Friday, June 01, 2007

Metade de mim agora é assim......



Há algum tempo abaixo ouvi a música Hand In My Pocket de Alanis Morissette (letra abaixo) e achei muito interessante. Ela fala um pouco de como às vezes me sinto, um amontoado de paradoxos. Pensamentos que volta e meia são recorrentes para mim. Mas o que é engraçado (se é que essa é a palavra certa para expressar o que eu quero dizer), é que ultimamente olhar par a questão dos paradoxos tem estado dissociado do peso e da carga que costuma estar ligada. Mas não seria esse então mais um paradoxo? Deveriamos fugir deles?

I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy, yeah
I'm high but I'm grounded
I'm sane but I'm overwhelmed
I'm lost but I'm hopeful baby

An' what it all comes down to
Is that everything's gonna be fine fine fine
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving a high five

I feel drunk but I'm sober
I'm young and I'm underpaid
I'm tired but I'm working, yeah
I care but I'm restless
I'm here but I'm really gone
I'm wrong and I'm sorry baby

An' What it all comes down to
Is that everything's gonna be quite alright
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other is flicking a cigarette

And what is all comes down to
Is that I haven't got it all figured out just yet
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is giving the peace sign

I'm free but I'm focused
I'm green but I'm wise
I'm hard but I'm friendly baby
I'm sad but I'm laughing
I'm brave but I'm chicken shit
I'm sick but I'm pretty baby

And what it all boils down to
Is that no one's really got it figured out just yet
I've got one hand in my pocket
And the other one is playing the piano
What it all comes down to my friends
Is that everything's just fine fine fine
'Cause I've got one hand in my pocket
And the other one is hailing a taxi cab...
(Hand In My Pocket- Alanis Morissette)

Na verdade, acredito eu, todos nós carregamos alguns paradoxos dentro da gente. Sentimentos que às vezes são ambíguos ou mesmo se contrariam. Na verdade acho que nossa maior fuga dos paradoxos é porque buscamos nas nossas certezas absolutas o fôlego para continuar em frente. Na verdade acreditamos que se não nos questionarmos, se as respostas estiverem sempre na ponta da língua, se não houverem conflitos, teremos nossa identidade assegurada. Identidade baseada, muitas vezes, na superficialidade da existência.

É certo que devemos complicar menos. Então, não acredito que devemos caminhar em direção aos conflitos, ou que devemos inventar conflitos. Apenas acredito que podemos encarar as coisas com muito mais leveza a medida que pararmos de mentir para nós mesmos a respeito do nossos reais conflitos e ambiguidades. Talvez assim pudessemos olhar para a palavra PARADOXO e não encará-la com a carga negativa que a atribuímos hoje. E talvez assim poderiamos parar de fugir de nós mesmos. Mesmo porque, por mais que usemos máscaras e tapemos nossas rugas com maquiagem, é certo que não conseguiremos fugir de nós mesmos. Pois como diz em um verso de uma música que ouvi em certo show, "tentei fugir de mim, mas para onde eu ia eu tava".

Um escritor que me chamou a atenção ultimamente pelo seu jeito peculiar de encarar as coisas e a si mesmo é o Brenna Manning. Mesmo as opniões sobre eles são um paradoxo - alguns amam, outros torcem o nariz. Mas algo que para mim tem sido libertador, é perceber que admitir-se na integridade do que se é, não é neccessariamente um atestado de insanidade. Quando digo admitir-se, isso tem muito mais a ver com a relação que temos com nós mesmos, do que com essa ou aquela postura que tomamos diante dos outros com o intuito de nos afirmarmos ou então nos expormos.

"admito que sou um amontoado de paradoxo. Creio e duvido, tenho esperança e sinto-me desencorajado, amo e odeio, sinto-me mal quando me sinto bem, sinto-me culpado por não me sentir culpado. Sou confiante e desconfiado. Honesto e ainda sim insincero. Aristóles diz que sou um animal racional; eu diria que sou um anjo com um incrível potencial para cerveja"
(Trecho do livro "O Evangelho Maltrapilho" - Brennan Manning)

Na verdade a questão chave é que nossa identidade não está na ausência ou na presença de conflitos. Logo nossa felicidade e significado também não se encontram em nenhuma dessas duas coisas. Nossa identidade é criada e firmada naquilo que se constitui na essencia da nossa existência. E nossa essência só pode ser encontrada naquele em que subexistimos, Jesus. Só ele pode nos conferir nossa real identidade. E é nessa identidade que devemos no firmar para continuar caminhando. Caminhada essa que passa então a ser marcada pela questão do seu real significado, embasada no que realmente confere sentido à nossa existência e não no fato de termos respostas para tudo, pois isso seria no mínimo loucura. Não temos todas as respostas, na verdade ás vezes temos bem poucas, bem menos do que gostaríamos de ter. Como olhamos para isso? Devemos fingir ter as respostas e continuar caminhando com a consciencia tranquila?

Realmente acredito que a vida pode ser levada com mais leveza. E isso não significa nem superficialidade, nem alienação, nem irresponsabilidade e nem fuga. Leveza tem a ver com sinceridade - com a gente mesmo e com Deus, integralidade e sobretudo com a confiança de que o nosso foco e esperança devem estar em Cristo e não em qualquer outra coisa, seja ela uma aparente paz ou um conjunto de pretensas respostas para tudo.

Dessa forma, termino essa reflexão sem a pretensão de trazer muitas conclusões e respostas. Deixo apenas mais duas composições que acredito que podem contribuir bastante para essa discussão: a poesia METADE do Oswaldo Montenegro e um trecho da música O ANJO MAIS VELHO do Teatro Mágico.

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
(Metade - Oswaldo Montenegro)


“Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim”
(Trecho de "O Anjo mais velho" - Fernando Anitelli)