

Clareana e as nossas agendas



Clareana e as nossas agendas






Ontem eu tive que esperar por quase duas horas pelo meu ônibus na rodoviária de Campinas. Longe de ser a costumeira e tediosa espera, o ontem teve uma surpresa agradável. Com um violão, um sorriso espontâneo, uma voz gostosa, e um repertório de música popular brasileira, um cantor fazia da minha espera (e das pessoas ali presentes) uma sobremesa que se quer saborear devagar.     

Eu, mesmo achando tudo na rodoviária de Campinas um absurdo de caro, comprei um chop de meio litro, me sentei na mesa que acabara de vagar e que ficava na frente do cantor, e me rendi ao sabor do momento. Deu vontade de ficar ali, compartilhando o momento com as pessoas bem dispostas que sabiam apreciar o que estava acontecendo ali.

Foi então que o cantor - que depois procurei saber o nome e se chama Carlos Cama - nos presenteou com a música Clareana, da cantora Joyce e que ficou entre as cinco músicas finalistas do Festival da Nova Música Popular Brasileira no início da década de 80. Ele ainda comentava sobre a cantora Joyce quando ouviu um pedido da música Homem Aranha do Jorge Vercillo. O cantor, mantendo sua simpatia, olhou para a pessoa e perguntou "Mas você ouviu o que eu acabei de falar sobre a cantora Joyce?". Diante de um provável gesto de confirmação da pessoa - que eu não cheguei a ver, o cantor continuou "É porque eu achei que você não tinha ouvido", antes de emendar uma linda interpretação da música pedida.

Eu fiquei pensando em duas coisas. Primeiro, em como alguém consegue ser tão direto e tão simpático ao mesmo tempo. Segundo, em como a nossa preocupação de manter as nossas agendas pode nos privar de surpresa de novos sabores, de mel de melão, de sim e de não.