É Clara

É Clara

Clara, modesta que só,

só tinha olhos é pra João

Braços fortes

peitos fatos

um sorriso desses que só tem no Pará

Clara, atenta que só,

espiava cada passo de João

O jeito brincalhão

Os suspiros que arrebatava

das meninas bonitas na praça

Clara, atinada que só,

procurava o desejo de João

Era o cabelo encaracolado

a saia rodada requebrando

ou o batom vermelho da cidade?

Clara, impulsiva que só,

quis ser uma menina de João

Mudou pra cidade

quebrou o porquinho

comprou um batom rosa

E nunca mais quis saber de João.

Mogi Mirim

19 de março de 2019

Tanta vida, tanto canto

Hoje eu ouvi seu canto

por todo canto ele me arrepiou

meu corpo se mexeu de um tanto

que no mesmo tanto você me notou

Pensei então no seu pranto

que noutro canto você derramou

Pensei então no seu lamento

que noutro tempo você despejou

Ontem nem sabia do seu canto

que nesse canto nota nenhuma chegou

Mas sim, ele existia no entanto

no mesmo tanto que hoje me tocou

Há tanta vida, 

tanto canto

noutros cantos

noutras vias

Vida que não vejo, 

sinto também não

É vida em todo canto

que não cabe em canto algum

Mogi Mirim, 12 de março de 2019

Foto: Lucas Batista (Projeto Habitat)