Friday, March 30, 2007

O milagre que eu esperei nunca me aconteceu!!!!


Essa semana estou chengando a conclusão de que às vezes o milagre que queremos dificilmente acontece, pois muitas vezes queremos algo que nos leve para longe de nós mesmos. "Cada um sabe da dor traz no coração" e é exatamente lá que queremos mexer... que queremos nos afastar. Mas talvez não pensemos que possam ser as lágrimas derramadas por essa dor que alimentem a circulação sanguínea daquilo que realmente somos, o sangue que nos deixa de pé. Se pudessemos com certeza fugiríamos de nós mesmos, porque muitas vezes somos tão vis que se torna bem difícil conviver com a gente mesmo. E realmente é. Talvez porque estejamos tão ocupados em representar algo que não somos ou querer ser algo tão longe daquilo que somos.
Possivelmente concordemos lá em nosso íntimo com o velho Hagar.



Triste sina essa de encontra-se rejeitado por nós mesmos. Por isso, como Francisco de Assis, "eu oro por uma santa humildade, a habilidade de ver e aceitar a mim mesmo como sou". E na verdade isso só é possível mesmo por que simplesmente somos aceitos por aquele que nos criou, Deus. Ele nos ama mesmo na nossa busca incessante pela fuga, que nos faz até perder de vista aquilo que realmente somos. E é nele que encontramos o referencial para a reconciliação como nosso eu. "A fé significa que o ser, ao ser ele mesmo e desejar ser ele mesmo, descansa transparentemente em Deus" (Kierkegaard, In. Mentoria Espiritual).

"Ele [Deus] é amor, e a extensão do seu amor vai até a graça. Está disposto a perdoar os que o odeiam e descobrir um meio de abraçar os sujos e pequenos maltrapilhos. Ele na verdade os ama - e nós somos eles" (Larry Crabb - Chega de Regras - pag 154)

A nós, maltrapilhos, sejam os conselhos dos poetas Anitelli e Fernando Sousa (ver abaixo). E que nessa busca pelos nós mesmos já esquecidos, não deixemos-nos esquecidos na última ESTAÇÃO. E que então encontremos a água fria do peixe vivo e a verdadeira companhia. Pois, "como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver sem a tua companhia?"


"Viva a tua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do teu valor

E amanheça brilhando mais forte
Que a estrela do norte
Que a noite entregou!"
(Trecho de Camarada Dágua - Fernando Anitelli e Danilo Souza)



"Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
O abraço de vampiro é o sorriso de um amigo e mais nada
Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
A estrela que eu escolhi não cumpriu com o que eu pedi
e hoje não a encontrei
Pois caiu no mar, e se apagou
Se souber nadar, faça-me o favor
O milagre que esperei nunca me aconteceu
Quem sabe é só você
Pra trazer o que já é meu
(x2)

Brilha onde estiver
Faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé (x2)"

(Brilha Onde Estiver - Fernando Anitelli)

Tuesday, March 27, 2007

Uma velha paixão ...

tão presente como todas as velhas paixões sempre são ...

... e um pouquinho de legião.



Giz

Legião Urbana

Composição: Renato Russo

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Está tudo bem, tudo bem...
uh...uh...


E aproveitando o clima de flores da capa dos saudosos legionários e para não dizerem que não falei das flores....

Flores, flores... que de plástico não morrem.



Para uma menina como uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Vinícius de Moraes

in "Para uma menina com uma flor (crônicas)"
in "Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor""



Wednesday, March 14, 2007


No ritmo dos loucos


"Serão os céus conspirando contra a sanidade
Decepções e frustrações vêm e vão
Mas o que fazer com um coração aflito?


Discussões inúteis, testas franzidas em vão
A cólera despertada para depois ir embora
E ainda nem sei onde entra a outra face


Queria mesmo é reinvidicar todos os meus direitos
Jogar na cara a fragilidade de todos os argumentos
Fazer-me ouvir e usar com astúcia as armas ao meu alcance
Mas ainda permanece a sombra da outra face


Ah! Meu coração quer ser cruel, sabe ser!
Talvez assim ele se sinta mais aliviado
Saborear a vingança recheada de certezas e precedentes
Malditos precedentes! Estariam eles do outro lado do tapa?


No final das contas, quero ser mesmo humano
Já que forte descobri não ser
E que esse não seja mais argumento inútil
Que se queira fazer valer



Ás vezes me resta apenas gritar
De vez enquando, de quando em sempre
Dançar a insanidade assim devagar
No ritmo dos loucos, na leveza do caminhar"



APROVEITANDO A DEIXA, UM POUCO DE LEVEZA E CALVINISMO NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM






Tuesday, March 06, 2007

Um de dois

Os suspiros apaixonados

A arrepio da pele tocada

Olhos que se encontram

Olhos que brilham


A respiração ofegante

Os pensamentos vagando

Fantasias, anseios

Encontro de almas

Dois corpos


Celebremos o amor, o calor

Celebre o seu amor, celebre o meu amor

Do amor de dois, continuemos a acreditar

Amor sempre presente

Mesmo que ausente


A beleza ao redor a se revelar

Saltitam risos espontâneos

O sol mais brilhante

Inspiração de poetas

Melodia de músicos

Olhares embevecidos

Desejo, ternura, dois, um.