Friday, February 23, 2007



É incrível como a agitação do dia a dia, os prazos apertados, as responsabilidades, os deveres e o peso que muitas vezes nós mesmos colocamos sobre nossos ombros tem o poder de obscurecer e ofuscar nossa visão da vida. Esquecemos que temos alma, esquecemos que a vida é tão rara.

Parece que nossa vida depende de nossas realizações, “a gente espera do mundo, o mundo espera de nós” [1]. E de quando em quando descobrimos que só estávamos correndo atrás do vento. Mas, depois corremos de novo, atrás daquele que nunca alcançamos, do vento. Uma busca vã, sem sentido, vazia.

É, talvez por isso mesmo que muitas vezes nos sentimos ocos, secos, vazios. Mesmo depois de acumular alguns troféus, empoeirados pela estrada da vida. Mesmo depois de conseguirmos convencer as pessoas e a nós mesmos da nossa responsabilidade, dedicação, empenho.

A cortina tapa o céu azul lá de fora. Ouço teclados, mas o som não é música. Gente trabalhando. Vejo rostos preocupados. O ombro dói. Gente preocupada com o futuro, gente preocupada com o amanhã. Gente preocupada com hoje a noite. E será que a gente só queria um abraço?

No nosso peito pulsa vida. Tanta vida. Será que ainda vamos demorar muito para perceber? Será que deixaremos a vida ser ameaçada para dar valor a ela? Será que seguiremos ainda achando que as pessoas dormindo pelas calçadas fazem parte da paisagem de nosso caminho para o trabalho? Barateamos e vulgarizamos a vida e, conseqüentemente, todo ser vivo. Nossos valores estão invertidos.

Minha alma quer apreciar a leveza dos bailarinos, a sensibilidade do poeta, a criatividade dos músicos. Quero saber da ousadia do revolucionário, da voz do profeta, dos ouvidos que conseguem escutar “uma barriga roncando, uma mamãe chorando” [2]. Afinal, não escutamos pois fazemos "muito barulho por nada". Quero aprender da inocência da criança, do vigor da juventude, da sabedoria da velhice. Continuar acreditando nos suspiros apaixonados e nos amores desinteressados.

E a gente volta à rotina. De quando em quando pensamentos raros como este escapam pelas brechas e tomam de novo conta da mente. A gente repensa a vida e sonha em talvez um dia valoriza-la como se deve. “A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva” [3]. E os ombros ainda doem.

[1] Paciência - Composição: Lenine e Dudu Falcão

[2] Gilmarley Song - Composição: George Israel / Paula Toller

[3] Roda Viva - Composição Chico Buarque





“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para


Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara


Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o m

undo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede u

m pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não...a vida não para)”

(Paciência - Composição: Lenine e Dudu Falcão)




Bomba, avião, helicóptero
para ocupar território
e deixar ao deus-dará
outras tragédias não soam
outras tragédias não soam
barulho...barulho...
muito barulho por nada
por nada no futuro
vamos falar mais baixo
vamos parar pra escutar
uma barriga roncando
uma mamãe chorando
vamos ouvir a noite cair
e o sol ajudá-la a se levantar
bumbo, violão, pandeiro
para animar o auditório
e ir pra casa em paz e feliz
outra beleza não há
outra beleza não há
silêncio! silêncio!
façam silêncio
ouçam Gilmarley cantar
vamos falar mais baixo
vamos parar pra escutar
o bum-bum do tambor
um abacateiro em flor
vamos fugir da solidão
gandaia, realce, reggae e baião
outra beleza não há...

(Gilmarley Song - Composição: George Israel / Paula Toller)







Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

(Roda Viva - Chico Buarque)

Thursday, February 01, 2007

Como uma criança....

(Olive – Filme: Little Miss Sunshine)

Se hoje me pedissem uma dica de filme, com certeza diria Pequena Miss Sunshine. Uma boa comédia, dessas difíceis de se ver. Mas não vou falar do filme, afinal não existe coisa mais chata do que gente contando filme, principalmente quando a gente não assistiu.

Mas vendo o filme, a pequena Olive me fez pensar sobre muitas coisas. Em meio a uma família no mínimo doida, ela é assim, uma criança. Do jeito de ser simples e honesto, e ao mesmo tempo não superficial. É claro que com o bombeamento de informações, boas e más, manipuladoras ou não, nem sempre se encontram crianças assim. Mas a pequena Olive me fez visitar a criança que ficou lá trás, debaixo de muitos dias, meses e anos que joguei sobre ela.

Umas das coisas que me veio à mente enquanto via o filme, foi a passagem Bíblica que Jesus pede para que os discípulos deixem as crianças se achegarem a ele. É, crianças!!!

“Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse; mas os discípulos, vendo isso, os repreendiam. Jesus, porém, chamando-as para si, disse: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de modo algum entrará nele”.
(Evangelho de Lucas, Capítulo 18, versos de 15 à 17)

Nessa busca e reconciliação com a criança que existe dentro da gente, deixo aqui dois depoimentos que eu retirei do filme “Doutores da Alegria”. É muito massa ver como as figuras da criança e do palhaço se casam bem. Deixo também uma música intitulada “oito anos”, composta por Dunga e Paula Toller. Na musica os autores “se contentam em brincar com as perguntas”. Assim como a criança e o palhaço. E daí me vem a frase do Fernando Anitelli “Por que a gente é desse jeito? criando conceito pra tudo que restou”.


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(Depoimentos dos doutores da alegria)

“A essência do arquétipo do palhaço é a criança. Porque a criança é um ser que é livre de preconceito. Ela não prisioneira nem da lógica nem da razão. Para a criança não existe o ridículo. Ela só vive no presente. Não faz planos. Você vê... Ela é sempre 'O Pai.. eh quero isso aqui agora.. é já' Ela só vive aquele presente. E a gente para se relacionar com o outro sempre precisa de um rótulo. A gente sempre precisa de um preconceito.. de fazer um juízo daquilo. E a criança e o palhaço não. Eles tem incondicionalidade na sua maneira de lidar com o outro”.

“E por que que a gente escolheu o palhaço para trabalhar com essa questões? É porque talvez o palhaço seja o personagem mais apto a não trabalhar com as respostas. Ele se contenta em brincar com as perguntas assim...”


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Por que você é flamengo
E meu pai botafogo?
O que significa
"impávido colosso"?

Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?

Por que os dedos murcham
Quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo?

Quanto é mil trilhões
Vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo?
Onde estão meus primos?

Well, well, well
Gabriel...

Por que o fogo queima?
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda?
Por que deitar agora?

Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?

Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?

Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Ré...vei...llon

Well, well, well
Gabriel...

(Composição: Dunga / Paula Toller)



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É isso aí..
Bom resgate da criança

Du